Considerada mais transmissível que as demais variantes em circulação no Brasil do Sars-CoV-2, o vírus causador da covid-19, a variante Delta foi identificada, pela primeira vez, em uma amostra proveniente de um munícipe de Botucatu, cidade localizada a cerca de 240 quilômetros da capital paulista. O alerta epidemiológico foi dado oficialmente nesta quarta-feira, 18 de agosto, às autoridades de saúde do município pela Rede de Vigilância Genômica da Unesp, que integra a Rede de Alertas das Variantes do Sars-CoV-2, coordenada pelo Instituto Butantan.

Esse sequenciamento genético positivo para a variante Delta se refere às amostras da Semana Epidemiológica 31, de 1º a 7 de agosto de 2021, antes do dia de aplicação da segunda dose da vacina Oxford-AstraZeneca, campanha que completou o ciclo de imunização da população adulta de Botucatu em 8 de agosto — mais de 60 mil pessoas residentes na cidade já receberam as duas doses do imunizante.

Em razão do estudo de efetividade da vacina Oxford-AstraZeneca, realizado em colaboração com a Unesp, além da imunização em massa dos munícipes, todos os casos positivos para Sars-CoV-2 identificados em Botucatu e em outras 11 cidades da região, conhecida como Polo Cuesta, estão sendo seqüenciados para o monitoramento das variantes do vírus em circulação nessa parte do território paulista.

“Um dos méritos de uma pesquisa de vida real como esta em andamento em Botucatu é avaliar impacto de vacinas em situações como esta, com mudança de variante (predominante) ou entrada de nova variante”, afirma Carlos Magno Fortaleza, principal pesquisador do estudo e professor da Faculdade de Medicina da Unesp, campus de Botucatu.

“Até este momento, a maioria dos casos (da variante Delta) havia sido diagnosticada no eixo Rio-São Paulo, incluindo algumas cidades ao longo da Via Dutra (principal rota rodoviária entre as duas capitais). O achado em Botucatu pode indicar uma interiorização desta variante. Isso está ocorrendo mais lentamente do que temíamos, mas está entrando (no interior)”, afirma Carlos Magno Fortaleza, professor da Unesp.

Apesar de os cientistas ainda buscarem respostas para algumas questões relevantes, como a duração da eficácia do imunizante ou o porquê de a variante Delta do Sars-CoV-2 conseguir escape para se propagar em uma população vacinada (o que já ocorreu em outros países), a vacina da Oxford-AstraZeneca protege, com as duas doses aplicadas, em 70% dos casos sintomáticos –com uma só dose, a proteção cai para 30%. “Este sequenciamento da variante Delta em Botucatu é um ponto de atenção. Vamos seguir monitorando, em parceria com a rede coordenada pelo Butantan”, diz o professor Jayme de Souza-Neto, coordenador da Rede de Vigilância Genômica da Unesp (Vigenômica).

O sequenciamento genético dos casos positivos da região está sendo realizado pelo Laboratórios de Biologia Molecular do Hospital das Clínicas de Botucatu, sob a coordenação da professora Rejane Grotto, e pelo Laboratório Central Multiusuário, coordenado pelo professor Jayme de Souza-Neto. “A variante Delta é de alta transmissibilidade e este trabalho de vigilância é importante para balizar tomadas de decisões estratégicas pelas prefeituras locais”, afirma Rejane Grotto.

De acordo com o reitor da Unesp, professor Pasqual Barretti, o achado da variante Delta em Botucatu mostra a importância de a Universidade estar liderando um estudo clínico de mundo real, de referência mundial, da vacina Oxford. O reitor, que é médico, reforçou que suas decisões administrativas serão guiadas pela ciência e que vai garantir o sequenciamento genético de todos os casos positivos de covid-19 identificados na comunidade universitária. “A Reitoria vai garantir recursos aos laboratórios que fazem o sequenciamento, de modo que não haja ônus às unidades universitárias”, diz.

Além de pesquisadores da Universidade de Oxford, no Reino Unido, e da Unesp, o estudo clínico de mundo real do imunizante Oxford-AstraZeneca conta com a participação da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), da Prefeitura de Botucatu e da Fundação Bill e Melinda Gates, que financia a iniciativa. As doses da vacina foram doadas pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI), com o apoio do Ministério da Saúde.

 

Fonte: Fabio Mazzitelli/Unesp – Foto: Martha Martins de Morais