Incidência de erros de digitação pode ter explicação
Incidência de erros de digitação pode ter explicação

Dos grupos de WhatsApp aos documentos mais formais, os chamados typographical errors (typos), ou erros de digitação na tradução para o português, são uma cilada quase inevitável para quem escreve. O tema é tão presente e corriqueiro que já foi até objeto de pesquisas.

Um exemplo é uma pesquisa realizada pelo psicólogo e pesquisador Tom Stafford, da Universidade de Sheffield, no Reino Unido. Para ele, durante a digitação, há uma tentativa de dar significado ao texto, e essa é uma tarefa muito complexa por conta do volume de ações que a precedem, desde transformar letras em palavras, palavras em frases e, com elas, criar frases e lhes atribuir sentido.

"Quem nunca foi traído, quiçá atormentado, por typos? Eles ocorrem com todos, em qualquer lugar do planeta, a qualquer hora, no lazer e no trabalho. Vivemos em período da história em que os seres humanos mais escrevem em volume absoluto, sobretudo em razão da era digital e da proliferação de novas tecnologias. Por isso, basta uma diminuta distração, e lá está o typo," argumenta o advogado Leonardo de Campos Melo, sócio-administrador e fundador do LDCM Advogados, escritório especializado em contencioso e arbitragem internacional.

A propósito, essa recorrência é quase milenar e chega a ter um malfeitor lendário a encabeçando, lembra o advogado. "A referência a Titivillus remete a uma figura simbólica utilizada na Idade Média para explicar erros de escrita cometidos por copistas," associa Leonardo. O especialista destaca que, "à época, era comum recorrer a representações alegóricas para justificar falhas humanas na produção textual."

Ainda de acordo com o estudo de Stafford, a dificuldade em identificar os próprios erros está relacionada à maior facilidade em detectar falhas em produções de terceiros. Segundo o psicólogo, o cérebro tende a completar automaticamente as informações recebidas, o que compromete a percepção de equívocos cometidos por quem produz o conteúdo. Em razão disso, a identificação de erros se torna mais evidente quando a análise recai sobre textos alheios.

"Por que é relevante tratarmos do tema? Porque ele é mais uma amostra, dentre tantas outras, de algo que atravessa os séculos sem perder a essência. Titivillus não nos permite jamais esquecer da falibilidade inerente à condição humana," finaliza Leonardo de Campos Melo.