A nomeação do monsenhor Carlos José de Oliveira esta semana, pelo papa Francisco, como novo bispo de Apucarana motivou o pesquisador Gesiel Júnior, autor de vários livros sobre a história da Igreja na região, a apontar curiosidades históricas que ligam o clero de Botucatu a essa diocese do Norte do Paraná.
Exercendo atualmente a função de vigário geral da arquidiocese de Botucatu, o padre Carlos José de Oliveira, de 51 anos, nascido em Botucatu e criado na paróquia da Vila dos Lavradores (igreja do Sagrado Coração de Jesus), recebeu a nomeação episcopal, publicada pelo Vaticano na última quarta-feira.
Segundo estudos de Gesiel Júnior, o monsenhor Carlos é o terceiro padre a ser nomeado bispo enquanto exerce a função de vigário geral.
“O primeiro foi dom José Melhado Campos. Ele era vigário geral do dom Frei Henrique Golland Trindade, o primeiro arcebispo de Botucatu, em 1960, quando o Papa São João XXIII o nomeou bispo de Lorena. O segundo foi dom Sílvio Maria Dário. Também era vigário geral da arquidiocese em 1965, quando o Papa São Paulo VI o nomeou bispo-auxiliar de Botucatu”, relata o pesquisador, ao observar também que os dois papas citados, hoje já são santos, o que mostra como a Igreja Católica agilizou os seus processos de canonização.
Como o primeiro botucatuense designado bispo vai assumir a diocese de Apucarana, Gesiel lembra que os dois bispados têm profundos laços históricos firmados há exatamente meio século.
Historicamente, os bispados de Botucatu e Apucarana se aproximaram numa fase crítica, em abril de 1968,quando ocorreu a nomeação de dom Vicente Marchetti Zioni para segundo arcebispo de Botucatu. Essa escolha, aliás, foi contestada por parte do clero de Botucatu. O caso, sem precedentes, levou o Vaticano a designar um administrador apostólico para Botucatu, já que dom Zioni não conseguia tomar posse. Veio entãopara administrar a arquidiocese de Botucatu o bispo diocesano de Apucarana, dom Romeu Alberti”, afirmou.
Dom Alberti permaneceu na função, excepcionalmente, por cerca de 10 meses. Foi um período muito tenso não só para a Igreja, pois o Brasil vivia já num período de repressão, estávamos às vésperas do AI-5”, recorda Gesiel. A posse de dom Zioni, a contragosto de um grupo de padres descontentes, ocorreu em abril de 1969. Imediatamente, muitos decidiram se afastar de suas paróquias.
Interessante que alguns se transferiram para Apucarana, acolhidos lá por dom Alberti, dentre os quais os padres Arnaldo Beltrami, Luís Soares Vieira, Pedro Beltrami, Alberto Martins e Benedito dos Santos. Eram sacerdotes jovens, bem preparados, alguns formados em Roma, os quais discordavam da linha pastoral de dom Zioni, a quem consideravam autoritário”, relatou.
“Alguns desses sacerdotes, mais tarde, em meio ao seu trabalho na região de Apucarana, se projetaram na Igreja do Brasil. Dois bons exemplos: Arnaldo Beltrami, que se destacou como comunicador e se tornou assessor de imprensa da CNBB, tendo trabalhado em Brasília. Luís Soares Vieira, que em 1984 foi nomeado bispo de Macapá, no Amapá, e dez anos depois promovido a arcebispo de Manaus, tendo também exercido o cargo de vice-presidente da CNBB. Monsenhor Beltrami faleceu em 2001, ainda moço, mas dom Luís, octogenário, pode testemunhar a respeito, pois continua entre nós”, observou Gesiel.
Para o historiador de Avaré, que é membro da Academia Botucatuense de Letras e autor de 35 livros, a nomeação do padre Carlos para o bispado de Apucarana representa, 50 anos depois da crise de 1968, a retomada das relações do clero de Botucatu com a principal diocese do Norte paranaense. “É muito promissor para os católicos de Apucarana, pois o monsenhor Carlos é uma figura experiente, graduado em Roma e doutorado em Cristologia, tendo já comprovado o seu zelo pastoral”, concluiu.