O sonho.

Estava em frente a casa da Tute, na COHAB 1.
Havia um caminhão baú parado.
Abri as portas e tinha muita comida, bebida, coolers lotados.
Rosane apareceu e me perguntou:
– Você acha que dá pro nosso piquinique, Dedé?
Aí eu já estava em frente ao Registro Central, no HC, que nem existe mais.
Ninguém me conhecia, ninguém me atendia.
Paulinho vem vindo pelo corredor, muito jovem, magro e todo de branco. Acompanhando uma equipe de enfermagem.
– Paulinho, ainda bem que você apareceu! Eles não me conhecem e não me atendem…
Ele me olhou, me ignorou e seguiu.

Acordei chorando. Muito triste e confusa.
Sonhei com os meus amigos mais próximos de todos os anos em que trabalhei lá.
Rosane e Paulinho pra sempre no meu coração.

Liguei o rádio.
E fiquei sabendo do incêndio no almoxarifado da secretaria de Saúde.
Quantas provações esse ano!
Que tristeza!
Desejo muita garra e fortaleza pro prefeito Pardini, Dr. André Spadaro e todos os funcionários.

Esses acontecimentos, enchente/pandemia/incêndio, estão pondo a prova a capacidade de administração municipal.
E temos que nos orgulhar, sim!

Quem dera o habitante do Alvorada tivesse um mínimo de compaixão e de senso administrativo.
Mas não.

O ministério da educação ficou pra um bacharel em direito, teólogo. Ponto pra ala evangélica.
Depois da ” ala ideológica da ignorância” do Weintraub, o que esperar da educação?
Ranço e preconceito? Retrocesso?
Estou absolutamente descrente.
Vamos acompanhar.
Mudança total de rotina.
Café da manhã, bons dias bons, a busca por um educador pra Pretinha, o retorno da Arerine e a prontidão do Fábio.
Muitas gargalhadas com Fernando lembrando nossa viagem pra Chavantes…

Aproveito pra dizer, que  tenhoprazer em saber que, ao contar minhas histórias, faço vocês lembrarem das suas, gerando emoções e alegrias, sensações e saudades.
Acredito, pelo retorno que recebo, que estou no caminho certo.
Sempre do bem, mesmo que algumas vezes tristes, mazinha ou irônica.
Gratidão.

Molhei as plantas.
A amoreira acordou, ebaaaaa!

Angela e Jefferson vieram resolver a borracha da geladeira. E não foi fácil não.
Foram três horas de trabalho, caprichoso e técnico. Com direto a orientações no final.
Eles trabalham com a linha branca e eu recomendo a Geloforte, sim!

Meu irmão André passou e trouxe agradinho. Chipas huuuummmm…

A manhã está acabando e ainda não fiz a prática diária.
Tudo bem.
Não vou sair daqui mesmo.

Meditação, do Gil, pra baixar a ansiedade.

Villa-Matas pra viajar até a Boca do Inferno, na costa portuguesa.

A prática foi na tarde.
Sempre muito bom.
Fortalecendo os valores.
E hoje é aniversário do Caio.
O filho amoroso do meu querido amigo Alcir.
Caio tem muita luz, é bom e generoso.
Sou fã há muito tempo e, quando vejo o amor dele pelo pai chego a emocionar.
Ele é carinhoso, sorridente, trabalhador e lindo!
Te desejo tudotudotudo de divino e maravilhoso no seu caminhar, beijão procê amor.
E um presente musical.

Já falei que minha casa é a fonte da minha abundância.

Ao abrir a agenda de 1995, encontrei esse texto:

“Ah! O maravilhoso de uma casa não é que ela nos abrigue, que nos aqueça, nem que se seja dono de suas paredes, e sim que tenha depositado lentamente em nós essas provisões de doçura. Que ela forme, no fundo do coração, esse macio obscuro do qual nascem os sonhos como águas de um manancial.”
Saint Exupery

Já sei que terei muitas emoções.
Afinal, 1995 foi o ano do projeto mais lindo que já criei, e tive a colaboração da Ana Botão no decorrer.
“Torpedo Noturno”, o jornal de bar semanal, pintado a mão (a várias dezenas de mãos), que circulou por um ano pelo Baita Batata, Imprensas e SP Bar.

Tudo começou num primeiro de abril, quando resolvi escrever em todas as folhas de sulfite que encontrei no Cafofo…
Tim Maia

…frase que estampa essa página dessa agenda.

Levei minha “obra” pro SP Bar, e o primeiro entreguei pro Tiozinho, Marcão Castanheira.
Que leu, deu risada e disse:
– Nasce o Torpedo Noturno!
Batizou e pediu mais.

Foi uma aventura deliciosa, criativa e instigante.
Foi matar a sede de diversão e arte.
Foi brincar, pintar, cantar.
Tivemos anunciantes!
Amigos queridos, agradeço pra sempre.
Causamos polêmica no célebre Torpedo Noturno da Camisinha,
um show!

E perdemos nosso principal anunciante pelo motivo de, com a distribuição de preservativos junto com a edição, estarmos incentivando a prática do “amor livre”
Hipocrisia pouca é bobagem.

Como é tãotão importante na minha carreira de artista amadora, não terei pressa em folhear essa agenda, daquele que foi um ano tão especial.

Morando com meus filhos, no Cafofo da Rangel Pestana, o início da nossa família de três, com tantos altos e baixos, com tantos riscos e eu em plena adolescência tardia… ahhhh, foi incrível, importante, inesquecível.

Esse cd duplo, da Marisa, foi trilha.
Essa música em especial.

Foi no Cafofo que o Diego me “apresentou”Jethro Tull.
Tão lindo, ficando cabeludo, com seus amigos Jows, curtindo o rock’n roll.

Lucas declamava Manoel Bandeira correndo pelo quintal, com seus cabelos loiros, e seus olhos e óculos azuis.

“TREM DE FERRO
Café com pão
Café com pão
Café com pão
Virge Maria o que foi isto maquinista?
Agora sim
Café com pão
Agora sim
Voa fumaça
corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo na fornalha
que preciso
Muito força
Muita força
Muita força
Aô …
Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pasto
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
De inagaseira
Debruçada
No riacho
Que vontade de cantar
Aô …
Quando me prendera
No canaviá
Cada pé de cana
Era um ofício
Aô …
Menina bonita
Do vestido verde
Me da sua boca
Pra mata minha sede
Aô …
Vou mimbara vou mimbara
Não gosto daqui
Nasci no Sertão
Sou de Ouricirri
Vou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente .”

Confesso que vivi, né tia Neu?
Neusa Belvel, querida amiga!
Que tinha acabado de voltar pra Botucatu e ficou em nossas vidas.
Do Cafofo até aqui, pra sempre e além.

” Quis evitar seus olhos mas não pude resistir a sua aparição..”

Sempre me apaixonando, sempre movida pelo tesão dos trinta e poucos anos, uma avalanche.

” …como as canções, as paixões e as palavras…”

E as festas ao luar no quintal com bambuzal e saci.
Muitas.
De todos os tipos, tamanhos e cardápios.
Sempre coletivo, sempre colorido, sempre agregador e polêmico.
O Cafofo da Rangel fez história.

E me perco nas memórias sem nem passar da página de informações pessoais.

Tenho uma vida plena.
Você também tem.
Ela está aqui dentro.
A sua está aí dentro.
Tá facinho de encontrar.
Basta ter olhos de ver.
Aceitar e agradecer.

“…E venho assim
Eu vou assim…”

Aí a mamãe chegou.
Veio me visitar.
Tão surpreendente, tão gostoso!
Andou pela casa, pelo quintal, elogiou, curtiu mesmo.
Ficou meia hora e foi embora.
Estou muito feliz!
“…Minha mina preciosa meu império..”
Te amo mãe!

Para reflexão.

Resisti até aqui.

Resistiremos, sempre!

Seguimos.