Gesiel Júnior
Especial para o Botucatuonline.com

No Sínodo para a Amazônia, que terminou no último domingo, em Roma, o Papa Francisco condenou o desflorestamento da região e pediu ajuda missionária aos povos que lá sofrem injustiças. Contudo, já responde a este apelo um padre originário da região: Luiz Aparecido Iauch, que desde 2016 trabalha em São Gabriel da Cachoeira, a diocese mais indígena do país.

Padre Iauch, de 63 anos, mora a 850 km de Manaus, na fronteira com a Colômbia e a Venezuela, convivendo numa vasta área maior do que o Estado de São Paulo, que tem graves problemas como exploração de crianças e adolescentes e o tráfico de drogas, questões discutidas no Sínodo.

“A missão é sempre doação. Por isso eu vim, estou vivenciando e procurando testemunhar Cristo na caridade e na partilha com os irmãos ribeirinhos”, afirma.

Descendente de suíços, o missionário nasceu em Itatinga, mas viveu na juventude em Avaré. Seus antepassados emigraram para a região em 1937, atraídos curiosamente também por um missionário: o padre Emílio Immoos. Vocação madura, Iauch ordenou-se padre aos 47 anos, em 2003.

Discreto e humilde, trabalhou como cooperador nas comunidades paroquiais de Águas de Santa Bárbara e de Cerqueira César antes de assumir a Paróquia de Nossa Senhora de Fátima, em Avaré, onde permaneceu até 2011. No ano seguinte, partiu para a sua primeira missão, em Ipameri, no Estado de Goiás.

Em fevereiro de 2016, ao conhecer o projeto missionário da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), padre Iauch se prontificou a trabalhar na Amazônia. Com aprovação do arcebispo de Botucatu, dom Maurício Grotto de Camargo, ele seguiu para uma experiência missionária de quatro anos.

“Na região a catequese com os indígenas é feita com a inculturação do evangelho, iniciando a população local numa vida cristã”, revela.

CHAMADO

Se nos dispomos para a missão, nem sempre a escolhemos: a missão nos escolhe. Mesmo porque o chamado de Deus à missão é constante, seja local ou além-fronteiras”, explica o padre Iauch, ao falar sobre o que levou a um lugar tão distante como São Gabriel da Cachoeira, cujo território é maior do que a Itália. Ele disse acreditar nesse projeto missionário “por ver a Igreja em saída, que deve ir às periferias geográficas e existenciais”.

Localizada na região do Alto Rio Negro, no Amazonas, a área de trabalho do padre Iauch tem hoje a maior população indígena do Brasil.

Dos 45.564 habitantes do município de São Gabriel, 95% são indígenas que representam 23 etnias. É também o lugar onde tem quatro línguas oficiais indígenas: tukano, baniwa, yanomami, nheengatu, além do português.

Depois de atender os nativos, padre Iauch percorre longas distâncias, muitas vezes de canoa, para levar a palavra de Deus e a comunhão eucarística para ribeirinhos e caboclos residentes em áreas de difícil acesso, onde demora semanas para uma missa ser celebrada e onde as comunidades enfrentam problemas sociais, como alcoolismo, violência contra a mulher, a exploração sexual e o tráfico de seremos humanos.

Em meio à perda da cultura e identidade na bacia amazônica, o missionário vê que “a vida humana e o ambiente estão sofrendo uma séria e, talvez, irreversível destruição”. Por isso se sente estimulado a anunciar a verdade do evangelho, que para ele “deve chegar ao coração de todos, principalmente daqueles mais fragilizados e que são oprimidos e maltratados”.