Mulheres ainda são minoria entre investidores no Brasil
Mulheres ainda são minoria entre investidores no Brasil

A participação das mulheres brasileiras no universo dos investimentos ainda é significativamente menor do que a dos homens. Dados da pesquisa nacional "Raio X do Investidor", realizada pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA), em parceria com o DataFolha, mostram que menos de 10% das mulheres aplicam recursos em produtos financeiros no país. Enquanto entre os homens o índice chega a 14%. O cenário reforça a desigualdade histórica no acesso ao planejamento patrimonial e à tomada de decisão sobre investimentos.

Em números absolutos, isso representa cerca de 6,5 milhões de mulheres investidoras, contra aproximadamente 10,7 milhões de homens. Considerando também aplicações feitas em anos anteriores e ainda ativas, o percentual sobe para 33% entre as mulheres e chega a 41% entre os homens.

Para Michelle Vilarinho, vice-presidente da Via Direta Consultoria, a disparidade não está relacionada apenas à renda, mas principalmente à falta de orientação e às barreiras culturais que afastam as mulheres do universo financeiro. "Durante muito tempo, ensinaram as mulheres a economizar, mas não a investir. O resultado é uma geração que trabalha, consome, mas não constrói patrimônio. Precisamos mudar essa lógica", afirma.

Segundo a mesma pesquisa, entre as mulheres que não investiram, o principal motivo apontado foi a falta de condições financeiras, mencionada por 83% das entrevistadas. Apenas 5% afirmaram não ter interesse, e outras 5% disseram não possuir conhecimento suficiente para aplicar em produtos financeiros. "É fundamental que nós, mulheres, busquemos ativamente nossa liberdade financeira, em outras palavras, sermos protagonistas do conhecimento sobre investimentos. Chega de terceirizar essas decisões. Precisamos entender que existem formas eficazes de fazer o dinheiro trabalhar a nosso favor, mesmo começando com valores modestos", pondera Vilarinho.

A segurança aparece como principal motivador entre as mulheres que já investem. Cerca de 44% apontam esse fator como determinante, percentual superior ao dos homens. A preferência por atendimento presencial também é mais forte no público feminino: 30% optam por conversar diretamente com especialistas antes de tomar decisões financeiras. "A independência econômica não é apenas uma escolha pessoal, é uma condição de proteção social. Quando as mulheres dominam o conhecimento financeiro, reduzem sua vulnerabilidade e ampliam sua capacidade de decisão", avalia.

Embora a caderneta de poupança siga como o produto mais utilizado pelas mulheres, sua participação vem diminuindo. Em paralelo, cresce a procura por alternativas de planejamento de médio e longo prazo, entre elas o consórcio, modalidade que vem registrando expansão nacional. De janeiro a agosto de 2025, o setor comercializou 3,32 milhões de cotas, segundo dados da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcio (ABAC), indicando maior interesse da população em estratégias estruturadas de aquisição de bens e formação de patrimônio.

A executiva, que também é a idealizadora do Altera Club, iniciativa criada para oferecer às mulheres de alta renda um ecossistema de mentorias, comunidade e networking voltado à conversa sobre dinheiro e construção de patrimônio, reforça: "O dinheiro não é um problema para essas mulheres, embora as decisões de investimento e patrimoniais ainda sejam 100% terceirizadas aos seus cônjuges, assessores financeiros ou até mesmo ao gerente do banco". Para Michelle, essa realidade também está ligada à questão da permissão e à ocupação de espaços historicamente associados à ideia de que finanças são um assunto "de homem".

A menor presença feminina no universo dos investimentos não está relacionada à falta de interesse, mas a um histórico de exclusão do tema. "A mulher não investe menos por desinteresse, mas porque foi historicamente excluída da conversa sobre dinheiro. Quando o acesso acontece, a mudança é rápida", conclui Michelle.