Um dos rins do jovem de 20 anos que teve os órgãos captados na Santa Casa de Araçatuba (SP) foi doado para a própria mãe do rapaz, que está internada no Hospital das Clínicas de Botucatu.

Kauan Farias foi internado no dia 1º de janeiro de 2023 após bater a motocicleta que pilotava. Ele teve a morte encefálica confirmada na terça-feira (3).

Diante da confirmação da morte, a família do jovem autorizou a doação de órgãos. A cirurgia de captação múltipla foi realizada na quarta-feira (4), com apoio de cerca de 40 profissionais.

Segundo a Santa Casa de Araçatuba, Graziele Farias, de 37 anos, recebeu o rim doado pelo próprio filho na manhã de quinta-feira (5) no Hospital das Clínicas de Botucatu.

Atualmente, a mulher segue internada para se recuperar do transplante, considerado bem-sucedido e sem intercorrências pelos profissionais responsáveis por realizá-lo.

Rins pararam de funcionar

A batalha de Graziele começou em junho de 2018, quando passou 45 dias no hospital, devido a uma crise severa de hipertensão. Ao final da internação, a paciente descobriu que precisava fazer hemodiálise, pois os rins tinham parado de funcionar.

Com as dificuldades da mãe, Kauan assumiu a responsabilidade de ajudá-la em todas as tarefas diárias, como acompanhá-la três vezes por semana nas sessões de hemodiálise.

Segundo a irmã de Graziele, o sobrinho não se conformava em ver o sofrimento da mãe e queria doar um rim para vê-la livre das máquinas e da rotina no hospital.

Na época, Kauan era menor de idade e não podia fazer a doação, pois a legislação diz que o doador precisa ter acima de 23 anos.

“Ele dizia que quanto completasse a idade exigida, doaria um rim para a mãe. Minha irmã certamente nem lembrou da intenção do Kauan em doar um rim para ela. Mas, mesmo devastada, não pensou duas vezes em autorizar a doação. Ela queria que um pedacinho dele pudesse salvar outras pessoas”, afirma a tia do jovem, Nayara Furquim do Amaral.

Após descobrir que o Hospital das Clínicas de Botucatu havia confirmado as duas etapas de compatibilidade para o transplante, Graziele aceitou receber o rim do próprio filho.

“Ela quis ter para sempre dentro dela um pedacinho do filho. Em meio a toda a dor, tivemos essa a boa notícia de que minha irmã estava em condições de fazer a cirurgia”, conta Nayara.

De acordo com a legislação que normatiza os transplantes no país, os parentes que estejam na fila de espera têm prioridade em relação aos órgãos de um familiar que se tornou doador após morte encefálica.

G1