-nobiliarquia da família Serra Negra – as fazendas do Conde – o trabalho de divulgação do café brasileiro – a entrevista do Conde, sobre seu trabalho na Europa (1915) – o papel da Condessa após a morte do Conde – a doação para construção da Capela de Nossa. Senhora. das Vitórias – estilo construtivo da Capela de Vitoriana  A morte do Conde.

O Conde de Serra Negra chamava-se Manuel Ernesto Conceição e tinha vida ativa na cidade de Botucatu, apesar de que a história contada, e ouvida na antiga vila de Vitória, e mesmo na cidade, reduzi-lo a uma referência histórica da produção do café no município. Sumido!!! Mas isso é um engano. Não se sabe onde achava tempo, e sempre estava  presente, como em 1920, participando da inauguração da estrada que ligaria Botucatu a Itatinga. Naquela ocasião, na manhã de 18 de julho, uma comitiva de automóveis deslocou-se lentamente pela nova estrada, e depois de uma hora e meia, chegou, triunfante, à vizinha Itatinga. Em um dos carros seguia o Conde. Mas não ia só. Em outros estavam o prefeito Nicolau Kuntz, o secretário da Câmara Ataliba Pires do Amaral, o bispo Diocesano Dom Lúcio Antunes de Souza, o jornalista Eurico Levy de Almeida (representando o jornal  Correio de Botucatu), o jurista Alcides Ferrari e outras figuras de expressão. Eram 17 automóveis. Alguns enroscaram pelo caminho.

Aqui ou em outros lugares, o Conde achou tempo pra tudo. No final daquele ano, diz o jornal O Correio Paulistano, em nota do correspondente local (Botucatu), de 23 de outubro de 1920, que “acha-se entre nós o sr. Manuel Conceição, conde de Serra Negra, agricultor neste município e pertencente a uma das mais distintas famílias do Estado”. Sim, sua vida estava ligada intimamente no manejo de suas fazendas em Vitória (hoje subdistrito de Vitoriana). Um ano depois, em 13 de dezembro de 1921, nova notícia do Correio Paulistano aponta sua viagem em expresso noturno, fazendo o percurso Rio/São Paulo. Era um vai e vem, entre Vitoriana (Botucatu), São Paulo (onde fixara residência) e Rio de Janeiro, que não acabava mais. Entremeadas com as visitas às suas outras unidades produtoras de café, em Santa Cruz do Rio Pardo, Pirajuí, São Carlos…

 

Sua morte em 14 de
março de 1923

Até que, sua vida terrena encerrou-se. O seu féretro foi acompanhado por várias autoridades e saiu do Sanatório de Santa Catarina, em São Paulo, seguindo para o cemitério da Consolação. Ali estavam, entre centenas que o jornal (O Correio Paulistano de 16 de março) registra: o tenente Tenório de Brito, representando o presidente do Estado; sr. Francisco Morato; José Cardoso de Almeida; dr. Américo Brasiliense; José de Souza Queiroz; João Rodrigo de Souza Aranha; Custódio Cardoso de Almeida; João A Rubião Filho.

Seguiam no coche funerário as coroas assinadas: “Ao Manéco, saudade eternas de Baby”; “Ao querido papae, últimos beijos de suas filhas Cecília, Elizabeth e Angelina”; “Ao querido papae, ultimo Adeus de Francisco e Gastão”; “Ao querido papae, saudades eternas de seus filhos May e Camillo”; “Ao inesquecível papae, últimas saudades do Pedro”; “Ao bom papae, muitas saudades do Raul”; “Ao querido titio, muitos beijos de Dulce, Mimi, e Helena”; “Ao nosso querido tio Maneco, muitas saudades de Aluízio e José“; “Ao Maneco, saudosa recordação de sua cunhada Angelina Silveira Conceição”; “Ao Conde de Serra Negra, homenagem de Leôncio Franco”; “Ao titio Maneco, muitos beijos e carícias de Elza e Odila”; “Ao tio Manéco, saudades de Francisco”; “Ao tio Maneco, saudades de Bella e Rodrigo”; “Baroneza de Rezende ao seu querido irmão Manéco”; “Ao Manéco, saudades de seu irmão Chico”; “Ao tio Manéco, saudades de Esther e Lauro”… eram dezenas. Na maioria de familiares e, a final, a coroa do Automóvel Clube de São Paulo.

Manéco, o Conde do Vaticano

O título nobiliárquico de Conde lhe foi concedido pelo sumo pontífice Pio X, que em Botucatu, nos dias de hoje, para se referirem à Paróquia da Cohab I, os fiéis dizem “Pióchi”. Artifícios da língua.

Pois bem, o seu título de Conde era do papado e foi concedido nos idos de 1913 (anunciado pelo Correio Paulistano em 21 de outubro), e vem noticiado pelo Correio Paulistano, com nota de Santa Cruz do Rio Pardo, local de uma de suas propriedades de plantação do café: “O senhor Manuel Ernesto da Conceição, estimado fazendeiro deste município, acaba de ser agraciado por SS. o papa Pio X com o título de Conde de Serra Negra.”

Na família do Conde já existiam personagens da nobiliarquia imperial brasileira, com títulos concedidos pelo imperador Pedro II. Por exemplo, seu pai, Francisco José da Conceição era o Barão de Serra Negra, e sua mãe, a baronesa. Os dois com propriedades em Rio das Pedras, São Pedro e Piracicaba. Ela,.a Baronesa de Serra Negra, por sua vez, já vinha de uma família de nobres, sediada em Valença. Chamava-se Gertrudes Eufrozina Amaral da Rocha. Seus pais eram Ana Joaquina do Amaral e Manoel da Rocha Garcia. Eufrozina foi a sexta filha do casal.

Mas não para por aí. De um esboço sobre a genealogia da família Serra Negra, destacamos: “Entre as matronas paulistas já falecidas que, depois de uma longa vida toda ela dedicada à família e ao bem, não podemos deixar de recordar a Baronesa de Rezende (Ana Cândida da Conceição), falecida em 1946 na sua fazenda “São Pedro”, em Piracicaba, na bela idade de 96 anos. Era filha mais velha do Barão de Serra Negra ( Francisco José da Conceição) e de Dona Gertrudes da Rocha (Baronesa de Serra Negra); casou-se com o Dr. Estevam Ribeiro de Souza Rezende, mais tarde agraciado pelo Imperador D. Pedro II, como título de Barão de Rezende. O seu esposo era segundo (2º) filho varão dos Marqueses de Valença e tivera como padrinhos de batismo o Imperador e a princesa Dona Januária”.

Manuel Ernesto, o Conde

O Conde de Serra Negra foi o quinto (5º) filho, dos vinte que tiveram seus pais, os Barões de Serra Negra. Foi casado com Dona Maria Justina de Souza Rezende, a Condessa de Serra Negra, também conhecida na família e na Botucatu antiga como “Dona Baby”. Ela já vinha de uma família com títulos de nobreza, sendo filha do Barão de Valença e de Dona Justina Emerich, baroneza de Valença, como vimos.

Assim deu-se o entrelaçamento de várias famílias de cafeicultores, que ao final fez estender seus títulos nobiliárquicos para a descendência, como referência (filha do Marquês…, filho do Conde…, e etc.).

Foi assim com o Conde, filho do Barão de Serra Negra e a Condessa (dona Baby), também filha dos Barões de Valença, este por título concedido pelo Imperador Pedro II.

Dona Baby

A primeira vez eu ouvi uma referência à Condessa, nesses termos tão íntimos, foi feita pela Chada, uma moradora da Vila Vitória muito conhecida, em documentário realizado durante o governo do prefeito Mario Ielo. Naquela época, outros excelentes documentários enfocaram a vida do romancista Francisco Marins, de Hernani Donato, de Dom Zioni, de Alcides Nogueira e dela própria, a Chada. Dela, com o Teatro Paratodos lotado, foi possível ouvir detalhes da vida da Condessa na antiga Vila de Vitória, seu apelido carinhoso dentro e fora da família e, inclusive, a doação das terras para a construção daquela peculiar Capela que ali existe.

Editada há vinte anos atrás, por mim mesmo, a Revista Café e Ferrovia informa que “nascida Maria Justina de Rezende (depois Conceição, após casar com o Conde), a Condessa de Serra Negra morou boa parte de sua vida em uma de suas fazendas, junto à Vila Vitória, atual Vitoriana. Depois do falecimento do Conde Manuel Ernesto Conceição mudou-se para São Paulo, onde faleceu aos 81 anos, no dia 10 de abril de 1956. Na capital (de São Paulo) colaborou com o jornal O Diário de São Paulo, escrevendo cartas quase diárias onde fazia sugestões e discorrendo com desenvoltura sobre assuntos nacionais e internacionais. Não era para menos. Diz o jornal: …a fim de auxiliá-lo (o Conde), na crise do café que atingiu seu ponto culminante em 1900, seguiu a Condessa de Serra Negra para Paris, onde se dedicou à propaganda do grande produto paulista. Exibiu o café paulista nas exposições de Paris, de Gand na Bélgica, em Londres. Na Exposição Internacional de Londres, como já o fizera nas demais,  providenciou a distribuição gratuita de milhares de xícaras de café brasileiro. Essa eficientíssima propaganda, custeada com recursos próprios, só se interrompeu em 1916 em virtude da primeira guerra mundial e mercê da requisição pelo governo francês dos estoques de café do Havre (1). Em entrevista a um vespertino paulistano, quando ali já residia, dissera: Sou mãe de oito filhos. Porém já estão todos casados. Enviuvando, achei que devia procurar uma ocupação. Encontrei-a na História e os pobres, que dividem meu tempo em duas partes, absorvendo-me inteiramente.”

 

 

A entrevista, curta e concisa, do Conde de Serra Negra

Era o dia 09 de junho de 1915. No vai e vem, entre as capitais do Rio de Janeiro e São Paulo, entremeado pelas visitas às suas propriedades, falando sobre o café e sua crise, bem como sobre suas atividades na Europa, o Conde concede uma entrevista ao jornal “A Notícia”, que o Correio Paulistano reproduz, me parece num cais do porto do Rio de Janeiro, quando esperava o vapor Araguaya, que fazia a cabotagem entre Rio e Santos.

Não era comum, por essa época, início do século XX, a imprensa realizar entrevistas com os padrões que temos hoje. Normalmente as notas eram oficiais, nascidas das repartições públicas e muitos repórteres trabalhavam dentro de uma “sala de imprensa”, onde tinham suas mesas e armários, dentro das próprias repartições das quais eram setoristas, e das quais recebiam seus salários, geralmente ministérios ou secretarias municipais. Era o Rio de Janeiro antigo. Foi o tempo anterior à máquina de escrever e na fronteira da primeira revolução que as redações passariam. Em seu último livro, Carlos Heitor Cony fala disso. Deveria ser lido por todos os jornalistas. (2). Mas o Correio Paulistano, por alguma razão, fez o contrário. É verdade que deixou, num cantinho da direita de uma de suas páginas, duas colunas pequeninas, com perguntas e respostas do Conde, respostas muito reveladoras de seu trabalho…

Em 10 de junho de 1915 –

A PROPAGANDA PARTICULAR DO CAFÉ PAULISTA
– Uma entrevista com o Conde da Serra Negra –

 

Rio, 9 – Passou hoje, por este porto, a bordo do paquete “Araguaya”, o Conde da Serra Negra.

O distincto viajante concedeu a um jornalista da “Notícia”, que o foi ouvir, a seguinte entrevista:

“=Há 15 anos, disse o entrevistado, fixei residência em Paris, à rua Dome, 5, ocupando-me exclusivamente em fazer propagando do meu café, de “motu próprio”, e por todos os meios.

Faço exposições, offereço café em chávena, dou festas, jantares e bailes, tudo única e exclusivamente para tornar conhecido o café brasileiro e, está claro, o café das minhas grandes fazendas.

 

     (Notícia) = Que razões impulsionaram a tão patriótica iniciativa?

     (Conde) = As medidas que precisamente em 1904 foram tomadas por causa da superproducção do café, pensando-se em obrigar os fazendeiros a uma queima do producto, o que equivaleria à minha ruína e a de muitos outros fazendeiros.

Nessa ocasião o café era vendido a nove mil réis por dez kilos, e dava um lucro espantoso, para mais de 200 por cento.

 

    (Notícia) = E procedeu-se á queima?

    (Conde) = Felizmente não; devido a divergências suscitadas, pois, uns queriam que a queima fosse feita nas próprias fazendas e outros, que os fazendeiros fossem ainda obrigados a pagar o transporte da producção para Santos, onde se realizaria a queima.

Gritei e tive gente a meu lado. Resolvi depois seguir para Paris, onde estabeleci uma torrefação de cafgé de S. Paulo, á rua Jean Jacques Rosseau, nº 73, pagando pelo aluguel do estabelecim,ento oito mil francos por anno.

Estatuti o preço de quatro francos por kilo de café torrado, preço este que deixava o prejuízo de um franco por Kilo, atenta a base de 8$200 por 10 kilos., para o preço de compra do producto.

De então para cá eu e a condessa, minha mulher, temos gasto razoável fortuna, só pelo prazer de tornar conhecido o nosso café.

 

  (Notícia) = Só fez essa propaganda em Paris?

    (Conde) – Também fiz em Londres. Ainda há pouco, ao realizar-se em Londres a exposição da borracha , recebi um convite do nosso ministro para, com uma subvenção diminuta, de 15 mil francos, encarregar-me de fazer uma exposição de café na capital londrina.

Minha mulher foi para alli, e montou um pequeno, mas artístico pavilhão. Durante um mez de festas consecutivas, bailes e banquetes, serviu-se o nosso café, de mistura com “champagne”…

´É claro que os tais 15 mil francos nem deram para as despesas de hotel.

 

   (Notícia)  = E agora?

   (Conde) – Agora vou a S. Paulo, pela 21ª vez, ver as minhas fazendas. Depois voltarei á Europa, em propaganda do café…”.

 

Na Exposição de Lyon

A exposição de Lyon realizou-se em julho de 1914. Nela estavam o Conde e a Condessa, com novo pavilhão, então chamado Pavilhão do Estado de São Paulo. Discorrendo sobre as manifestações da imprensa francesa sobre o pavilhão e seu desempenho, a matéria do Correio Paulistano de 10 daquele mês diz entre outras coisas:

“Diversos jornaes franceses, que recebemos pela derradeira mala, occupam-se largamente da representação do Estado de S. Paulo na Exposição de Lyon, assumpto a que hontem fizemos largas referências. Assim,, em “Le Journal”, o sr. Emile Gautier escreve que o Estado de são Paulo, o mais rico dos vinte Estados do Brasil, “reservou a melhor partye, no lindo pavilhão occupado na Exposição de Lyon, aos famosos cafés que valeram ao Brasil uma reputação mundial.(…) Diz ainda o sr. Gautier que a curiosa Exposição honra altamente o Brasil, o Estado de S. Paulo e o sr. Conde de Serra Negra, que revelara em tempos ao público o mérito do café brasileiro, installando em Paris uma casa afamada,. Onde o café é vendido em estado de pureza absoluta”.

Entre outros, também o L’Echo de Paris, em artigo do sr. L. d’Arconsat, ilustrado com uma soberba gravura do pavilhão do Estado de S. Paulo na Exposição Internacional de Lyon, diz que esse pavilhão “offerece aos seus visitantes uma interessante licção de cousas, fazendo-os assistir ás diversas phases da cultura do café. Os cafeeiros ornados com as suas flores, e depois com os seus frutos, assignalam as primeiras transformações. A seguir encontramos o café colhido, ensaccado, torrado, até chegar à saborosa infusão, verdadeiro néctar dos deuses, que no pavilhão é servido gratuitamente aos visitantes, e que permitte a todos verificar as qualidades incomparáveis do café paulista”

É possível que, entre os objetos expostos no pavilhão estivessem os quadros do pintor Antonio Ferrigno, contratado durante um período de sua vida para retratar em óleo as várias fases da produção do café de suas fazendas na estação de Vitória – Botucatu. Os quadros retratam as várias fases, entre elas uma belíssima gravura do café em flor, tendo ao fundo a que hoje chamamos A Casa do Conde. Esses quadros, segundo alguns autores foram em número de 12 e eram presença constante nas Exposições que o Conde e sua mulher faziam pela Europa.

A doação das terras para a Igrejinha (Capela)

Pra finalizar, vamos falar da doação de terras para construção da Igreja na Vila Vitória, cercanias da que são, hoje, as terras da Usina São Manuel, onde está localizada a sede da Fazenda do Conde de Serra Negra.

Aconteceu assim: tendo falecido o Conde, conforme já abordamos, em 1923, quando a Condessa de Serra Negra e seus filhos resolveram formalizar a doação de um terreno (12 mil metros quadrados) localizado na “estação de Victória, deste município”, para a Igreja. Quem recebeu a doação foi o bispo Dom Carlos Duarte Costa, bispo que regeu a Diocese de Botucatu entre os anos 1925/1938.

Diz a escritura, que traz a data de 14 de maio de 1928, que estavam ali, na Fazenda Villa Victória a Condesssa de Serra Negra e seus filhos e nora: Pedro Conceição Serra Negra e sua mulher Flora Leite Serra Negra e Gastão Conceição Serra Negra. Diz a escritura, “todos maiores e residentes nesta fazenda Vila Victória”. Tudo foi destinado ao Patrimônio de Nossa Senhora das Victórias.

E define o perímetro: “partindo da esquina em frente a casa de Primo Paganini segue uma recta até completar setenta metros, dahi em ângulo recto à esquerda segue até a estrada de ferro Sorocabana e por esta até encontrar a rua em que está a casa do mesmo Paganini e dahi em linha recta até o ponto de partida, dividindo por três lados com elles doadores e por um lado com a estrada de ferro Sorocabana…”

A Igreja (Capela) de Vitoriana,Um estilo único

A Igreja de Vitoriana foi construída no estilo neoclássico e não existe outra como ela, nem na zona rural, onde ela se encontra, nem mesmo na cidade.

O estilo neoclássico representou uma tendência arquitetônica, um renascimento dos valores e ideais clássicos, com características muito bem definidas e procurando reproduzir a arquitetura da antiguidade clássica Grega e Romana, como ainda hoje pode ser visto no que restou dela na Europa. Foi uma reação aos estilos Barroco e Rococó europeus. Correspondeu ao período dos iluministas e do racionalismo renascentista, aproximadamente 1750 a 1830.   .

Foi caracterizado pela presença de colunas e frontões, em formato de triângulo, buscando alcançar proporções dita ideais, entre elas a “proporção áurea”, modelo de padrão para a beleza que se projeta, segundo alguns escritos, pela natureza toda e pelas obras do homem, entre elas a arquitetura.

A Capela de Vitoriana tem alguns os pontos básicos de uma construção neoclássica: colunas (em número de duas e das mais simples), tendo apenas um ou dois anéis rentes ao chão e nenhum capitel (3) – simplicidade aparentemente representando a Ordem Construtiva “Dórica” (4) encimadas por um frontão em formato de triângulo, dividido com as colunas por um friso (barra horizontal (5), com alguns alto-relevos em formatos geométricos. Era norma, nas construções gregas, esse friso ser ornamentado com alto-relevos retratando episódios da vida do povo que as construiu. Em Vitoriana, não se sabe bem o que significam aqueles relevos. Talvez tenham deixado algum complemento para mais tarde. Por fim, cobrindo o frontão triangular, o telhado tendo à frente um complemento (que esconde o telhado) com a cruz cristã no seu ápice. No miolo do triângulo o cálice e a hóstia sagrada, em alto relevo, dão as características cristã do templo. Dentro, sob o pórtico coberto, a porta em arco romano perfeito, ladeada por duas outras colunas, menores, porém mais ornamentadas, tendo em ponto mais alto, ao que parece, capitéis de estilo “Jônico” (6). Sobre a porta, novo adereço se sobressai. Apoiado nas colunas menores, uma trabalhada trave horizontal, da qual nasce um arco, interrompido por uma cruz cristã, no seu ponto mais alto, cruzando a mesma extensão da porta. .

Não se sabe quem construiu a Capela. No vídeo citado no início deste trabalho a depoente vitoriana, Chada, diz ter sido seu pai que a construiu, João Grandi. De quem foi seu projeto? Apenas se fala que o projeto veio da França e foi prometido pelo Conde e pela Condessa em pagamento a uma promessa pela restauração da saúde de uma de suas filhas. O certo é que quem a construiu, sabia das coisas, tendo no mínimo algum curso feito, imagino, em algum Liceu de Artes e Ofícios (ou um aprendizado prático com muito treinamento), pois ali, além do entendimento dos sinais a serem representados na arquitetura, está também a arte de construir, com suas técnicas e o ferramental necessário. Existiam profissionais competentes na cidade, com essas características? Sim, existiam, basta ver o Fórum da Comarca (hoje Pinacoteca) que foi entregue em 1925.

Também não se sabe dos detalhes presentes na construção. Como era seu interior, no momento em que foi entregue. Se outros detalhes externos e internos foram removidos nesses 100 anos (ou quase isso). E, nem quando foi entregue. Ou se já estava construída quando a Condessa e seus filhos legalizaram a doação do terreno à Diocese. Mas isso é matéria para os novos arquitetos e historiadores que já estão em formação na cidade e a quem caberia dar uma força no desvendar os mistérios e segredos daquela icônica construção. (7) e (8)

(1) Havre, (Lê Havre) comuna francesa na região administrativa da Normandia, tendo à beira mar o famoso porto do mesmo nome.

(2) Quase Memória, Carlos Heitor Cony, Editora Folha, Diz Nelson de Sá, editor da Folha, na contracapa, “o quase-romance de Carlos Heitor Cony, transporta o leitor para um outro mundo, ‘um mundo que acabou’, nas palavras de seu autor. O mundo do seu pai, jornalista como ele, mas de um tempo perdido; do Rio capital federal, do compadrio despudorado, não da violência. Do dia-a-dia indulgente.”

(3)    Capitel – parte superior da coluna  ou pilastra, ornamentada ou não.

  • Ordem Dórica – A ordem Dórica é a mais rústica das três ordens arquitetônicas gregas. Supõe-se tenha originado de um tipo primitivo de construção em madeira. (Vitruvio – “Da Arquitetura” escrita no século I a C, em Roma).
  • Friso – na arquitetura clássica é um espaço compreendido na parte superior do entablamento (entablamento: conjunto de arquitrave, friso e cornija). O Friso separa a cornija (cornija: moldura saliente que serve de arremate à fachada de um edifício, ocultando o telhado) da arquitrave (arquitrave: é uma trave horizontal que se apóia em duas ou mais colunas).
  • Ordem Jônica – A Ordem Jônica é uma das ordens arquitetônicas clássicas. Suas colunas possuem capitéis, ornamentados com duas volutas simulando um papiro aberto.

(7) Exemplares de construção neoclássica existem na cidade de Botucatu, em outros lugares. O mais significativo deles é a Caridade Portuguesa, construída para ser a entrada do hospital da colônia portuguesa, que acabou não saindo. Ali estão todos os elementos da arte neoclássica. Mas, ao que me lembro agora, também a frente da Loja Maçônica Renascença (rua Campos Sales, junto ao Ribeirão Tanquinho) e a Loja Maçônica Aquarius, nas proximidades da Escola Estadual Euclides de Campos (antigo Cevila). Ambas as Lojas Maçônicas fizeram acrescentar em seu pórtico alguns elementos da arte greco-romana. Uma outra construção, já demolida, e que tinha sua fachada original pautada pelo estilo neo-clássico foi a Catedral antiga de Botucatu, que ficava no centro da praça da Catedral atual, porém com sua frente voltada para a Vila dos Lavradores. Apenas a fachada imitava o estilo, ele não era construído como é o da Capela de Nossa Senhora das Vitórias e da Caridade Portuguesa, ou das Lojas Maçônicas citadas.

(8)  Existe uma excelente biografia da família Serra Negra, bem pesquisada, na Enciclopédia

Wikipedia, trazendo outras informações e fotos.

 

  • Para dúvidas sobre a arquitetura, consultar um arquiteto. Quem sabe se eles, algum dia, resolverão dar atenção à preciosa Capela de Vitoriana.