Já quase metade do outono, noites frias.
Observo a mudança de luz nos espaços da minha casa.
O que é lindo de perceber.
Os ciclos do universo e da natureza.

Capital Inicial embalou meu sono.

Acordada descobri esse presente de boa noite.
Que aqueceu meu coração e me fortalece a seguir.
Assim como as palavras da Cleide.
Obrigada linda, e a você, querida.

“Não fales as palavras dos homens.
Palavras com vida humana.
Que nascem, que crescem, que morrem.
Faze a tua palavra perfeita.
Dize somente palavras eternas.
Vive em todos os tempos
Pela tua voz.
Sê o que o ouvido nunca esquece.
Repete-te para sempre.
Em todos os corações.
Em todos os mundos.”
Cecília Meireles

Esse ar gelado da manhã não deixa eu me alimentar na varanda.
O queijo quente diário esfria e perde a delícia do esticar, enrolar e devorar.
Ahhhhhh, os hábitos.

Assim, volto a comer na bancada da sala, perto de onde está o rádio.
Ouço o jornal.
As manchetes tem efeito pior que esfriar o queijo.
Esfriam o coração.

Mas o prefeito respondeu minha pergunta.
Sim, o gerente do mercado, ontem, estava errado na interpretação do decreto.

Um amigo com suspeita de Covid 19.
Estamos na torcida pra que dê negativo.

Outro amigo conseguiu transferir o auxílio “emergencial” pra conta em outro banco, depois de uma semana no aplicativo.

E assim comecei a manhã dessa segunda-feira.

Fui caminhar pra esquentar.

Infodemia, palavra que conheci ontem, pelo Dr. Drauzio ou outro dos que estão no apoio científico das tvs.
A pandemia das fakenews.
A pior delas, com relação a pandemia mundial, é a sobre os EPIs chineses virem contaminados.
Haja desinformação.
Quantas sandices.
Sobre as fakes políticas, bahhhhhh .. nojo.

Sobre máscaras.
Hoje encontrei mais uma, e fotografei.
O que leva uma pessoa a descartar máscara em terreno público?
Acredito que a falta de educação é a vilã.

Enquanto isso, a fauna em festa.
Na escola Sardenberg, um casal de tucanos.
Na ilha de alta tensão, dois carcarás, o gavião brasileiro.
(Cantado pela Bethânia em seu single de lançamento, letra de João do Valle, uma música de protesto a ditadura de então.)

Coincidentemente, quando fotografei, um deles voou e o outro ficou pra se exibir.
As duas espécies!
Exibir-se não é só prerrogativa humana né?


Caminhei por 40 minutos.
Sempre com saudades de ir nadar, ahhhhhh, será que voltaremos mesmo na próxima semana?
Vou ter que aguardar até sábado pra confirmar.

Em casa.
Banho especial com bucha vegetal novinha e shower gel refrescante.
Presentes são presenças.

A mãezinha do querido Dimas Giudice fez a passagem.
Dona Ercília, minha primeira sogra do primeiro namorado, também.
Flávio Migliaccio, grande ator de humor e drama, e personagens inesquecíveis, decidiu e também partiu.
Atravessaram o portal na boa e musical companhia de Aldir Blanc.
Muita luz pra vocês.

Aldir Blanc, psiquiatra, jornalista, escritor, cronista e compositor de lindas letras que se tornaram hinos na voz de grandes intérpretes da MPB.

Euclides traduziu: João Bosco vai ficar triste mas Elis vai cantar lá no céu.

“Vou cantar nossas composições até quando puder porque uma pessoa só morre quando não há mais testemunhas”, declarou João Bosco.

A primeira música do Aldir Blanc que ouvi foi no show do Toquinho e Vinícius, no Paratodos, nos 70’s.

“Salve
Como é que vai?
Amigo, há quanto tempo
Um ano ou mais
Posso sentar um pouco?
Faça o favor
A vida é um dilema
Nem sempre vale a pena….”

E vieram muitas músicas mais.
Aliás, João do Valle, que citei lá em cima, foi parceiro do Aldir também.

Hoje fiz minha primeira compota de goiaba. É das lembranças gustativas mais antigas que tenho.
Na mesa dos bisavós, dos avós, da casa da minha família, os doces em calda sempre estiveram ao lado de um queijo curado.
Minha gratidão eterna por tantas delícias.

Lá fora.

Com mais de 100 milhares de infectados e mais de 7,2 mil mortes no país…

(e daí né?)
Em Brasília, ontem, o que se viu e ouviu é pura barbárie.
Com ameaças e apoios duvidosos, o projeto de tirano se supera a cada aparição pública.
Seus apoiadores gozam nas calcinhas. Os tais 30%, manada.
Os 70% restante, eu inclusive, ficamos passados, pasmos.

Perdigotos do eleito, agressão a jornalistas, manifestações anti-democráticas, o arbítrio e arrogância, o absoluto desrespeito a constituição, entre outros horrores ocorridos ontem e, impotente  como cidadã, não vou me calar.
Tem que acabar já, impeachment já, fim de jogo pra esse latão de lixo .

O cara é o resumo do pior que existe.
Hoje fez a posse do novo comando da Polícia Federal em cerimônia fechada.

As Forças Armadas afirmam que continuarão respeitando a constituição brasileira.

Vamos acompanhar.

“O Brazil não merece o Brasil
O Brazil tá matando o Brasil…
Do Brasil, S.O.S ao Brazil…”

Já com filtros nas minhas janelas…

Transcrevo abaixo a abertura de uma conferência de Contardo Calligaris sobre essa forma de escrita que venho desenvolvendo aqui.

“Verdades de Auto-biografias
e Diários Íntimos

Considerem estes dois parágrafos pelos quais eu poderia começar esta conferência:

a) diários íntimos e auto-biografias são escritos por motivos variados: respondem a necessidades de confissão, de justificação
ou de invenção de um novo sentido. Frequentemente, aliás, esses três aspectos se combinam;

b) várias vezes na minha vida fui tomado pelo impulso de começar um diário. E várias vezes comecei. Não tanto para marcar eventos memoráveis de meu cotidiano quanto por estar em alguma
encruzilhada, íntima ou não, em que me parecia necessário forçar-me a
confessar alguma verdade que, de outra forma, não ousaria dizer. Ou
então, precisava levar meus argumentos frente a um tribunal que me entendesse. Ou ainda, queria interpretar minha vida para lhe prometer um futuro ou dar sentido a um presente moroso.”

Confissão, justificação, impulso, meu cotidiano incrível, minhas encruzilhadas.
É bem isso.

“Eu hoje me embriagando
De whisky com guaraná
Ouvi tua voz sussurrando
São dois pra lá, dois pra cá.”

Então,
Seja bacana, seja cidadão.
Doe sangue.
Se tiver que sair, use máscara.
Se puder, fique em casa.

Caí a tarde sobre a cidade e
” …a esperança
Dança na corda bamba de sombrinha
E em cada passo dessa linha pode se machucar…”

Resistiremos.

Seguimos.