A Associação Atlética Ferroviária, notas à margem da história  por João Carlos Figueiroa (este texto permanece inédito  pois foi julgado muito grande para a Exposição de  Educação Patrimonial da Estação Ferroviária de Botucatu  – fev 2013)
Indissociáveis são a Ferrovia e o Clube Associação Atlética Ferroviária,de tal maneira que não se pode contar a história da AAF, principalmente de seu time de futebol, sem contar parte da história da Ferrovia. Esses fatos estão registrados na crônica diária de nossa cidade e, principalmente no magnífico livro feito pelos autores: Luiz Roberto Coelho Gomes, Álvaro Picado Gonçalves e Angélica Galvani e editado no ano de 2003. As lembranças mais antigas reportam que era comum na década de 1930 e até antes, equipes de categorias trabalhadoras de ferroviários,como truqueiros, depósito de locomotivas, estação, armazém e outras dependências, se enfrentarem em peladas disputadas na várzea ao lado da antiga piscina S. Paulo, mais ou menos onde hoje está o Ginásio de Esportes da AAF. Isto teria inspirado dois dos ferroviários, Manoel da Silva e Lúcio de Oliveira Lima, funcionários do almoxarifado do Depósito.

A compra da várzea onde jogavam os ferroviários

Contava o sr. Álvaro Picado que os dois entusiastas pensaram em adquirir aquele terreno, que à época pertencia à Cúria metropolitana. Foram então ao bispo D.Frei Luiz Maria de Santana e acertaram um preço de três contos e quinhentos mil réis (réis era o dinheiro da época e se escrevia assim: 3$500:000 réis). Dividiram em três vezes, mas não conseguiram levantar o rateio da última parcela. Foi aí que “decidiram oficiar ao diretor da Estrada de Ferro Sorocabana, propondo a transferência do contrato de compra e venda para o patrimônio da Ferrovia, com o compromisso dela quitar a dívida e que, no local,fosse construído um campo de futebol oficial, para o lazer dos ferroviários do distrito de Botucatu”. Na época não foi possível, mas Acrízio Paes Cruz, que assumiu a presidência da Ferrovia, em seguida, atendeu, nascendo assim a propriedade do campo, vinculado estreitamente à Ferrovia.

Dessecar a várzea

Aproveitando um momento muito próprio, em que a Ferrovia promovia o avançamento de suas linhas, os primeiros diretores solicitaram ao empresário Geraldino Lima, proprietário da Cia de Terraplanagem chamada “Paulista”, para que ele depositasse algumas toneladas de terra sobre aquele charco, elevando o perfil da várzea e preparando o que viria a ser o campo de futebol. O sr.Geraldino Lima foi diretor do Departamento de Futebol por muitos anos. Muito tempo depois, foi necessário um outro serviço de drenagem, como colocação de britas e canos perfurados.
Geraldino Lima, e sua família. Empresário e diretor da AAF, com grandes serviços prestados ao Clube

A Ferrovia transfere a propriedade ao Clube

Muito tempo depois, a propriedade do estádio vem às mãos do clube ferroviário quando, em 1975, o governador Laudo Natel a transfere, por ato concertado entre o clube, as autoridades locais e o governador. O presidente da ocasião, Dagoberto Antunes da Rocha, o prefeito Plínio Paganini, o vereador João Carlos Moreira e o vereador Nelson Spera, comparecem à Procuradoria Geral do Estado de São Paulo para a lavratura da escritura de transferência do imóvel.

A Fundação da Associação Atlética Ferroviaria (AAF)

O clube esportivo AAF foi fundado em 03 de maio de 1939, na sede do Clube Recreativo Ferroviário. O seu primeiro presidente foi o sr. Flaminon Cruz e naquele mesmo mês e ano o time ferroviário sagrou-se campeão da cidade, em torneio realizado com os demais quadros amadores de Botucatu. Começo de sucesso.

Datas significativas para o quadro de futebol, escopo principal no inicio do clube

No rol de datas significativas, o esquadrão da baixada fixou as seguintes lembranças:1942: campeã do tetracampeonato da 5 ª região; 1954 O Palmeiras vem a Botucatu,para um amistoso e os resultado foi de 2 para o Palmeiras e 1 para a AAF; em 1956, é a vez do S. Paulo da Capital visitar Botucatu. O resultado do jogo foi S. Paulo 2 x AAF 1; 1959, na gestão do presidente Paulo Bonome o governador Jânio Quadros autorizou a EFSorocabana a criar o código 690, para permitir desconto em folha de pagamento das mensalidades dos sócios ferroviária; 1961, a AAF sobe para a 1ª Divisão de profissionais do futebol paulista, que na época era a divisão de acesso à “Especial”; 1961, a AAF estréia na 1ª divisão jogando com a Ponte Preta de Campinas. Perde por 5 a1. Sua série chamava-se Paulo Machado de Carvalho e a AAF terminou em 5º lugar.O campeão da 1ª Divisão, naquele ano, foi a Prudentina, de Presidente Prudente;1962, (14 de julho) a AAF inaugura a iluminação de seu estádio com a presença do São Paulo Futebol Clube da Capital, em jogo amistoso. Empata por 1 a 1; 1962, AAF disputa a Copa São Paulo enfrentando a S.E.Palmeiras, da Capital, obtendo um empate por 2 a 2. No campeonato da 1ª Divisão, a AAF sagra-se vice-campeã na série Ermírio de Moraes, empatada com a Portuguesa Santista. Na finalíssima,disputada entre equipes vencedoras das duas séries, sagrou-se vencedora a equipe do São Bento de Sorocaba que ascendeu à Divisão Especial do Futebol Paulista naquele ano; 1963, a AAF começa a obter bons resultados e mantém um esquadrão digno de respeito.
Time da AAF já com uniforme com novo distintivo
Na 1ª Divisão de Futebol, no campeonato deste ano, a AAF termina o ano em 4º lugar da série B, mas o certame prossegue só em 1964. Fica campeão o América de Rio Preto; 1964, AAF fica entre as finalistas de sua série e entra nas finais da 1ª Divisão, que são disputadas no ano seguinte, entre 09 times. Então, fica em 5º lugar. Volta à Divisão Especial a Portuguesa Santista,depois de vencer a Ponte Preta, por 1 a 0, dentro de Campinas; 1965, AAF fica em 4º lugar e a final é disputada entre Bragantino e Barretos, vencendo o primeiro e ascendendo à Divisão principal do Futebol Paulista. 1966: o campeonato terminou no ano seguinte, 1967, e a Ferroviária ficou em último lugar. Sagrou-se vencedora a equipe da Ferroviária de Araraquara, sendo vice o XV de Piracicaba. 1967: AAF perde sucessivamente jogos dentro e fora de Botucatu, não figurando em lugar de destaque. Até onde a imprensa publicou, ela mantinha o 7º lugar na série A. A equipe vencedora daquele ano foi o XV de Piracicaba. Neste ano a Diretoria começa a falar nos seus conjuntos de piscinas, que seriam construídos, posteriormente. 1968: AAF não participa da competição profissional. 1969: Neste ano a AAF também deixa de participar. No final do ano circula a notícia de que a AAF voltaria ao Futebol profissional em 1970. Isso nunca mais ocorreu.
Quadro da AAF ainda ostentando o uniforme original

Os quadros do Amadorzão

Ao longo de sua história o quadro de amadores de futebol da AAF sagrou-se campeão inúmeras vezes. Está no excelente livro de Nivaldo Ceará, “Os Campeões Amadores de Botucatu”: AAF sagra-se campeã amadora de futebol nos anos de 1943, 1944, 1948,1955, 1957, 1959, 1960, 1971. E, nos torneios-início de cada campeonato, ela levantou os títulos nos anos 1943, 1944, 1945, 1948, 1949, 1955, 1956, 1958,1963 e 1968.
A AAF mantinha, até quando foi elaborado o levantamento, a quarta colocação em jogos disputados pela LBF e tinha realizado as maiores goleadas do futebol varzeano de Botucatu, ao EC Vitoriana, em 1957 (14×0); ao Bandeirantes FC, em 1947(13×0) e ao Rodoviário AC, em 1956 (12×1).
Segundo a mesma publicação foi a Ferroviária a levantar o primeiro campeonato oficial promovido pela Liga Botucatuense de Futebol, criado e realizado no ano de 1943.Na partida final, um derby reunindo as principais equipes da cidade, a AAF derrotou a AABotucatuense por 1 a 0. O jogo foi disputado no Estádio Antonio Delmanto, na Av. Dom Lúcio (hoje inexistente), o árbitro foi Antenor Ávila da FPF e o gol foi feito por Mário. O time da Ferroviária foi escalado com:Miguel, Romildo e Alemão. Vênus, Manduri e Vadinho. Gasparini, Tideu, Barra,Bueno e Mário. A Botucatuense escalou: Anésio, Luiz Carlos e Tunga. Ico, Cuca e Jarbas. Pito, Deca, Gianoni, Paulo e Vicente.

Jogadores surgidos nas categorias de base que foram jogar como profissionais em outros times

Zé Maria:Portuguesa, Corinthians e Seleção Brasileira; Zito: Botafogo de R Preto,Seleção Brasil de Jrs, Francana, Rio Branco, Esportivo de Passos e Fluminense de Feira de Santana; Guanxuma: SE Palmeiras e XV de Jahú; Nenê Guanxuma:Guarani, São José e Grêmio; Garófalo: SE Palmeiras; Julinho: Portuguesa e Santos; Zé Ito: Guarani, XV de Piracicaba e Operário de MtGrosso; Marco Antonio(irmão do Zé Maria): Comercial de Ribeirão Preto; Tuta (irmão do Zé Maria):Portuguesa e Ponte Preta; Gil (irmão do Zé Maria): São Bento de Sorocaba; Nardinho Luvizutto (Venezuela); Emir: XV de Piracicaba; Neury: América de S.José do Rio Preto; Calé: Ourinhense e Japão; Zé Viadanna: XV de Novembro de Jahú; Zé Luiz Antigas: Lençoense; Deléo: Lençoense; Daniel Bruder: Atlético Paranaense.

Os técnicos

Esporte Ilistrado de 1942, noticia do derby em Botucatu
Todos eles prestaram serviços em todas as categorias, fossem profissionais, ou amadoras,ou de base, como o infantil e juvenil: Dito Gordo, Sebastião Carnera, Riograndino, José Seraphim Nicoletti, Paulo Bueno rocha, Sidney Cotrim,Demétrio Soares, Fernando, Valeriano, Tição (Edson Quadros), Alcides Manay, Gatão, Lamil, Toninho Santana, Ivair Tardivo, Totó Protes, Shirley Lessa e Rubens Galvani.
Noite de inauguração da iluminação do campo. Presença do São Paulo FC. Na foto, com cachecol, o dedicado diretor da AAF, Álvaro Picado Gonçalves

Os presidentes

(1939) João dos Santos Neves; (1940/1953) Lucio de Oliveira Lima; (1954/1955) Jacy Mauro Fattori; (1956/1957) Arando Audi; (1958 a 1959) Antonio Paulo Bonomi; (1960/1961) Nelson Dib Saad; (1962/1963) Nicolau Mercadante; (1964/1967) Eduardo Guedes Cassimiro;(1968/1971) Dagoberto Antunes da Rocha; (1972/1977) Eduardo Guedes Cassimiro;(1978/1997) Plínio Paganini; (1998/2005) Domingos Corvino – no final deste mandato, o presidente Corvino exonerou-se, assumindo em seu lugar, por três meses o presidente do Conselho Deliberativo, Dr. Newton Colenci; 2006/2014 João Francisco Chávari.