Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB/UNESP) recebeu no último mês de fevereiro a doação de um conjunto de telas assinadas pelo médico e artista plástico Helio Vannucchi. Os quadros serão catalogados, incorporados ao acervo da instituição e expostos no prédio administrativo, Central de Aulas e outras repartições. Por meio de QR-Code, o público terá acesso às informações sobre cada uma das obras.

Vannucchi graduou-se em Medicina no ano de 1969, compondo a segunda turma da Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu (FCMBB). Atualmente é Professor Titular da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto/USP. Possui vasta experiência em Nutrologia atuando principalmente com nutrição clínica, metabolismo de vitaminas, alcoolismo e nutrogenômica.

A ideia de doar algumas de suas principais obras à escola onde formou-se médico surgiu em uma reunião de família. “Conversávamos sobre a educação médica e a necessidade da formação humanística para termos profissionais com estas características. Consideramos que, nesse momento, deveríamos agradecer minha trajetória como médico, professor, pesquisador e cientista. A doação é a gratidão, não pagamento. Educação não tem preço, não é investimento individual. Diante do que representam a FCMBB-FMB é pouco, mas é uma forma de agradecer e cultuar sua evolução no conceito da comunidade médica nacional e internacional”, explica.

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O artista selecionou várias obras representantes de paisagens, naturezas-mortas e retratos em mais de 30 telas de variados tamanhos e diferentes anos de produção, além de três telas da série CID10 (Código Internacional de Doenças, edição 2010). Esta coleção fez parte de uma exposição individual no Centro de Convenções Anhembi, durante o Congresso Nacional do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, em julho de 2001.

Dentre as inúmeras telas que levam a sua assinatura, o autor revela que gosta particularmente da série CID10, concebida para padronizar e catalogar as doenças e problemas relacionados à saúde tendo como referência a Nomenclatura Internacional de Doenças, estabelecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS). “O sofrimento próprio, ou de outras pessoas, motivou sensações subjetivas, as mais variadas. Decidi me apropriar delas para interpretar por meio de imagens figuradas, criando telas que constituem esta série”, revela.

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Série CID10 (CID 10, PÓLIPO NASAL, SEQUELAS DE POLIOMIELITE)

 

A Professora Maria Cristina Pereira Lima, diretora da FMB, pretende realizar em breve um vernissage para apresentação das obras de Vannucchi ao público. “Para a FMB é uma honra receber a doação das obras do Professor Helio, um médico formado nesta casa, que tem uma trajetória profissional exemplar, coroada com uma produção artística de grande sensibilidade. Assim que as condições sanitárias permitirem, vamos organizar uma abertura oficial convidando toda a comunidade para apreciar o trabalho”, anunciou.

Segundo a Professora Jacqueline Costa Teixeira Caramori, vice-diretora da FMB, além de trazer cores vivas para as dependências da faculdade, beleza para as paredes e vida e arte para o ambiente de trabalho, cada servidor sentirá a energia das paisagens e observará as reações humanas nos retratos que levam a assinatura de Vannucchi.

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“E será admirando a série CID 10 que educadores e discentes reconhecerão a transposição da vivência profissional para a arte. As cores transmitem a fisiopatologia, os sinais, os sintomas e as recordações das doenças. Uma verdadeira inspiração. Diante deste momento é enorme a alegria de receber em forma de telas, os corações dos egressos dessa Escola, Hélio e Terezinha Vannucchi. Médicos que sempre estiveram presentes ao longo dos últimos cinquenta anos, com seus saberes e relatos históricos das lutas vivenciadas, a criação da Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu. O que é a vida se não o fazer-se eterno nas memórias e dar às pessoas a oportunidade de releitura de pensamentos. Vannucchi presente na FMB-Unesp”, declara.

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RETRATO DE MARIE DARRIEUSSECQ (Encontra-se na entrada do Prédio da Administração da FMB)

 

O médico-artista

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Helio Vannucchi nasceu em Itajú, interior de São Paulo, em 23 de maio de 1942. Médico e professor universitário, dedicou-se à arte em paralelo às atividades desenvolvidas junto à Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP). Em 2004 foi empossado na cadeira 14 da Academia de Letras e Artes de Ribeirão Preto.

Tem realizado exposições individuais a partir dos anos 1990 e participado de inúmeras exposições coletivas, tanto no circuito universitário quanto em mostras e salões de arte em cidades como Ribeirão Preto, São Paulo, Araraquara, Brodowski, Catanduva, Vinhedo, Araras e Rio Claro.

Em 2009 obteve o primeiro lugar em escultura e segundo lugar em pintura na Mostra Internacional do Proyeto Cultural Sur. Em 2011 expôs em Paris, no Salon des Artistes Indépendants, no Grand Palais, e no Salon National des Beaux Arts, no Carrousel du Luvre. Em 2016 obteve menção honrosa no Salão Nacional de Arte Contemporânea de Araras.

“O início dessa minha atividade artística paralela aconteceu com as primeiras lições em 1968. Depois disso, durante um estágio nos Estados Unidos, frequentei por dois anos cursos de arte e, posteriormente, algumas aulas em Ribeirão Preto. A partir daí exercitei a arte observando a produção artística dos principais artistas, sempre tentando aprimorar as técnicas e o avanço da liberdade de expressão. Durante o ano de 1998, a propósito de uma exposição individual, conclui: Com estas experimentações de formas e cores, e da iluminação em si, ando procurando minhas emoções subjetivas e tentando com elas interpretar as coisas deste mundo”.

Vannucchi diz ter plena consciência do propósito da arte em criar ilusões, o que representa, na sua visão, um contraste com a atividade de investigação científica que aprendeu na academia. Mesmo assim, considera gratificante a sensação de liberdade que se consegue. “A imaginação é um processo experimental, seja com conceitos lógicos ou com a matéria-prima da arte. Uma imagem é enquanto produto, a concretização material de uma ideia, uma codificação de um conceito, uma mensagem carregada diretamente de conteúdos de natureza estética e artística, indiretamente conexões mentais associadas à realidade interior. A ciência também usa imagens e experimenta situações imaginárias, tal como a arte”, conclui.

 

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