Vereadores e o prefeito Mário Pardini recebem sindicalistas na Prefeitura. Prefeito diz que reivindicações são justas

Cerca de duzentas pessoas participaram de um ato na Praça do Bosque e outras cem caminharam em passeata até a Prefeitura de Botucatu, manifestando o repúdio dos trabalhadores da cidade contra a proposta de reforma previdenciária e trabalhista.

Um abaixo assinado com oito mil botucatuenses, finaliza uma etapa da jornada de lutas de vários sindicatos na cidade. Esse documento será entregue aos vereadores em ato no dia 11, durante audiência publica sobre o tema.

“FIZEMOS A NOSSA PARTE.
A LUTA CONTINUA”

Conforme alguns lamentos nos discursos abordando a pouca quantidade de pessoas, que atenderam ao chamado dos sindicatos e entidades, ficou claro que era esperado mais público.

Durante 15 dias a cidade foi coberta por equipes que distribuíram mais de 40 mil panfletos explicando as mudanças na aposentadoria e convidando para o ato.

“Estão de parabéns cada um de vocês que estão presentes a este ato. Nós fizemos a nossa parte, mas a luta continua”, observou José Luiz Fernandes.

O ato começou por volta das 10h com revezamento de pronunciamentos e explicações sobre o motivo da manifestação. O trânsito foi interrompido na esquina da Câmara Municipal (na Rua Marechal Deodoro) e às 11h os manifestantes saíram em passeata até a sede do Executivo.

Quem esperava palavras de ordem radicais dos manifestantes se decepcionou. Apesar da presença de lideranças ligadas a partidos de esquerda com forte atuação no movimento sindical, foi uma passeata ‘silenciosa’ nesse sentido, mas ao longo de todo o trajeto até a prefeitura, os manifestantes seguravam cartazes contra a reforma da previdência e principalmente contra Temer, o presidente “ilegítimo do Brasil”, como grafado em alguns deles.

Não houve palavras de ordem, mas um carro de som, dirigido por José Carlos Lourenção, do sindicato dos Metalúrgicos, deixou bem claro para os pedestres e consumidores em lojas o motivo da passeata. O mestre de cerimonias do protesto foi o sindicalista José Luiz Fernandes, que quase chegou a perder o fôlego por protestar no microfone do carro de som e caminhar, na acentuada subida da Rua Moraes Barros.

Na Rua Amando, em dois momentos, grupos de pessoas que não estavam participando do ato aplaudiram os manifestantes.

O protesto foi tão tranquilo, que os GCM e PMs envolvidos na operação só tiveram trabalho de coordenar a segurança do trânsito e pedestres na rua Amando.

Os manifestantes respeitaram até o semáforo vermelho, entre as ruas Moraes Barros e João Passos. A caminhada só continuou quando a luz verde acendeu e a passeata continuou sem problemas até a avenida em frente à prefeitura.

Prefeito e vice cumprimentam manifestantes em frente a prefeitura. Parte dos Vereadores estavam presentes

O prefeito Mário Pardini e diversos vereadores que acompanhavam a audiência pública “dos sábados” não demoraram a descer até a calçada em frente à prefeitura. O prefeito tucano disse que a manifestação era justa do ponto de vista dos trabalhadores e boa parte dos brasileiros e que iria receber uma comissão indicada pelas entidades para conversar. “É que não vai ser possível abrigar a todos, mas quem quiser entrar fique a vontade, só não garanto cadeira a todos”, justificou.

Na audiência ocorreram novamente pronunciamentos sobre a forma como as discussões estão sendo encaminhadas pelo atual governo. Os sindicalistas entregaram cópias de um calhamaço de papéis que garantem, é um abaixo assinado com mais de oito mil pessoas que são contrárias às mudanças nas aposentadorias.

 

O QUE DISSERAM ALGUMAS DAS LIDERANÇAS SINDICAIS ?

Dirigente da Construção Civil e Mobiliário explicou as razões da manifestação: estão tirando os direitos dos trabalhadores

Os lideres do movimento, compostos por seis entidades (Sindicato dos Médicos, Trabalhadores da Construção Civil, Metalúrgicos, Comerciários, Trabalhadores rurais, Funcionários públicos municipais e Movimento Social de Lutas dos Sem Terras) e pessoas da comunidade se revezaram no carro de som, apontando como a proposta de reforma da aposentadoria e dos direitos na CLT é prejudicial aos brasileiros.

Anderson Inácio da Silva, presidente do Sindicato da Construção e Mobiliário de Botucatu, salientou que os trabalhadores do setor sentirão o impacto das mudanças, dada as características do ofício e a existente precarização do trabalho nos canteiros de obras.

Itamar da CUT cobrou posicionamento a favor dos trabalhadores do deputado Federal Milton Monti

“Este ato tem como objetivo alertar a população e os trabalhadores do impacto nas aposentadorias. Não tem como trabalhar 49 anos para ter direito a aposentadoria. Esse ato é para fazer o alerta para combatermos essa mudança”, explicou a razão do ato e passeata.

“Precisamos nos manifestar contrários às mudanças na previdência e pressionar os políticos recém-eleitos nas Câmaras Municipais, os deputados nas Assembleias, Câmara e Senado Federal. Eles nos representam ou não?”, questionou o presidente do Sindicato dos Médicos Pedro Bonequini, sobre a participação da elite politica brasileira que votará a reforma previdenciária e trabalhista. A maioria é devedora no INSS e representam carteis privados que se interessam pelo mercado de seguro previdenciário.

Miguel Silva, do Sindicato dos Metalúrgicos afirmou serem as mudanças propostas um ataque aos trabalhadores

O deputado federal Milton Monti foi foco de atenção dos manifestantes em vários momentos. O representante da CUT regional Itamar Calado elogiou a mobilização das entidades e movimentos sociais que promoveram a coleta de assinaturas contra as mudanças nas aposentadorias e cobrou posicionamento favorável do parlamentar de São Manuel.

“Vamos levar ao conhecimento do deputado federal Milton Monti para que ele se comprometa com a população de Botucatu e região. Eu tenho certeza que o deputado vai ficar ao lado dos trabalhadores da região, senão, vamos tirar ele de lá”, discursou o líder da CUT regional.

Professor Vavá destacou o momento critico que os professores e os trabalhadores estão vivendo

Miguel Silva do sindicato dos Metalúrgicos, elogiou a união das entidades sindicais e pessoas que atenderam ao convite para participação do ato. “O povo mobilizado vai pressionar os deputados e senadores a não cometer esse absurdo contra as nossas aposentadorias. E não é só isso, outros direitos estão sendo tirados dos trabalhadores de todas as categorias por esse governo ilegítimo”, discursou.

O metalúrgico e ex-vereador José Carlos Lourenção acrescentou ser necessário a classe trabalhadora resistir às mudanças: “O governo Michel Temer  está tomando medidas contra os direitos dos trabalhadores, mas não vamos deixar esse projeto ser aprovado, vai ter luta”.

“Se a gente não brigar, não lutar para não deixar ser aprovada essa reforma da previdência social; pois senão, nós estamos entrando numa situação feia, a verdade é essa” lamentou o professor Paulo Marcelo (Vavá), representante da APEOESP, entidade dos professores estaduais. Os professores foram os primeiros a se mobilizarem na cidade com uma greve contra as mudanças na aposentadoria e por reajustes salariais.

Fagian: Governo está atacando o trabalhador com mudanças na CLT e as aposentadorias

José Fagian, diretor estadual do sindicato dos funcionários da Sabesp e Cetesb fez um longo e articulado discurso, abordando também as mudanças na legislação com a implantação da terceirização e outras alterações na legislação trabalhista.

“É um conjunto de ataques contra os direitos sociais e principalmente as conquistas dos trabalhadores ao longo de décadas para favorecer o grande capital internacional e os banqueiros(…) que desejam escravizar nosso povo e tem apoio nesse governo ilegítimo de Michel Temer”.

Marcos Oyan criticou letargia do movimento sindical e defendeu mais mobilização

Marcos Oyan, do Sincomerciários, criticou a letargia das lideranças sindicais e a sociedade que permitiu a corrupção entre empresas, políticos, partidos, governos e incluiu sindicatos existentes que só estão de olho na contribuição sindical (também ameaçado de ser extinto na reforma previdenciária e trabalhista).

“A mudança começa quando reconhecemos a nossa incapacidade e alguns temas precisam ser abordados, inclusive quando o assunto é sobre sindicatos que só estão de olho no imposto de contribuição sindical”.

 

O VETERANO LUIZ RÚBIO ESTÁ VOLTANDO?

Um destaque do ato foi a presença do veterano sindicalista e liderança popular, Luiz Carlos Rúbio, fundador do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, vereador do PT em diversas legislaturas, fundador da associação de moradores do Jardim Peabiru, da Unasab’s, CUT-SP e um militante das antigas dos direitos civis de Botucatu.

Luiz Rúbio que estava ‘aposentado’ da politica e do sindicalismo, saiu da zona de conforto e entrou na luta contra ‘o ataque aos trabalhadores’

O sindicalista e vereador aposentado fez questão de conhecer o pessoal do MSL, uma vertente do Movimento dos Sem Terras. Ele trocou rápidas palavras com as lideranças do MSL que estão atualmente acampadas em áreas que reivindicam assentamento, no município de Itatinga.

Luiz Rúbio não discursou, mas contou aos amigos que está vivendo em partes.

Parte em sua casa na Vila Mariana e a outra parte no sítio da família na região do Pátio 8, onde mantem  produção de hortifruti e frutas em um pequeno Sítio (perto do Morro do Peru) . Muitos veteranos foram cumprimentar Rúbio, que ganhou barba mais branca. Ele continua corintiano e petista.