A grande quantidade de aguapés que cobre trechos do Rio Tietê, na região do centro-oeste paulista, tem prejudicado a atividade de pesca em Anhembi (SP).
Os aguapés tomaram conta de uma das margens do Tietê na cidade e transformaram a paisagem do rio em um “tapete verde”. Segundo levantamento feito pela Secretaria de Meio Ambiente de Anhembi, já são cerca de 30 hectares ocupados pelos aguapés.
De acordo com os pescadores da região, aproximadamente 40 famílias sobrevivem exclusivamente da atividade da pesca. Elas estão há cerca de duas semanas sem poder trabalhar com a ocupação da planta aquática.
“Tá complicado, porque a gente passa para pescar no canal e não tem como passar. Os aguapés taparam tudo e o nosso barco não consegue passar. Os pescadores tão sem saber o que fazer”, revela a pescadora Joelza Aparecida Feliciano.
“Minha família inteira trabalha com a pesca. Pai, mãe, tio, tia, todo mundo sendo prejudicado, porque sem pescar, você vai atrasando suas contas, então é complicado, dependemos exclusivamente da pesca”, conta Amanda Camargo, também pescadora da região.
Além de dificultar a navegação de embarcações, o crescimento desenfreado dessa planta, que se alimenta de resíduos orgânicos, como lixo e esgoto, pode causar a mortandade de peixes e ainda colocar em risco o funcionamento de hidroelétricas, como a localizada em Barra Bonita (SP), cidade a 100 km de Anhembi e também banhada pelo Rio Tietê no centro-oeste de SP.
“O problema desses aguapés começa já na capital, com o lodo e fósforo que vem dos grandes centros urbanos e que desaguam aqui na região. Devido às condições do rio aqui e o assoreamento dele, os aguapés encontram um ambiente propício para o desenvolvimento. Além dos pescadores, a proliferação prejudica outras atividades como o turismo, a mineração”, revela Daniel Zacharias Zago, secretário de Meio Ambiente de Anhembi.
As prefeituras das cidades no interior de SP banhadas pelo Tietê estimam um prejuízo anual de R$ 300 milhões para os municípios da região.
Planta invasora
Os aguapés são vegetais aquáticos que se reproduzem de forma muita rápida, principalmente no verão, e são conhecidos como uma planta invasora e que precisa ser controlada.
Um aguapé sozinho não representa muito perigo, mas, como a planta flutua, é levada pela correnteza e, quando vários aguapés se encontram, formam ilhas, como às margens do rio na altura de Anhembi.
Eles prestam um importante serviço ambiental de filtragem da água, mas, quando em excesso, podem causar problemas, como explica Jozrael Rezende, professor de Meio Ambiente e Recursos Hídricos.
“Eles ocupam um espaço impedindo, inclusive, a fotossíntese no meio aquático. Com a presença, evapora-se muito mais água num reservatório infestado, cerca de cinco vezes mais”, revela.
Em alguns casos, as raízes das plantas podem ter mais de um metro de comprimento. Então, embaixo da água, elas se entrelaçam, formando uma espécie de parede, que dificulta bastante a navegação.
São vários os motivos que explicam a quantidade anormal de aguapés: um deles é que, no período de chuvas, a enxurrada arrasta para dentro da água parte dos fertilizantes jogados no solo. Isso deixa o Tietê com excesso de nutrientes. E, como o aguapé é uma planta e gosta de adubo, a espécie cresce de maneira desenfreada.
“Isso está relacionado à poluição, isso está relacionado aos fertilizantes químicos utilizados na agricultura, que servem de alimentos para esses vegetais e os ajudam a crescer”, conta o professor.
Para amenizar o problema em Anhembi, uma das medidas seria a abertura das comportas de uma usina hidrelétrica localizada em Barra Bonita, cidade vizinha de Anhembi, à vazão máxima para que as plantas desçam rio abaixo. No entanto, a ação é tida como uma solução paliativa, segundo especialistas.
“A solução definitiva seria tratar todos os esgotos de todas as cidades da bacia hidrográfica. A solução paliativa é a remoção”, diz José Galizia Tundisi, especialista em recursos hídricos.
Questionada sobre a abertura da represa, a AES Brasil, responsável pela hidrelétrica localizada em Barra Bonita, no alto Tietê, informou que o aguapé faz parte de um conjunto de plantas aquáticas que surgem ao longo dos cursos d’água, incluindo os reservatórios.
“Quando há o acúmulo dessas plantas próximas às barragens, a empresa realiza a transposição da vegetação, por meio da abertura das comportas dos reservatórios para permitir que a vegetação siga o fluxo natural do rio.”
A AES possui programação aprovada pelo Operador Nacional de Energia Elétrica (ONS) para a transposição da vegetação aquática. Segundo a empresa, esse tipo de manobra é feito periodicamente pela AES, mas é preciso a autorização do ONS.
“A empresa ainda reforça que a operação de transposição da vegetação também depende de condições climáticas favoráveis (vento a favor) para que o resultado da manobra seja efetivo”, disse, em nota.
Fonte: G1