Foto: Fernanda Taques | Divulgação IB
O Instituto de Biociências (IB) da Unesp, campus Botucatu, realizou no último dia 12 de agosto, a segunda edição do Simpósio sobre Vegetarianismo. Aproximadamente 150 pessoas participaram do evento que durou o dia todo e ainda contou com café da manhã e almoço vegetariano.
O objetivo do encontro foi suprir informações quanto aos impactos nocivos à saúde humana e animal, desencadeados pelo excesso de consumo de carne em todo mundo, além de desmitificar rótulos criados em torno de quem é adepto da alimentação vegetariana/vegana.
Com intensa programação, os participantes tiveram a oportunidade de acompanhar diversas palestras. Entre elas, a do secretário-executivo da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), Guilherme Carvalho. Ele também é sócio-administrador de restaurante vegano, além de já ter produzido de forma independente o documentário de curta metragem “Atave – A Avicultura Escancarada”, que expõe a cruel realidade da indústria brasileira de criação de frangos.
“As pessoas precisam entender que vegetarianismo não é moda. É a evolução da consciência de consumo. Como podemos cuidar de um cachorro dentro de casa e depois comermos um animal na hora da refeição? Não há necessidade de se comer carne. Também existe a questão de saúde. Os benefícios da alimentação vegetariana e vegana são excelentes. Acredito que agora é o momento da sociedade evoluir e expandir cada vez mais o vegetarianismo”, afirma.

Impactos à saúde e ao ambiente

Segundo a ONU, a pecuária, incluindo a produção de todos os derivados animais, é responsável pelo consumo de 70% de água fresca do planeta, 38% de uso da terra e 19% da emissão de gases estufa. Para se ter ideia, para produzir 1 kg de carne são necessários 15 mil litros de água. Por outro lado, são necessários 1.300 litros de água para a produção de 1 kg de feijão.
“É necessário fazer reflexões, como: “Quem somos nós? Afinal, também somos um animal. Então porque nos julgamos melhores do que as outras espécies?” provoca o engenheiro agrônomo Edson Ramos de Siqueira, outro palestrante participante do simpósio. Por 36 anos, Siqueira atuou como docente da FMVZ/Unesp, na área de produção animal e ainda escreveu o livro “Alimentação e Evolução Espiritual”.
De acordo com a docente do Departamento de Farmacologia do IB e membro do Grupo de Estudo sobre Alimentação Vegetariana/Vegana, a bióloga Valéria Sandrim, este segundo evento é reflexo do grande sucesso da edição do ano passado, que cativou o público presente, abrindo alternativas à uma vida equilibrada e mais saudável.
“Muitas pessoas interessadas no tema perguntaram quando iria acontecer o próximo simpósio. Isso nos estimulou e este ano conseguimos reunir pessoas com muita experiência sobre vegetarianismo, dividindo conosco um pouco de seu conhecimento. O objetivo é desmitificar e dar suporte àquelas pessoas que já são ou, mesmo, àquelas que nunca pensaram sobre a possibilidade de serem vegetarianas, mas estão dispostas a abrir a mente”, diz.
Atualmente, cerca de 8% da população brasileira, ou cerca de 16 milhões de indivíduos são vegetarianos, como é o caso da assistente administrativa, Luana Fazzio. Hoje aos 29 anos, ela conta que evita a ingestão de carne desde a primeira infância.
“Quando era pequena não aceitava as papinhas preparadas com carne, diferente das que eram feitas com legumes. Tive sorte da minha mãe respeitar minha vontade desde muito pequena. Sempre achei estranho pensar em comer um animal, no sofrimento que ele passou. A minha alimentação é baseada em legumes, ovos e leite”, relata.

Cozinha prática e saborosa

Além das questões relacionadas à ética e às consequências ao meio ambiente, o simpósio promovido no IB/Unesp buscou trazer o melhor conteúdo possível quanto à questão nutricional da alimentação vegetariana/vegana. Por isso, uma oficina prática foi promovida no dia anterior ao evento principal, na cozinha experimental do curso de Nutrição. Tudo com o intuito de mostrar o quão simples e saborosa também pode ser uma refeição sem carne.
A aula para cerca de 30 pessoas (adeptas ou não ao vegetarianismo) durou 2 horas e foi ministrada pelas nutricionistas formadas pelo IB, Juliana Civitate e Camila Yazbek. Com criatividade e inspiradas na culinária brasileira, ensinaram aos participantes da oficina a preparação de um bobó de cogumelos, dadinhos de tapioca vegano e outros acompanhamentos.
“Muitos pensam que o vegetarianismo é algum tipo de restrição alimentar. Mas é incrível como um grande leque de opções alimentares se abre quando uma pessoa adota o vegetarianismo. É importante que o vegetariano coma, todos os dias, algum tipo de feijão (feijão carioca, preto, branco, fradinho, lentilha, ervilha, grão de bico ou soja) e algum cereal (arroz branco, integral, negro, vermelho, milho, quinoa, painço, sorgo ou aveia)”, lista Juliana.
Ainda de acordo com a nutricionista, a combinação diária desses dois grupos contém todos os aminoácidos essenciais e diversos micronutrientes importantes para a prevenção e manutenção da saúde. Além disso, vegetais, frutas, sementes e nozes devem ser incluídos na alimentação, proporcionando ao indivíduo uma dieta balanceada e rica em todos os nutrientes.
“Independente do regime alimentar, qualquer indivíduo pode apresentar falta ou deficiência de nutrientes se não tiver uma dieta balanceada. A alimentação vegetariana fornece todos os nutrientes necessários para o nosso organismo (exceto a Vitamina B12). Dessa forma, ao optar por essa dieta é importante buscar orientação de um profissional para o planejamento de uma dieta equilibrada, com qualidade e todos os nutrientes necessários para a manutenção da saúde”, complementa.

Você sabia?

Que a criação de gado já representa 19% da emissão de gás metano produzido no mundo, tornando-se um dos grandes vilões do aquecimento global? A título de comparação, essa poluição é maior que a queima de combustível dos veículos de transporte motorizados (13%);
Que o ferro está amplamente distribuído no reino vegetal? Principalmente nos feijões, cereais integrais e seus derivados. Ele deve ser sempre consumido com algum alimento rico em vitamina C (laranja, lima), que facilitará a absorção do ferro.
Que o cálcio é outro mineral encontrado em abundância no reino vegetal, principalmente nos vegetais verde-escuros (brócolis, acelga, couve, espinafre), feijões, tofu, nozes e outras verduras. O zinco também está presente, principalmente nos cereais e nos feijões.
Que verduras, frutas, cereais integrais, feijões e nozes são ricos em vitaminas, minerais, anti-oxidantes e fitoquímicos? Esses alimentos previnem diversas doenças crônicas não-transmissíveis como diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares e cânceres.

(Da assessoria)