Dormi com a live do Jota Quest nos ouvidos.
Foi um sono bom.
Acordei famélica, que delícia.
Um bom café da manhã, as plantinhas e o céu nublado.
Dia fresquinho.

Fui caminhar ouvindo rádio.

De ontem sobraram as horrorosas notícias de pessoas malignas, tripudiando da dor alheia (8 mil famílias de luto no Brasil!), fazendo estardalhaço e manifestações em frente a hospitais de campanha, em São Paulo.
Que gente nefasta é essa?
Hospitais lotados e esse lixo humano fazendo pouco das pessoas doentes, dos profissionais de saúde.
Vergonhoso!

Pelo jornal, no rádio, soube das confusões e erros do primeiro dia, ontem, da reabertura parcial do comércio de Botucatu.
Donos de lojas ocupando a vaga em frente ao próprio estabelecimento, lojas abertas total, pessoas reclamando de mercadorias erradas, mercadorias que não foram entregues no delivery, enfim…foi o primeiro dia.
Tomara hoje, sábado, tenha sido melhor.
São 40 fiscais pra uma galera ensandecida pelo consumir.

Acredito que, sim!, dar um respiro pros comerciantes é muuuuiiiitoooo importante.
Como também acredito que a quarentena está sendo bacana pra rever necessidades de consumo.

Caminhei por uma hora.
Delícia.
A endorfina e o cérebro oxigenado.
Fiz o percurso comerciários/ginásio.
O visual é muito lindo.
Encontrei caminhantes e ciclistas.
No máximo aos pares.
Alguns com máscaras.
Eu, particularmente, tenho desespero. Parece que minha respiração fica muito profunda.
Um estranhamento que terei que dominar.
Porque sei que vai demorar.

O número de casos em nossa cidade está aumentando.
O número de mortes estabilizado em duas.

De volta a minha casa, banho delícia e prosa boa com a Denise.

Que partilha comigo a  assombro com relação as atitudes insanas dos que tripudiam.
“Nunca imaginei que veria isso em nosso país.”

Até onde vai o egoísmo, a lavagem cerebral e a falta de empatia dos seguidores do pior dos piores?

Terminei de ler Gomorra. Fiz o vídeo pro meu canal no YouTube.

Saladinha de legumes e palmito, azeitonas e ovos, sem maionese.

Conversei com a mamãe.
Delícia.
Video chamada do Lucas, num dia de sol, com Henrique e amigos. Churrasco em Dublin.

Ahhhhhh, eu não existo sem vocês!

Consegui que Fernando não cortasse o cabelo sozinho. E acho que o convenci a voltar a ler e, também, a dar uma caminhada com a cachorra.

Terminei de pintar a última lata do meu estoque.
Pessoas, preciso de doação de latas pra continuar a presentear, na campanha do fique em casa.
Obrigada.

Estou restaurando um lindo porta vasos que ganhei da Silvinha e quero pendurar numa das traves do telhado da varanda.
Pra ter minha amiga representada e sempre pertinho de mim.

Ahhhhhh, a varanda.
Minha casa mede 42m² e minha varanda 30m².
Aqui é o meu lugar especial.
Tem o chuveiro de verão, o banco que meu irmão fez pra mim, os canteiros e as orquídeas, o pé de amora e a rede.
É na varanda que pinto, escrevo, leio, observo, reflito e me alimento.

Carlos Castaneda, no livro “Portas para o infinito” diz que em cada centímetro quadrado temos um lugar melhor, onde a energia vibra e flui linda, onde somos mais nós mesmos.
Esse livro quem me emprestou foi o Marcão Castanheira.
O que sei é que, a partir dessa leitura comecei a prestar atenção e, sim, sempre tem um canto melhor em qualquer lugar.
Como o lado da cama em que dormimos, o lugar a mesa que preferimos, qual lado do ônibus – eu tenho preferência pelo esquerdo – e, assim, tenho também minhas raias preferidas pra nadar na Ferrô, a 2 e a 5.

São particularidades pessoais, podem até parecer bobagens mas não, basta prestar atenção.
E o resultado disso, que pode até parecer mania ou toque, é que fica bom, vira a segurança da escolha.

As vicissitudes da vida.

Por algum motivo me lembrei de uma música com a Marisa Monte e o Arnaldo Antunes, Amor I love you.
Onde Arnaldo declama um trecho de “Primo Basílio” do ma-ra-vi-lho-so Eça de Queiroz.
Que recomendo, o livro e toda a obra do autor.
Esse…

“Tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente!
Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades,
e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas,
como um corpo ressequido que se estira num banho tépido;
sentia um acréscimo de estima por si mesma,
e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante,
onde cada hora tinha o seu encanto diferente,
cada passo conduzia a um êxtase,
e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações!”

Que viagem deliciosa!

Daí vem o lance das cartas de amor.
Porque “era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentaludades”.

Eu sempre gostei de escrever cartas.

Resolvi muitas pendências com meu pai escrevendo cartas que mandava pro consultório dele.

Ainda na infância escrevi uma carta pro menino que eu gostava, anônima! pasme!, toda na canetinha hidrográfica, bem colorida, com a letra de ” É primavera” do Tim Maia.
O mais louco é que, décadas depois, ele me mostrou a cartinha, desbotada e amassada, que guardava na carteira, e me perguntou: Foi você?

Ahhhhhh, a vida é uma caixa de surpresas!

Me correspondi com amigos, namorados, fiz cartas pra redações de jornais, pra colunas de revistas e ainda adoro enviar cartões postais.

Infelizmente, quando casei, num ato da mulherzinha que era, decartei muitas lindas cartas.

Mas tenho as que vieram depois.
Cartas e cartões, bilhetes e que tais.
O famoso, desarrumado e intenso acervo do bem querer.

Nesse sábado lindo, em que me perdi em pensamentos e palavras, atos e omissões… Esse dia alheio e com vento soprando, música boa e tentando manter a esperança no porvir, e falando de cartas…

Álvaro de Campos, persona de Fernando Pessoa tem um texto bacana sobre as cartas de amor escrito em 1935.

“Todas as cartas de amor

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)”

“E vejo flores…” em vocês.

Cai a tarde.
E o que sei é que, por mais que eu me isole e não queira falar sobre, lá fora está punk.
Só depende de nós.
Fique em casa.
Se tiver que sair, saia de máscara.

Resistiremos.
Seguimos.