O “velhinho do INPE”. Assim, com bom humor e muita serenidade, se apresentou o Prof. Ricardo Galvão em palestra, ocorrida no último dia 10, no Instituto de Biociências da Unesp de Botucatu. O anfiteatro da unidade ficou completamente lotado. Tudo para ouvir o que o ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) tinha a dizer sobre o monitoramento dos biomas brasileiros, a relevância da instituição ao universo da ciência e pesquisa mundial, e os motivos que o levaram a ser exonerado recentemente do cargo de diretor do mesmo.
No mês de julho passado, o presidente Jair Bolsonaro deu depoimentos desqualificando dados captados por satélites do Inpe, no qual apontava crescimento no desmatamento das florestas brasileiras. Principalmente, na Amazônia. Na oportunidade, Galvão rebateu as acusações de Bolsonaro de que o INPE estaria a “serviço de alguma ONG” e que os dados seriam “mentirosos”. O embate se estendeu ainda ao atual ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que questionou a maneira que estes dados teriam sido divulgados.
Galvão, que é docente do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), exaltou toda a estrutura e tecnologia presente no INPE, o pioneirismo na parte de monitoramento ambiental feito por satélites, a qualidade técnica e experiência dos profissionais que lá atuam, bem como a referência do instituto junto a outros países do mundo. Em especial à China, no qual o INPE há cerca de 30 anos mantém acordos de cooperação para o desenvolvimento de projetos na área de Ciências e Tecnologias Espaciais.
O cientista explica que os dados gerados pelo INPE são armazenados em sistemas abertos [sistemas PRODES e DETER], no qual o IBAMA tem acesso direto. Justamente para que este instituto possa antecipar suas ações, de forma estratégica, para coibir ações de desmatamento e outros crimes ambientais no Brasil. Segundo ele, 25% do desmatamento na Amazônia são em terras do governo. Principalmente direcionado para venda ilegal de madeira e grilagem.
“Os satélites do Inpe têm uma resolução de 60 metros e uma um faixa de varredura da Amazônia de mais de 860 km de extensão. Então para que precisamos de satélites com resolução de 2 metros quando vou ver um desmatamento de 35 hectares ? Afinal, o número de alertas é enorme. Em janeiro foram mais de 1.300 alertas e em julho, mais de 1.800. Mas não davam valor aos alertas. Acredito que não tinham a percepção da gravidade do problema”, argumenta.

Responder com Ciência

Para o ex-diretor do INPE, o maior equívoco de quase todos os governos no Brasil é o de ignorar os conhecimentos científicos para a tomada de decisões e o desenvolvimento de políticas públicas eficientes. Segundo ele, o País vive um momento de “obscurantismo” temeroso o qual precisa ser enfrentado pela sociedade.
“A Ciência não pertence à direita ou à esquerda. Não devemos deixar que nossas convicções políticas e ideológicas turvem nossos olhos quando estamos tratando de Ciência. Infelizmente o ignorante é soberbo. Por isso não podemos dar opiniões gratuitas ou responder de maneira superficial. Mas, sim, com Ciência. Não acredite em super heróis ou mitos”, enfatiza o professor, que se emocionou ao final da palestra ao ler um texto sobre a mobilização de Botucatu na Revolução Constitucionalista de 32, na qual teve participação importante de seu avô, Prof. Sylvio Galvão. “Aprendi com ele, a não fugir ao bom combate”, finaliza.
A palestra completa do Prof. Renato Galvão no Instituto de Biociências pode ser visualizada na íntegra no canal da Agência de Divulgação Científica do IBB, no Youtube.