A História, geral e do Brasil, está entre as disciplinas mais admiradas pelos alunos. Talvez por levar os estudantes da sala de aula a locais que só podem ser visitados pelo imaginário. Mas, e quando a professora oferece a oportunidade de que essa visita aconteça num passado não muito distante e que tem total ligação com cada aluno? Talvez, a disposição do corpo discente seja ainda maior para aprender.
Ao perceber que seria interessante desenvolver um projeto que aliasse a disciplina de História à comunidade local, promovendo o resgate do passado e, também, o desenvolvimento de várias habilidades, bem como o vínculo entre comunidade e alunos, a escola estadual Maria Aparecida Justo Salvador, que fica na cidade de Pratânia e pertence à Diretoria de Ensino de Botucatu, desenvolveu o projeto ‘Revirando o baú da avó’.
A ideia é fazer com que os estudantes se identificassem com o conteúdo, aprimorassem o aprendizado e se sentissem parte desse evento, o que aumentaria o interesse pela atividade. Assim o projeto nasceu visando melhorar o desempenho dos alunos, além de favorecer sua formação cidadã.
O município de Pratânia é bastante antigo como povoado, mas conquistou a emancipação há cerca de 20 anos, apenas. Com cerca de 6 mil moradores, aproximadamente um terço da população é formado por idosos. Outro terço por jovens, adolescentes e crianças.
E, embora o público-alvo do projeto ‘Revirando o baú da avó’ sejam os frequentadores do 9º ano do Fundamental e o Ensino Médio, toda a escola participa da exposição. Ainda mais por ser algo que se tornou tradição para a sociedade da cidade carinhosamente conhecida por Prata, pois, há muito tempo, uma pedra foi encontrada num rio e confundida com a prata.
“A gente faz o possível para que os alunos tenham contato com a história do município”, conta a professora de História e coordenadora do projeto, Lucimaria Aparecida Damasceno Aníbal.
Ela relata que a escola se prepara para a 6ª edição da exposição, que deve acontecer em meados de agosto de 2018.
O ‘Revirando o Baú da Avó’ apresenta vários objetivos, como propor aos alunos um estudo de suas próprias heranças culturais e históricas e conscientizá-los da importância de preservar esse patrimônio, incentivar os alunos a realizarem uma pesquisa sobre suas descendências e posterior tabulação, despertar o espírito investigativo, crítico e a integração dos educandos, entender e valorizar a identidade da comunidade na qual a escola está inserida.
“Para mim é fundamental a troca de experiência do idoso com o adolescente. É o acesso àquilo que o idoso traz na sua memória, por meio do objeto que fazia uso, ou ainda faz, pois nossa cidade tem uma área rural muito grande. Aí eles contam o que faziam com o objeto, como usavam, e os alunos ficam boquiabertos”, complementa Lucimaria.
Com o projeto, os estudantes percebem o que permanece e o que muda na história, que é um dos temas centrais do sexto ano, por exemplo. Eles conseguem ver a linha do tempo das coisas. Na telefonia, “eles têm o celular, mas com o trabalho conhecem um aparelho antigo”, acrescenta a professora.
“Tenho uma paixão enorme pelo passado. Ouvir histórias de como foi a nossa querida Pratânia me traz uma nostalgia, uma saudade aconchegante de algo que eu não vivi. Graças a esse projeto da professora Lucimaria tive mais conhecimento sobre o mundo”, explica a aluna Alana Luciano.
Além disso, com o projeto foi possível incentivar a leitura e a pesquisa de assuntos relacionados ao tema, desenvolver ações que visem atitudes de respeito, cidadania e solidariedade necessárias à preservação desse patrimônio histórico e cultural, interagir com a comunidade, principalmente os idosos, na troca de experiências e conhecimentos transmitidos nas rodas de conversa.
E algo interessante foi a possibilidade de tecer estudos sobre os objetos, documentos, utensílios e fotografias do passado, o que permitiu a comparação dos mesmos com os da contemporaneidade.

Metodologia

A atividade permeou os seguintes conteúdos curriculares: Primeira Guerra Mundial (1914-1918); República Velha (1889-1930); e Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Como metodologia foi utilizada a técnica de coleta e análise dos materiais recebidos para identificação dos mesmos, como levantamento da época a que pertenceram e outros dados.
Os estudantes também confeccionaram cartazes com as fotos para posterior exposição. Durante a realização da exposição houve a troca de experiências entre os idosos e os alunos; bem como toda a comunidade, pois o projeto ultrapassou os muros da escola.
Para a aluna Siméia de Almeida Prado, “o mais legal é que no dia [da exposição] os alunos que ficam na sala vêm vestidos com trajes que lembram como os antigos se vestiam no passado”, diz. Michele Conceição da Silva, que também é estudante da Justo Salvador, concorda com Siméia, e acrescenta que os alunos não têm “tanto contato com o mundo do jeito que era antes. Vivemos em uma época diferente, com costumes e jeitos também diferentes. O único contato que temos é com nossos avós, que nos contam histórias. O projeto nos aproxima mais e nos ajuda a conhecer esse período que foi maravilhoso e inesquecível”, finaliza.
Com o ‘Revirando o Baú da Avó’, os alunos puderam aprender a valorizar as suas próprias heranças culturais e históricas, o que possibilitou a compreensão sobre importância da experiência dos “mais velhos”.
A avaliação foi feita observando-se a participação e o envolvimento dos alunos. É um projeto que já está na 5ª edição, pois ocorre um grande envolvimento de toda a comunidade e alunos, e os resultados em aprendizagem são aprimorados.
“O projeto agrega conhecimento na medida que os alunos percebem as mudanças que acontecem, que tudo está ligado a um passado, que tudo tem uma continuidade, que o passado está mais presente do que nunca em nossa vida”, finaliza a professora de História Lucimaria.

Sendo o espelho

A exposição “Revirando o baú da avó” não mexe apenas com os estudantes da escola Maria Aparecida Justo Salvador, mas também com toda a comunidade escolar. Enquanto promover a exposição garante aprendizado aos alunos e às alunas, visita-la faz com que os pertencentes à ‘melhor idade’ deem um pulinho na saudosa juventude.
Além disso, ensinar é algo inerente aos idosos. “É bom participar do projeto e explicar para as crianças e jovens como funcionavam os objetos”, garante a jovem de 70 anos de idade, dona Irene Viera Ribeiro Rosa. E ela completa: “eles prestam bastante atenção quando estamos falando. Fico bastante emocionada em ver amigos nas fotos e também parentes”. Para ela, é bom “lembrar de uma época que não volta mais, visitando essa exposição e podendo partilhar com os alunos e professores minhas histórias”, finaliza dona Irene.
E a dona Irene não é a única emocionada. Responsável direta pela exposição, a professora Lucimaria Damasceno conta com lágrimas nos olhos que nas duas últimas edições da mostra teve a oportunidade de reencontrar sua professora de Estudos Sociais, que também lecionou na Justo Salvador. A unidade é a única escola estadual da cidade, o que torna comum o fato de professores terem sido também alunos.
A minha professora da quinta série, dona Aparecida Montanzam Guirelli, esteve presente, se emocionou e até tiramos fotos juntas. Ela era uma professora muito ativa, e é minha inspiração”, enfatiza Lucimaria. A organizadora do “Revirando o baú da avó” deixa a modéstia de lado, com razão, ao afirmar que é suspeita para falar, “mas é um projeto que realmente ultrapassou as fronteiras da nossa escola”, conclui Lucimaria.
A direção da escola dá total apoio para que o projeto continue promovendo essa interação entre gerações. Além de possibilitar a comparação entre objetos, vestimentas e costumes, “os alunos ficam perplexos quando se deparam com a realidade do passado”, afirma a diretora da unidade, Maria Vitória Cagnon.
“Outra coisa interessante é que as crianças e adolescentes podem compreender e constatar que tudo que eles usam hoje é resultado da evolução das coisas. Eles aprendem que a sua realidade não se criou sozinha, teve um alicerce no passado”, conclui.

(da Secretaria de Educação)
(Boas práticas no Estado)