Classificando como “ausência de bom senso e inteligência”, a Academia Botucatuense de Letras (ABL) publicou nota de repúdio ao governo de Rondônia, que na última sexta-feira havia determinado o recolhimento nas escolas estaduais de 43 obras importantes da literatura brasileira por considerar seus conteúdos “inadequados às crianças e adolescentes”.
A lista incluía clássicos como “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, “Macunaíma”, de Mário de Andrade e “Os Sertões”, de Euclides da Cunha.Assinado pelo secretário de Educação, Suamy Vivecananda Lacerda de Abreu, o memorando 4/2020 constava no sistema interno da Secretaria de Educação de Rondônia e foi endereçado às suas coordenadorias regionais de educação.
A nota da ABL, assinada por sua presidente, a professora e escritora Carmen Sílvia Martin Guimarães, além de manifestar repúdio ao memorando, lembra que o ato viola as garantias fundamentais da Constituição Federal.
“Nós nos unimos à mãe Academia Brasileira de Letras e a todas as entidades contra esse gesto deplorável”, completou a acadêmica botucatuense.
Após o documento ter sido publicado nas redes sociais, a Secretaria de Educação de Rondônia tornou o processo secreto e suspendeu o recolhimento dos livros.

DOUTRINAÇÃO

O Ministério Público Federal (MPF) de Rondônia abriu um procedimento administrativo para apurar o que motivou o governo do Estado a mandar censurar essa série de obras clássicas da literatura brasileira.
Rondônia é governada pelo coronel Marcos Rocha (PSL). Aliado do presidente Jair Bolsonaro, ele deve ser o primeiro governador a deixar a sigla para se aliar à Aliança pelo Brasil, partido ainda em processo de formação.
Tanto o presidente quanto aliados afirmam haver doutrinação nas escolas e nos livros didáticos e paradidáticos. Em janeiro, Bolsonaro chamou os livros escolares de “lixo” e disse que a partir de 2021 o material será reelaborado e contará com a bandeira brasileira e o hino nacional.

(Por Gesiel Jr, especial para o Botucatu Online)