O engenheiro civil Clóvis Milton Lunardi, que mora no Paraná, guarda um documento precioso em casa: a habilitação de cocheiro urbano amador que ele retirou em 1945, em Botucatu, no estado de São Paulo.

A carteira é uma prova de que antes mesmo de o Brasil chegar a ter uma grande frota de veículos já havia a preocupação de autorizar formalmente quais eram as pessoas habilitadas a dirigir um, mesmo que fosse de tração animal.

Lunardi retirou o documento na delegacia de Botucatu. Assim como ele, todos os cocheiros que precisavam de habilitação deveriam ir até a delegacia mais próxima e fazer as manobras corretamente. “Era preciso deixar a charrete bem estacionada. Também se falava que sempre, quem tinha a preferência, era o cocheiro que vinha pela direita”, conta Lunardi.

 

 

Os cocheiros dificilmente guiavam berlindas confortáveis. O comum era ver carroções que transportavam mercadorias e diligências que levavam passageiros de uma cidade a outra. No centro das cidades havia diversos espaços destinados para estacionamento das diligências. Com a chegada da linha férrea, porém, os estacionamentos foram desaparecendo. “Os proprietários de hotéis passaram a usar as diligências para fazer o transporte dos cliente do hotel até a ferroviária e vice-versa”, explica o historiador Arnoldo Bach.

A primeira vez em que o Brasil viu um meio de transporte refinado sobre rodas, foi quando a corte portuguesa se mudou para o país. Nas 15 embarcações que compunham a Real Esquadra vieram entre 10 e 15 mil pessoas e muitos móveis domésticos, entre eles tranquitanas e berlindas. Foram elas que começaram a ditar os padrões de moda para a locomoção. Antes disso, os brasileiros, mesmo os que tinham mais dinheiro, estavam acostumados a andar a pé, a cavalo, em carros de bois e, no máximo, em carroças precárias puxadas por mulas.

Fonte: Gazeta do Povo