Maria Helena Blasi Trevisani e Carmen Sílvia Martin Guimarães

Gesiel Júnior
Especial para o Botucatu online

Empossada em julho, a presidente da Academia Botucatuense de Letras, professora Carmen Sílvia Martin Guimarães está em franca atividade. Gentilmente ela concedeu uma entrevista em que realça o pioneirismo da presença feminina entre o grupo de literatos da Cidade dos Bons Ares e das Boas Escolas.
Membro efetivo da instituição desde 1993, a educadora e escritora ocupa a cadeira nº 9 que tem como patrono o célebre escritor conterrâneo Hernâni Donato. Graduada em Letras pela atual Unifac, em 1970, obteve especialização em pedagogia pela Unimar em 1989. Hoje, ela é aposentada do magistério, e mesmo tendo uma compleição delicada, continua sendo uma personalidade atuante.
Botucatuense, 70 anos, Carmen Sílvia é casada com o biomédico Celso Guimarães Júnior, com quem teve um casal de filhos: Marcelo e Fabiana. Após atuar como professora primária e professora secundária de português e inglês em escolas públicas, ela foi coordenadora do Ensino Médio do Colégio Santa Marcelina e da Escola Técnica Dr. Domingos Minicucci Filho, da qual foi também diretora.
Violonista, a nova presidente da ABL iniciou seus estudos musicais aos sete anos com a mãe. Também aprendeu piano e, em meados dos anos 1980, quando mudou-se com a família para Promissão, cursou o Conservatório Musical de Lins. Além disso, Carmen Sílvia é autora dos livros “Familiando… em Prosa e Verso”, “Cem Anos das Marcelinas no Brasil” e “Aprendendo a aprender: o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa”, edições publicadas, respectivamente, nos anos de 2011, 2012 e 2015.
Atenciosa, Carmen Sílvia aceitou apresentar aos leitores do Botucatu online aspectos da emblemática confraria cultural de Botucatu, da qual ela comprova ser a figura, hoje, de maior e benéfica influência, nesta entrevista:
– A sra. é a primeira mulher a presidir a quase cinquentenária ABL?
Não, a primeira foi a acadêmica Maria Amélia Blasi de Toledo Pizza que a dirigiu, na terceira Diretoria, de 2002 a 2005. Eu me sinto muito honrada em ser a segunda mulher a assumir a presidência da Academia Botucatuense de Letras, nesta XI Diretoria, mandato da 2019 a 2021, quando essa instituição completa 47 anos de vivência.
– É sinal de que gradativamente o espírito feminino conquista espaço em instituições dominadas pelos homens?
A Academia Botucatuense de Letras, desde os seus primórdios, já instituía mulheres em seu quadro, e elas foram assumindo seu espaço. Não considero a ABL uma instituição “dominada” pelos homens, mas de homens que sempre respeitaram, confiaram e indicaram mulheres para assumirem tal cargo e outros de grande importância. Trabalho lado a lado.
– A ABL, entretanto, desde a sua fundação, deu abertura a mulheres de vanguarda, como a cronista Elda Moscogliato, uma de suas fundadoras. Isso foi importante?
Esse foi o ponto forte e marcante da Academia Botucatuense de Letras: abriu espaços para as mulheres, admitindo-as em seu quadro, antes mesmo de a Academia Brasileira de Letras o ter feito. Em 1972, admitidas, e em 1973, empossadas, as seguintes mulheres:
Membros Efetivos: Elda Moscogliato e Dinorah Silva e Alvarez.
Membros Honorários: Maria Joé Leandro Dupré e Marina Passos.
Membros Correspondentes: Vanice de Andrade Camargo Alves (ainda viva e residindo em Botucatu).
Já a Academia Brasileira de Letras só empossou uma mulher em seu quadro, em 1977: a escritora Rachel de Queiroz.
Completando o quadro de patronos da ABL, foram criadas as seguinte cadeiras: 24 – patrona: Maria José Dupré, 25 – patrona: Maria Lúcia Dal Farra, 26 – patrona: Elda Moscogliato, 27 – patrona: Zalina Rolim, 36 – patrona: Djanira da Motta e Silva e 40 – patrona: Cecília Meirelles.
– A sra., como educadora, crê em mudanças concretas na educação e na cultura deste país, a partir do governo atual?
Como professora e educadora, sempre sonhei e lutei por uma melhor Educação! Fico muito triste ao ver e ouvir as notícias pessimistas a respeito da Educação. Mas, mestre que é mestre, nunca vira “ex-professor”: sempre mantém a esperança numa melhora na sociedade, na família e, consequentemente, na escola. É a família e a sociedade que poderão salvar a Educação. E cabe ao governo estabelecer, ouvindo os mestres, uma meta justa de Educação e um salário digno para aqueles que foram seus mestres e de tantos brasileiros.
– Quais as suas metas para favorecer as atividades literárias e científicas à frente da ABL? Planeja novas parcerias com o poder público e a iniciativa privada?
As metas da ABL sempre foram disseminar e proteger a cultura e as ciências, incentivando a leitura, atuando ao lado da comunidade. Mantemos a parceria com a Prefeitura e com a Câmara de Botucatu nas solenidades oficiais, tendo sempre como orador um acadêmico. Atuamos, como banca julgadora, em concursos promovidos pela Secretaria Municipal de Educação. Membros da ABL se fazem presentes em exposições de pintura, lançam livros, fazem palestras em escolas divulgando a ABL e incentivando a leitura.
No último “A Avenida é sua”, em parceria com a Pastoral da Educação – que possui em seu grupo vários membros da ABL – nossa entidade se fez presente, expondo livros de autores acadêmicos e doando volumes de livros aos que se interessaram.
No último dia 22 a ABL esteve participando do projeto “Unesp Aberta”, quando divulgamos nosso trabalho, informando que muitos médicos, veterinários e funcionários da Unesp compuseram ou compõem o quadro da ABL. Enfim, a ABL caminha ao lado de Botucatu!
– Qual a sua mensagem, em especial, às mulheres da atualidade?
Sermos mulheres corajosas, fiéis, esperançosas e autênticas, em tudo o que fizermos.