Dr. Carlos Magno Fortaleza, médico infectologista da Unesp de Botucatu, responsável pelo projeto do estudo da Vacinação em Massa na Cidade, para a efetividade da Vacina Fiocruz Oxford AstraZeneca, conversou nesta quinta-feira, 10, com a reportagem do Jornal Leia Notícias / Botucatu Online.

Ele respondeu se há algum item no estudo que proíba que Botucatu, após a vacinação em massa, tome medidas mais restritivas para conter o avanço da pandemia, mesmo com o aumento de casos positivos, internações e óbitos na Cidade, que estão ocorrendo há semanas, porém sem nenhuma ação efetiva do Poder Público.

O médico infectologista também falou sobre o aumento de casos e qual a previsão para a queda desses números em Botucatu.

Dr. Carlos Magno ainda se posicionou favorável a medidas mais restritivas na Cidade e destacou. “Eu espero que através de uma campanha de conscientização consigamos também fazer com que as pessoas colaborem. Nós precisamos de duas coisas: Educação e Fiscalização”.

Leia abaixo os principais trechos dessa entrevista.

 

Estudo da Vacinação em Massa não proíbe restrições

“Esse estudo não tem qualquer ligação com questões relacionadas a distanciamento social, ou seja, não é por causa do estudo que deve se parar o distanciamento social. Ao contrário do que eu li nas redes sociais, não há nenhum item do estudo que proíba lockdown, que proíba ações de distanciamento, ou qualquer medida para evitar a transmissão da Covid, pelo contrário, essas medidas associadas a vacinação podem trazer um melhor resultado para o estudo. O Próprio Plano São Paulo, que nós nos comprometemos seguir para que a gente não abrisse de vez a cidade, que seria péssimo, inclusive para vacinação, permite e, inclusive, incentiva que prefeitos municipais, observando a situação do seu munícipio, possam fazer medidas mais restritivas do que aquelas que o Governo do Estado propõe”.

 

Aumento de casos de Covid em Botucatu

“O aumento de casos positivos e internações que nós vimos nos últimos dias foram consequência, evidente, das aglomerações em Botucatu nas últimas semanas. Percebemos que mal foi anunciada a vacinação, imediatamente as pessoas começaram a se aglomerar em bares, a deixar de usar máscara na rua, com uma falsa sensação de segurança, que, infelizmente, nesses primeiros dias levou a um aumento de casos. A nossa previsão é que os casos comecem a cair já no final desta semana, no começo da semana que vem.  E os casos graves uma semana adiante, ou seja, gente já tem uma diminuição de casos agora a partir do fim de semana, com uma diminuição de internações a partir do fim de semana que vem”.

 

Mais restrições, lockdown e fiscalização

“A população precisa entender que mesmo vacinada ela precisa se cuidar. A proteção da vacina começa a ocorrer, de forma importante, três semanas após a primeira dose. Então, nesta semana que começa a proteção dessa primeira dose, mesmo assim não é uma proteção 100%. Essas pessoas têm que continuar se cuidando, porque ainda pode haver casos e casos graves. O fato de ser vacinado não quer dizer que a pessoa está livre para aglomerar, para não usar máscara, para boicotar as medidas de distanciamento, pelo contrário, essas medidas têm que ser reforçadas. É um estudo único e, até agora, o maior estudo desse tipo feito no mundo. Nós esperamos sim que ele beneficie Botucatu, fazendo com que menos pessoas adoeçam, internem e morram por Covid.
É muito possível que medidas restritivas novas sejam necessárias. O lockdown seria em uma situação extrema, eu não sei se nesse momento se falaria em lockdown, mas certamente em uma maior restrição, uma maior fiscalização em cima de bares. Eles não estão mantendo a restrição de número de pessoas de ocupação, que está prevista para atual medida.
Nós temos muitas quebras em todo o comércio das restrições impostas pela fase chamada intermediária em que o estado de São Paulo todo está.
Temos visto que muitos estabelecimentos de Botucatu não têm cumprido o que é previsto. Também continuam as festas clandestinas, os encontros familiares, muita gente nas ruas sem máscara. Vejo isso todos os dias quando vou do meu trabalho para casa.
Acho importante, em primeiro lugar, conscientizar as pessoas que mesmo que a vacina proteja 70% a partir das próximas semanas, ainda assim há os outros 30% de chance de adoecer, ficar grave e morrer.
A gente torce muito para que vacina seja um grande sucesso, mas até que tenha realmente diminuído a circulação do vírus, as pessoas não podem se expor. É muito importante que se diga isso. É importante que se reforce as medidas e, talvez, se os casos continuarem a aumentar e a gente não consiga conter com a fiscalização mais intensa do cumprimento da fase atual do Plano São Paulo, aí sim, talvez, aja necessidade de um lockdown em Botucatu.
Tudo tem que ser discutido em cima dos dados epidemiológicos, tem que ser discutido de uma forma bastante clara.
Eu acho que sim, nós temos que tentar restringir mais, temos que tirar um pouco de Botucatu a euforia. A vacina foi uma grande conquista, mas foi uma conquista feita dentro de um projeto de pesquisa, não foi porque Botucatu é uma cidade considerada mais prioritária do que as outras. Várias outras cidades estão em situação grave. Foi porque Botucatu tem uma série de características que fazem com que a vacina seja desejável aqui para esse estudo, inclusive o seu tamanho. Claro, também pelo imenso interesse, cooperação e batalha do Prefeito Pardini e do Secretário André Spadaro.
Tudo isso foi muito importante, mas sobretudo é um projeto de pesquisa, um projeto do qual a gente deve se orgulhar, mas não é argumento para achar que ao contrário do resto do mundo, já podemos aglomerar, que já pode deixar de usar máscara. Infelizmente temos visto essa situação ocorrendo no nosso município, pessoas brigando para entrar sem máscara em estabelecimentos. Temos várias informações sobre isso, pessoas dizendo que não precisam após a vacinação usar máscaras. Essas são posições equivocadas. Eu espero que através de uma campanha de conscientização, consigamos também fazer com que as pessoas colaborem. Nós precisamos das duas coisas: educação e fiscalização”

 

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