A Hepatite C é uma doença silenciosa e é mortal se não for descoberta em tempo. Sua cura depende do diagnóstico precoce, antes que o vírus C, VHC, cause estragos irreversíveis ao fígado do paciente.

Numa doação de sangue, fui diagnosticada como VHC, em 1994.

Naquela ocasião, a doença ainda era um mistério e não havia um tratamento disponível. Fiquei muito mal de cabeça. O HIV era mais conhecido. Meus amigos não acreditavam no meu diagnóstico, duvidavam mesmo. Afinal, Hepatite C: como assim?

Fiz minha primeira biópsia de fígado em 1995 e fui descobrindo a doença. Sou muito curiosa e meus médicos , Dr. Carlos Caramori e Giovani Faria, sempre me responderam às questões.

O VHC mata muito mais que o HIV. Já contaminou milhões de pessoas no mundo todo. Sua contaminação ocorre pelo sangue, seja na relação sexual ou no uso coletivo de seringas. Eu sempre coloquei que o compartilhamento de canudos pra uso de cocaína também poderia ser responsabilizado. As doações de sangue anteriores a descoberta do vírus HIV também não tinham o controle que tem desde então. Assim, receber sangue em cirurgias poderia ser fator contaminante. Mesmo dentistas e manicures eram perigosos.

Podemos considerar que ambas as doenças, VHC e HIV, melhoraram muito a higiene de materiais e o controle de sangue nos hemocentros. O uso de preservativos também entrou na vida das pessoas. São ganhos que vieram das doenças.

Meu primeiro tratamento ocorreu em 1998. Foi muito agressivo, foram 112 doses de Interferon que recebi 3 vezes por semana. Emagreci 20 kilos e meu cabelo caiu. Durante o tratamento a libido foi embora e a depressão e lágrimas, sem motivo,vieram forte. Não me curei.

Entre esse tratamento e o segundo, em 2005, não parei de ficar antenada a tudo que se referia a doença.

Nessa época surgiu a Ong “C tem que Saber”, para a divulgação e encaminhamento para o tratamento da doença. Um trabalho importante, muito importante.

Os laboratórios foram desenvolvendo novos tipos de Interferon, menos agressivos.

A quantidade de pacientes contaminados e atendidos no ambulatório do HC da FMB só fez aumentar.

Mesmo assim, até hoje, o governo tem o dia nacional de prevenção ao HIV mas não tem o dia nacional da prevenção do VHC. Mesmo com toda a divulgação, mesmo com todo o trabalho da Ong, mesmo com o boca a boca, com a grande quantidade de pacientes e inúmeros óbitos, a Hepatite C ainda é uma doença de que pouco se fala.

Em 2005 não emagreci, meu cabelo não caiu e alcancei a negativação do vírus, um sucesso com o Peguilado, outra versão do Interferon.

Atualmente, a medicação é mais top, com resultado ainda mais rápido para os diagnosticados que tem menos comprometimento hepático.

Aí, na quarta-feira passada, assisto no ‘Tem Notícias’ que a Ong “C tem que saber” está com seu nome numa das delações da Operação Lava Jato.

Fiquei muito triste e muito preocupada porque, volto a dizer, o trabalho da Ong foi e é muito importante. Triste também pela lama ter chegado aqui tão perto, em São Manuel.

ALERTAS

A Hepatite C é uma doença mortal.

Deve ser cada vez mais divulgada e precocemente diagnosticada.

O trabalho da equipe do Dr. Giovani Faria é de importância nacional e de reconhecimento internacional.

Peça a seu médico a inclusão do exame para detecção do VHC na sua próxima consulta de rotina.

Previna-se com o uso de preservativos.

Seja antenado. Não pense que você está imune pois ninguém está.

Por Andrea Morato
Especial para o Botucatuonline