A lua cheia escandalosa de ontem foi um presentão.
Iluminou todo meu jardim e  quintal.
Fiquei curtindo até dar sono.
E foi um bom sono.
Acordei tarde, espreguiçando tranquila pra começar essa quinta-feira.

9 de abril.
Um lindo dia azul pra desejar muitas alegrias e bençãos pro meu amigo querido, Paulinho Martins.
Nós entramos no mesmo concurso da faculdade de medicina. 1993.
Nosso caminho se cruzou logo. Ele na portaria e eu no atendimento ao público no pronto socorro.
Logo mais Ana Maria, sua esposa há 25 anos, conquistou o coração do Espanha.
Sempre tivemos um relacionamento forte. Algumas briguinhas, claro, mas o amor sempre foi da melhor qualidade.
Porque amo, siiiiiiimmm!
Tenho muito orgulho dele.
Construiu uma carreira na instituição a base de muito esforço e estudo. Tornou-se meu chefe.
Juntos vivemos muitas perdas afetivas. Juntos vimos nossos filhos crescerem. Juntos enfrentamos a dor e a delícia de sermos quem somos e, ainda, de sermos servidores.
E juntos estamos e estaremos sempre.
Longe dos olhos mas sempre no coração.
Família fraterna, a que se conquista.
Vivaaaaassss pro Paulinho!

Daí que hoje eu saí de casa pela segunda vez na semana.
Fui brincar de coelho da Páscoa com a mamãe.
Levei um kit bacalhau.
Falamos com o Diego e conversamos um pouco.
Sempre é muito bom.

Fui fazer depilação.
Que alívio!
Seguimos as regras.
Foi muito rápido e bom.

Mais um colega do HC fez a passagem.
Santiago.
Uma pessoa que conheci adolescente – era um gatão que ouvia Triunvirat e Credence – e depois reencontrei no trabalho.
Que seja bem recebido no outro plano.

Nas ruas, supermercado e no ponto de ônibus, affffffff, muuuiiiitaaaassss pessoas.
Com máscara ou não, como se nada estivesse acontecendo.
O trânsito também estava intenso.
Parece que ninguém sabe que cada um pode contaminar mais 3 pessoas, pelo menos.

E as mortes e contaminados não param de aumentar em Botucatu.

Em 4 horas fora de casa não cruzei nenhuma viatura de nenhuma das polícias.
Feriado?

E não é só aqui.
É em todo o Brasil!
Será que é por conta da informação de que o pico da pandemia, que ocorreria essa semana, ocorrerá entre abril e maio?

Eu continuo com medo.

E o desapego continua.
Hoje foi um tanto de cimento e cal que doei pra obra do vizinho.
Mais um passo pra necessária arrumação no armário de ferramentas e que tais que habita minha lavanderia.

Na tarde.

Em Brasília outro juiz desfez o bloqueio dos fundos partidários e eleitoral.
Uma pena, mas a cara da famigerada lei eleitoral ainda vigente.

Nas agências da receita pelo país, filas enormes de pessoas querendo resolver CPFs cancelados.
O que poderia ser feito pela internet.
Tudo pelos R$600.
Só hoje mais de dois milhões e meio de pessoas receberam esse “auxílio emergencial”.

Marcão do Povo (?), jornalista (?) do SBT – cujo dono é judeu e mulher e filhas evangélicas – sugeriu que as forças armadas montassem um campo de concentração pros contaminados pelo Covid 19 , o que eliminaria a necessidade do governo federal socorrer financeiramente os Estados.
Foi suspenso por 15 dias.
Deveria ser preso.
BA-BA-CA!

Os números tristes não param de aumentar.
No Brasil são quase mil mortes e quase 18 mil infectados.
A Espanha está em primeiro lugar nessa tragédia mundial.

Pra dar um alento, compartilho  um trecho do livro “O amor nos tempos do Cólera”, de Gabriel Garcia Marquez, cuja leitura recomendo.
Esse trecho recebi da amiga Silvia Machado e cabe bem aqui.

“- Capitão, o menino está preocupado e muito inquieto devido à quarentena que o porto nos impôs!
– O que te inquieta, menino? Não tens comida suficiente?
Não dormes o suficiente?
– Não é isso, Capitão. É que não suporto não poder ir à terra e abraçar minha família.
– E se te deixassem sair do navio e estivesses contaminado, suportarias a culpa de infectar alguém que não tem condições de aguentar a doença?
– Não me perdoaria nunca, mas para mim inventaram essa peste.
– Pode ser, mas e se não foi inventada?
– Entendo o que queres dizer, mas me sinto privado da minha liberdade, Capitão, me privaram de algo.
– E tu te privas ainda mais de algo.
– Está de brincadeira, comigo?
– De forma alguma. Se te privas de algo sem responder de maneira adequada, terás perdido.
– Então quer dizer, segundo me dizes, que se me tiram algo, para vencer eu devo privar-me de mais alguma coisa por mim mesmo?
– Exatamente. Eu fiz quarentena há 7 anos atrás.
– E o que foi que tiveste de te privar?
– Eu tinha que esperar mais de 20 dias dentro do barco. Havia meses em que eu ansiava por chegar ao porto e desfrutar da primavera em terra. Houve uma epidemia. No Porto Abril nos proibiram de descer. Os primeiras dias foram duros. Me sentia como vocês. Logo comecei a confrontar aquelas imposições utilizando a lógica. Sabia que depois de 21 dias deste comportamento se cria um hábito, e em vez de me lamentar e criar hábitos desastrosos, comecei a comportar-me de maneira diferente de todos os demais. Comecei com o alimento. Me impus comer a metade do quanto comia habitualmente. Depois comecei a selecionar os alimentos de mais fácil digestão, para não sobrecarregar o corpo. Passei a me nutrir de alimentos que, por tradição histórica, haviam mantido o homem com saúde.
O passo seguinte foi unir a isso uma depuração de pensamentos pouco saudáveis e ter cada vez mais pensamentos elevados e nobres. Me impus ler ao menos uma página a cada dia de um argumento que não conhecia. Me impus fazer exercícios sobre a ponte do barco. Um velho hindu me havia dito anos antes, que o corpo se potencializava ao reter o alento. Me impus fazer profundas respirações completas a cada manhã. Creio que meus pulmões nunca haviam chegado a tamanha capacidade e força. A parte da tarde era a hora das orações, a hora de agradecer a uma entidade qualquer por não me haver dado, como destino, privações graves durante toda minha vida.
O hindu me havia aconselhado também a criar o hábito de imaginar a luz entrando em mim e me tornando mais forte. Podia funcionar também para as pessoas queridas que estavam distantes e, assim, integrei também esta prática na minha rotina diária dentro do barco.
Em vez de pensar em tudo que não podia fazer, pensava no que faria uma vez chegado à terra firme. Visualizava as cenas de cada dia, as vivia intensamente e gozava da espera. Tudo o que podemos obter em seguida não é interessante. Nunca. A espera serve para sublimar o desejo e torná-lo mais poderoso. Eu me privei de alimentos suculentos, de garrafas de rum e outras delícias. Me havia privado de jogar baralho, de dormir muito, de praticar o ócio, de pensar apenas no que me privaram.
– Como acabou, Capitão?
– Eu adquiri todos aqueles hábitos novos. Me deixaram baixar do barco muito tempo depois do previsto.
– Privaram vocês da primavera, então?
– Sim, naquele ano me privaram da primavera e de muitas coisas mais, mas eu, mesmo assim, floresci, levei a primavera dentro de mim, e ninguém nunca mais pode tirá-la de mim.”

Decidi fazer bacalhau amanhã.
E seguir o ritual dos anos anteriores.
Mesmo sem estar perto dos meus filhos, da minha família, minhas netas e amigos.
É semana santa e ponto.

Pessoas queridas, sejam fortaleza.
Vai passar sim.
E depois poderemos voltar a estar juntos pra comemorar a vida.
Seja cidadão.
Seja bacana.
Pense nos que estão lá fora por nós.

#fiqueemcasa

Seguimos.