Durante a cobertura da Operação Lava Jato para o jornal Folha de S. Paulo, o repórter Wálter Nunes decidiu escrever o livro “A elite na cadeia: o dia a dia dos presos da Lava Jato”. A obra acaba de ser publicada pela editora Objetiva.
“Eu percebi que as pessoas tinham muita curiosidade em saber como era a vida dos empreiteiros e políticos na cadeia. Meus amigos que liam a matéria queriam sempre saber mais. Resolvi então mergulhar no assunto para fazer um livro”, relata Nunes, de 43 anos, que antes de ingressar no jornalismo, viveu e estudou em Avaré.
O repórter já tinha realizado matérias sobre o que se passava com os presos do Petrolão dentro da carceragem da Polícia Federal, em Curitiba, e no Complexo Médico Penal, em Pinhais. Nunes conversou com presos, ex-presos e seus parentes. Além de carcereiros, funcionários do presídio, policiais federais e advogados.
“Até conseguir montar um retrato de como era o cotidiano nas duas prisões, eu colhia relatos das pessoas que viveram ali e então buscava confirmar com pelo menos outras duas pessoas que presenciaram cada caso”, revelou.
O que chamou a atenção do jornalista ao apurar a história para o livro foi a diferença entre o tratamento que é dado aos presos da Lava Jato e aos outros presos no Complexo Médico Penal, de Pinhais.
“A ala dos presos da Lava Jato é limpa, silenciosa, os agentes os tratavam com cordialidade. As celas têm três camas e eram ocupadas por, no máximo, três presos. Ninguém dormia no chão. Não há superlotação, pelo contrário. Havia celas vazias. Não é um quarto de hotel, lógico. Mas são cubículos sem infiltração, com um mínimo de conforto. Já nas quatro primeiras galerias as condições eram opostas. Sujeira, falta de estrutura, ratos e baratas circulando por ali, mau cheiro, celas superlotadas, presos dormindo pelo chão. Além de denúncias de maus tratos e tortura. Eu não acho que os presos da Lava Jato deveriam ser maltratados, pelo contrário. Mas entendo que os outros presos mereciam condições melhores, mais humanas. Eu considero que esse abismo que separa detentos confinados no mesmo presídio é mais um exemplo de como estado brasileiro trata de maneira diferente ricos e pobres. Nem na cadeia eles são iguais”, apontou.
Nunes destaca ainda a importância da investigação jornalística nos dias atuais.
“É fundamental. Uma informação mal apurada, errada ou, pior, mentirosa, é uma violência contra o cidadão. Todos nós precisamos de informações precisas para poder entender o país em que vivemos e tomar decisões, como por exemplo, votar ou apoiar determinada causa”, conclui.
LANÇAMENTO
Wálter Nunes receberá o público para o lançamento do livro e uma sessão de autógrafos no dia 25, segunda-feira, às 19h30, Associação Regional dos Engenheiros, Arquitetos e Agrônomos de Avaré (AREA), na Rua dos Engenheiros, 26.
“Amigos, será uma mistura de lançamento com bate-papo. Foram quatro anos apurando como era a vida no cárcere de empreiteiros, políticos e lobistas, misturados a assaltantes, traficantes e contrabandistas”, afirmou o escritor.
“Lá na AREA vai ter uma pessoa vendendo o livro e quem quiser uma dedicatória é só falar. Minha letra é horrível, mas estou me esforçando para melhorar com um caderninho de caligrafia”, brincou.
(Colaborou Gesiel Júnior, de Avaré)