Há 44 anos atrás, em 17 de março de 1976, resolvi escrever o relato histórico que segue, sobre o primeiro dia do jornal O Correio de Botucatu, órgão onde comecei trabalhando em 1956, co-irmão da Rádio Emissora de Botucatu, onde trabalhei também. A coleção estava nos porões da Rádio Emissora e eu vivia protegendo-a da poeira, cobrindo-a com panos longos, pois a coleção era e é grande. Hoje ela está no Centro Cultural de Botucatu.
     Naquele ano de 1976, em 22 de setembro, o “Correinho”, como era chamado, estaria comemorando 75 anos de ininterruptas edições; o seu “Jubileu de Brilhante”. Valeria a pena comemorar seu aparecimento. Fora fundado pela família Thomaz de Almeida (sob liderança do primeiro João Thomaz de Almeida, fotógrafo, fornecedor de mudas de uvas (bacelos de uvas, como ele mesmo anunciava), entre outras atividades, e patriarca de uma família de jornalistas talentosos, que deixaria imorredoura lembrança em nossa cidade.
João Thomaz de Almeida
Estava com ele, embora por curto período, o ex-vereador Dr. Miguel Alvarenga, médico. Bem, o “Correio de Botucatu”, jornal, passaria de mão em mão até chegar àqueles dias (1976), sob a direção e propriedade de Plínio Paganini.
Plínio Paganini
Já pertencera a uma empresa chamada “Correios Associados”, criada por Geraldo Pereira de Barros, deputado federal e irmão do governador Adhemar de Barros. Mas, antes, estivera nas mãos dos jornalistas Manoel Deodoro Pinheiro Machado, Jorge Pinheiro Machado e Adolpho Pinheiro Machado. Foi transferido no final dos anos 1940, para Geraldo P. de Barros, radicado em São Manuel, que editou na mesma oficina, localizada onde hoje é o restaurante Girassol, os “Correios” de São Manuel, Agudos, Dois Córregos e Jahú.
Daí vem o nome da pessoa jurídica “Correios Associados”. Quando já não mais interessava, foi repassada para o ex-prefeito de Botucatu Joaquim Amaral Amando de Barros e daí ao jornalista Plínio Paganini, diretor-presidente da PRF-8. Já então, final dos anos 1950 e início dos 60, apenas era editado “O Correio de Botucatu”. Assim, os anos se passaram. 

O CORREIO DE BOTUCATU
No dia de sua fundação 

      “Mais um órgão de publicidade conta o nosso município para afirmar o seu progresso e advogar as suas justas causas”. Assim começou o primeiro editorial do “Correinho”, há exatamente 75 anos. Precisamente, o Correio estampou sua apresentação-editorial na primeira folha do domingo, dia 22 de setembro de 1901. Em cima, com tipos que caracterizaram sua impressão durante longo tempo, o “Título”.

Mais abaixo, em destaque, o nome do Dr. Miguel Alvarenga – primeiro redator, hoje nome de rua. Meia dúzia de colunas: o editorial, a História de Vitor Hugo, uma crônica de Coelho Neto. A Poesia PARNASO, de Gonçalves Dias e o noticiário da Guarda Nacional. Na realidade, as outras 3 páginas, afirmaram o apoio total que o Comércio local e os profissionais de então hipotecaram (seu apoio também) ao novato órgão de imprensa.

Entre anúncios de “cavalo à venda”, (estavam outros): “Dr. Yancy Jones – Dentista Americano”, “Dr. M.Z, de Alvarenga – Médico de Crianças”, “Grande retreta no Club Recreativo do Parque Rabello”, (e) entre eles – dizíamos – o primeiro número de O Correio registrava a vida naquele domingo: Um boletim meteorológico, um atraso do P1 da Sorocabana, a participação do casamento do Sr. Luiz Marques Pavão e D. Zuleika de Assumpção Marques, o banquete ao jornalista Eugênio Silveira (em visita à cidade e à colônia portuguesa aqui radicada).

O Correio, assim, disse bom dia à cidade. E, no seu primeiro dia de vida, apresentou-se adulto. Falou da cidade, apontou o que achava correto e comentou os caminhos a seguir.

Isso tudo, sem nenhuma dúvida, transformou a sonolenta tarde de domingo (festiva – afinal às 5 (17 horas) do domingo, bem à tardinha, estavam prometidas várias peças, escolhidas do repertório do maestro Pedro Soares, no Clube Recreativo – “Tango dos Aymorés”, “Valsa Muchacho”, “Tango do Pescador”). A Rua Riachuelo, onde “nosso anunciante Arnaud Pires” tinha sua farmácia, viu vários botucatuenses impecavelmente trajados, desfilarem com um exemplar dobrado cuidadosamente e colocado no bolso do paletó. Afinal de contas, um periódico que circulasse duas vezes por semana – quintas e domingos – deveria ter seu lugar de destaque.

Nasceu assim o primeiro número e com ele o “Correio” (de Botucatu): um dos mais tradicionais órgãos de imprensa do interior (3). Venceu obstáculos de toda ordem; assumiu posições que variaram com a história (conjuntura do momento); defendeu causas, aceitou desafios. E, principalmente, não mediu esforços para realizar as promessas de seu primeiro editorial: “Despertar o espírito público pela vida de relação que deve existir entre os seres que constituem uma sociedade organizada”


 

  • – nota em 2020 – histórico comemorativo publicado pelo autor na edição do Jornal O Correio de Botucatu, de 16 de março de 1976
  • – nota em 2020 – Eu devo ter imaginado uma série, pois coloquei o número 1, em romano, logo após o título do artigo. 

 – nota em 2020 – Para saber mais sobre o assunto, consultar Gastão Thomaz de Almeida,     jornalista e sociólogo, que escreveu o  clássico “A Imprensa do Interior – um estudo preliminar”, 1983, editora Imesp/Daesp e, “Audálio Dantas, Tempo de Lutas” 1981, editora Câmara dos Deputados.