OVNI já pousou em Botucatu

…nós nada podemos afirmar com absoluta certeza,nem mesmo que a tripulação do disco voador não tenha deixado algum elemento disfarçado entre nós…

Passava do meio dia (12h30 precisamente), em 1 de julho de 1968, uma segunda-feira, quando um traço de fumaça branca cruzou os céus da cidade, interrompido de tanto em tanto. A cidade imaginou, logo, tratar-se de um avião a jato. E não se falou mais nisso até que…

“Um disco voador pousou aqui em Rubião”. Foi assim que a notícia chegou à redação do Correio de Botucatu e Rádio Emissora de Botucatu, no velho edifício da Marechal Deodoro.

Tratava-se, de fato, de alguma coisa que deixara um rastro de fumaça branca e lambera os telhados de um casario antigo, nas bordas do atual campus da Unesp, tentando escapar da visão de alguns moradores, que o haviam flagrado.

O campus, àquela época, resumia-se ao prédio do antigo sanatório para tuberculosos, transformado na primeira unidade de ensino superior de Botucatu, denominada FCMBB e ao seu redor, nas imediações, um casario antigo dispunha-se em fileira, ao exemplo das antigas colônias de lavradores.

Ali moravam alguns funcionários e seus familiares, como também alguns prestadores de serviços temporários do conjunto de nossas três primeiras faculdades: Medicina, Veterinária e Biologia. E como já era 1968, também Agronomia.

Pois foi exatamente ali que pousara, misteriosa e anonimamente, o artefato voador, e dali alçara vôo, em rasante sobre os telhados das singelas casinhas de duas águas, que se postavam umas ao lado das outras, deixando atônitos todos que o haviam visto.

E foi dali que chegou o alarme na redação do jornal e da emissora de rádio.

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Pra lá, conclamou o Plínio. E pra lá foi o repórter Nenê Meluso, que depois, muito depois, viria a ser juiz da Comarca de Araraquara e hoje dá nome ao Terminal de Ônibus Interurbanos da cidade. Levou junto o fotógrafo Caricati, autor das únicas fotos que existem dos fatos.

Meninos que viram o objeto pousando e orientaram na chegada de jornalistas até o ponto em Rubião Junior. Ao fundo as obras da FCMBB/Unesp – Foto Correio de Botucatu | Foto Caricati

Àquela época não era fácil chegar até Rubião Junior. Ou se ia de trem, o que demandava ir até a Estação e esperar pelo horário para “cima”, ou então se enfrentava duas estradinhas de chão batido, que serpenteavam pela periferia mais distante da cidade, intransitáveis nos dias de chuvas; uma saindo da Vila Santana e varando os campos até atingir o atual Jardim Tropical, e outra saindo da Vila dos Lavradores e fazendo uma trajetória da hoje Av. Dante Delmanto, para depois, por trás da atual Caio/Induscar varar morros do, também atual, Jardim Centenário.

Quando ali chegaram foram logo cercados pelos moradores, e entre eles, apareceu um casal e três meninos, que haviam avistado o estranho objeto e levaram o repórter e o fotógrafo, rapidamente, para perto do lugar de “pouso”. Ali já estava um aglomerado razoável de pessoas. Comentando, olhando, apontando.

Diz a matéria veiculada em 07 de julho de 1968, um domingo, que havia no lugar três buracos “que poderiam ser o tripé de apoio do objeto” e a uma distância entre os sinais, dois outros afundamentos na areia, a que “logo imaginaram ser a escadinha” para possíveis desembarques.

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Como tudo aconteceu?

Marcas na foto indicam os pontos no chão que cederam com a pressão do objeto voador não identificado em Rubião Junior, em 1968 – Foto Caricati

Mas o repórter não viu! Porém, teve quem tivesse visto e, assim, a matéria descreveu em detalhes o encontro da moradora e dos dois meninos com o objeto não identificado, em fuga: O disco chegou voando bem baixo e foi visto a curta distância por uma senhora, uma professora aposentada residente em Rubião, que deu pouca importância, para não ser chamada de “biruta”. “O objeto era cinza, sem asas, com cúpulas em cima e em baixo, e voava inclinado ligeiramente em relação ao chão”. Porém, tendo pousado minutos depois, em outro lugar, mais ou menos umas 12h10, foi flagrado por três meninos que ali brincavam, quando já tinha “descido a escadinha central”, tendo ficado estacionado uns 20 ou 30 minutos.

Ato contínuo, quebrado o anonimato, o objeto recolheu a escadinha, alçou vôo verticalmente, levitou por alguns segundos e disparou para os lados da cidade. Então foi visto, novamente, agora por outra pessoa, uma senhora que ouviu os gritos das crianças e, saindo à janela, teve tempo de observar o que se pode chamar de “fuga” do objeto. “O seu ruído era estranho e não se assemelhava a nada.”

No curso das constatações dos repórteres, apareceu uma outra pessoa definida como “acadêmico”, com descrições mais sofisticadas e considerou que os sinais deixados no chão eram “distantes 6 metros um do outro (na base do triângulo) e um terceiro no vértice”. Definiu o formato como um triângulo isósceles, aquele em que um dos lados é maior que os outros dois. E no meio, dois afundamentos, notando compressão. A escadinha?

As crianças estavam agitadas e segundo seus pais atravessaram o dia assim. (desconhece-se se a matéria foi escrita no dia do ocorrido e se o repórter dedicou-se a procurar as testemunhas outras vezes). Algo inexplicável havia ocorrido: os adultos não estavam incrédulos e os pais dos pré-adolescentes ocupavam posição de destaque na cidade e na FCMBB para acreditar e propagar invencionices de crianças.

Não vou encerrar essa matéria dizendo que pode ter sido uma ilusão. Muitas pessoas e em horários diferentes teriam que ter tido a mesma ilusão, independentemente. Também não vou dizer que se tratou de uma histeria coletiva, pois os fatos, além de lugares diferentes, foram vistos por pessoas de idades e maturidade muito diferentes. Mas a verdade é que já se passaram quase 50 anos e continuamos no “ah éh”, ou seja, sem entender o que aconteceu. Uns já morreram, outros cresceram e residem por aqui mesmo. Mas o mistério continua!

Crianças que testemunharam o pouso do OVNI apontam para os buracos que se formaram no chão – Foto Caricati

Obs: deliberadamente não citamos os nomes dos personagens, a não ser do repórter e do fotógrafo.