As 13 metralhadoras calibre .50 que sumiram do Arsenal de Guerra de São Paulo, localizado em Barueri, na última semana, são idênticas às usadas no assassinato do narcotraficante Jorge Rafaat Toumani, conhecido como Rei da Fronteira, e em ações que ficaram conhecidas como “novo cangaço”, quando criminosos altamente armados sitiam uma pequena cidade e praticam roubos.
A principal suspeita é de que esses armamentos foram furtados do Exército. Outras oito metralhadoras calibre 7,62 também desapareceram após serem recolhidas para manutenção, no mesmo local.
De acordo com a investigação, as armas foram furtadas com o envolvimento de militares para a venda do material a grupos criminosos. Parte do armamento já foi recuperado em uma área de tráfico do Rio de Janeiro.
‘Rei da Fronteira’
Rafaat foi morto com 16 tiros de metralhadora calibre .50 em junho de 2016. Na época, ele controlava o tráfico de drogas nas cidades de Ponta Porã e Pedro Juan Caballero, na fronteira do Brasil com o Paraguai.
O narcotraficante Jorge Rafaat Toumani, conhecido como ‘Rei da Fronteira’ — Foto: Reprodução
O “Rei da Fronteira” estava dentro de um jipe, quando um grupo de homens fortemente armados se aproximou em dois veículos: uma Toyota Hilux e um Ford 250. Dentro dos veículos, havia um fuzil AK 47 e metralhadoras, uma delas calibre .50, que é antiaérea.
‘Novo cangaço’
Metralhadoras calibre .50 também foram usadas em ações criminosas que ficaram conhecidas como “novo cangaço”. Uma delas aconteceu em Botucatu, a 235 km de São Paulo. A cidade viveu cenas de terror durante um violento assalto na madrugada de 30 de julho de 2020.
Um grupo de cerca de 40 bandidos armados e mascarados atacou pelo menos três agências bancárias da cidade — uma delas foi destruída por explosivos —, fez moradores reféns e por mais de três horas trocou tiros com policiais, ferindo dois deles. Um dos suspeitos também foi atingido e morreu.
Após o ataque, parte dos criminosos foi presa. Os agentes também recuperaram dinheiro e apreenderam carros blindados e um fuzil antiaéreo calibre .50 que havia sido usado nos assaltos.
O uso de metralhadoras calibre .50 pelo novo cangaço existe pelo menos desde 2009, quando a polícia prendeu João Ferreira Lima, conhecido como o homem da .50, no Tocantins.
Lima foi detido quando se deslocava para a Venezuela com o intuito de praticar o assalto de uma tonelada de ouro, avaliada em R$ 50 milhões. Ele viajava em um carro blindado e dentro do veículo havia uma metralhadora calibre .50.
Como são as armas
A metralhadora .50 tem mira telescópica para tiro de alta precisão, e consegue atravessar alguns tipos de blindagem e derrubar aeronaves. Algumas, como a produzida pela empresa americana Barrett Firearms Manufacturing, tem carregador com capacidade para 10 cartuchos. A munição usada na arma é do calibre .50 BMG (Browning Machine Gun), e o cartucho tem quase 14 centímetros de comprimento.
Fonte: O Globo