Gesiel Júnior
Especial para o Botucatu on line

Transcorre em 18 de maio de 2020 o centésimo aniversário de nascimento do filósofo e literato polonês Karol Józef Wojtyla, que a partir de 1978 celebrizou-se mundialmente ao adotar o nome de João Paulo II, quando da sua eleição para a cátedra de São Pedro e da assunção como líder espiritual de mais de um bilhão de católicos.

Na condição de sé arquiepiscopal, a cidade de Botucatu mantém desde 1908 relações próximas com o Vaticano. Contudo, nota-se ter sido com João Paulo II que os botucatuenses estreitaram seus laços com o chefe da Igreja Católica. E isto se deu a partir de 1980, ano em que o segundo arcebispo metropolitano, dom Vicente Marchetti Zioni (1911-2007) esteve com ele, em junho, no Vaticano, e em julho, durante a primeira visita papal ao Brasil.

A propósito, em seu magistério, dom Zioni ensinava ser a fidelidade absoluta ao papa um dos marcantes gestos de fé. Admirador do papa polonês, realmente uma figura carismática, o arcebispo instituiu os cursos filosófico e teológico em Botucatu, ao criar o Seminário Maior João Paulo II, a fim de garantir, por nove anos, uma boa formação doutrinária aos candidatos ao sacerdócio.

Seu sucessor, dom Antonio Maria Mucciolo (1923-2012), nomeado por Wojtyla, incrementou a mídia católica brasileira ao fundar a Rede Vida de Televisão. Em outubro de 1997, em sua última visita ao país, João Paulo II congratulou-se com o terceiro arcebispo de Botucatu, “pela arrojada iniciativa, conhecida como o ‘Canal da Família’” e fez votos para que a emissora servisse “como um válido instrumento de evangelização e um testemunho eficaz da presença da Igreja no Brasil”.

Por sua vez, o arcebispo atual, dom Maurício Grotto de Camargo, do próprio João Paulo II recebeu a sua nomeação episcopal, há exatos 20 anos, em maio de 2000. Em 2010, espontaneamente a Prefeitura de Botucatu decidiu prestar uma significativa homenagem ao papa polonês, morto em 2005, dando o nome de Centro de Educação Infantil João Paulo II para uma creche da periferia, situada no Convívio Park Residencial.

Tais apontamentos comprovam o quanto historicamente Botucatu, cujas origens tem vestígios jesuíticos, revelam paradoxalmente elos profundos com a Igreja Romana,  sejam por laços benfazejos ou até mesmo por anátemas.

Líder mais influente do século XX

Nascido em Wadowice, no Sul da Polônia, em 18 de maio de 1920, Karol Józef Wojtyla era filho de um militar reformado. Órfão de mãe aos 9 anos, na juventude ele estudou artes cênicas e literárias, mas optou por ingressar clandestinamente, durante a 2ª Guerra Mundial, no seminário de Cracóvia. Ordenado sacerdote em 1946, em seguida cursou teologia em Roma, onde também doutorou-se em filosofia.

De volta à Polônia, inicialmente trabalhou como pároco numa aldeia. Depois, foi professor universitário e, em 1958, o Papa Pio XII o nomeou bispo-auxiliar de Cracóvia. Participou ativamente do Concílio Vaticano II, tendo sido promovido a arcebispo em 1964 e a cardeal, três anos depois. Era célebre o seu trabalho de erguer igrejas, apesar da forte oposição do regime comunista.

Em 1978, aos 58 anos de idade, quebrou a tradição de mais de 450 anos de escolher papas de origem italiana. Poliglota, distinguiu-se pelas 129 viagens feitas a países dos cinco continentes. No dia 13 de maio de 1981 sofreu um atentado a tiros na Praça de São Pedro. Passou desde então a enfrentar graves problemas de saúde. Devoto da Virgem Maria, a ela dedicou com confiança a sua vida e as suas dores e provações.

João Paulo II concluiu seu pontificado, o terceiro maior da história, em 2 de abril de 2005 e ao seu funeral compareceram dezenas de milhares de pessoas que já o viam como santo. Aclamado como o mais influente líder do século vinte, Wojtyla foi beatificado por seu sucessor, Bento XVI, em 2011. Três anos depois, o Papa Francisco o canonizou. (GJ)

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·         Gesiel Theodoro da Silva Júnior, 56, cronista e pesquisador, membro da Academia Botucatuense de Letras, é autor de 40 livros, dentre os quais a biografia “Dom Vicente Zioni, Mestre da Fé”.