Andrea Abri a janela.
Céu azul desmaiado.
Bons dias.
Café da manhã.
Quintal.

No rádio, assim como na tv, as repercussões das falas do eleito, acintosas, fortalecem a posição de pária mundial do Brasil.
Triste.
Saudades de ir pra São Paulo e visitar uma boa exposição, como a da Frida Khalo, no Tomi Otake, onde estive com a Silvia Avelar, há exatos 5 anos.

“O Homem precisa de algum conhecimento pra sobreviver, mas pra VIVER precisa da ARTE.”
Viviane Mosé

Rotinas, mochila, dia de ir visitar a mamãe.

Conversamos com o Lucas.
Muitos detalhes, ahhhh….vai ser lindo!
“Toda rua tem seu curso
Tem seu leito de água clara
Por onde passa a memória
Lembrando histórias de um tempo
Que não acaba.”
Torquato Neto

Na Ferrô.
Aumentei pra 1,5km e fiz o treino de crawl em 50 minutos.

Pensamentos.
Cardápio pra receber os sogros do Lucas, sopa de feijão pra receber o filhinho, comprar jogo de cama e banho, travesseiros, os docinhos, organizar a varanda, porta-retratos, terminar de ler Bouvard e Pécuchet, tomar um drink no Piritas hoje, fazer supermercado…

Saí correndo pra receber a cama em casa.
Fiquei exausta.
Faminta.
Tirei o largato na mostarda do congelador.

Ahhhhhhh, vida linda!

O Anjo Torto.

Nasceu em 9 de novembro de 1944, em Teresina.
Morreu em 10 de novembro de 1972, no Rio de Janeiro.

Torquato e Oiticica estão na minha vida graças as boas influências culturais que vieram de amigos especiais. A quem agradeço.

Fosse pela educação lassalista, teria ficado no Joaquim Manuel de Macedo, ou apenas no modernismo.

“Escrevo, leio, rasgo, toco fogo e vou ao cinema.”

Torquato Pereira de Araújo Neto.

“Cogito
eu sou como eu sou
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível
eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora
eu sou como eu sou
presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim
eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranqüilamente
todas as horas do fim.”

Poeta, jornalista, cineasta, ator, compositor e experimentador da contracultura.
Foi o criador da Geléia Geral, coluna no jornal Última Hora que ficou famosa por suas dissertações sobre poesia, cinema e música.

Foi amigo próximo dos Doces Bárbaros:  Caetano, Bethânia, Gal e Gilberto Gil.
Ele, também, um tropicalista.

Com Gil criou, em 1966, a música Louvação, cantada por Elis e Jair Rodrigues.

“… louvando o que bem merece
Deixo o que é ruim de lado…”

Uma outra parceria importante foi feita com Edu Lobo, com quem criou a música “Pra dizer adeus”.

“… vou pra não voltar
E pra onde for
Sei que irei sozinho…”

Com Caetano compôs Nenhuma dor.

Com Gil, além de Louvação, compôs
Geleia Geral, Minha Senhora e Zabelê.

“…Na geléia geral brasileira
Que o jornal do Brasil anuncia…”

Muito atual!

Com Carlos Pinto, Todo dia é dia D.

Outro clássico que compôs foi Go Back, gravada pelos Titãs.

Torquato e os amigos levaram a frente o projeto Tropicália, que foi revolucionário para a música popular brasileira.

A ditadura levou os amigos Caetano e Gil pro exílio.
Em 1968 Torquato decidiu sair do Brasil, viveu em Paris e Londres e voltou pra cá em 1972.

Sem sucesso em tratamentos para alcoolismo e depressão, suicidou-se um dia depois de completar 28 anos.

Trecho de Os últimos dias de Paupéria.

“Alô, idiotas!
Cordiais Saudações. Ligue o rádio, ponha discos, veja a paisagem, sinta o drama: você pode chamar isso tudo como bem quiser. Há muitos nomes à disposição de quem queira dar nomes ao fogo, no meio do redemoinho, entre os becos da tristíssima cidade, nos sons de um apartamento apertado no meio de apartamentos.

Você pode sofrer, mas não pode deixar de prestar atenção. Enquanto eu estiver atento, nada me acontecerá. Enquanto batiza a fogueira – tempo de espera? O mundo sempre gira e o fogo rende. O pior é esperar apenas. O lado de fora é frio. O lado de fora é fogo, igual ao lado de dentro. Estar bem vivo no meio das coisas é passar por referência, continuar passando….

Pessoal intransferível. Escute, meu chapa: um poeta não se faz com versos. É o risco, é estar sempre a perigo sem medo, é inventar o perigo e estar sempre recriando dificuldades pelo menos maiores, é destruir a linguagem e explodir com ela.
Nada no bolso ou nas mãos. Sabendo: perigoso, divino, maravilhoso. Almondegário.

Meu amigo preferido não me quer ferido pelo chão. Meu amigo mais incrível nunca foi possível em minha mão. Minha amiga mais maluca funde a cuca só pra dizer que não. Minha amiga mais bonita é meu irmão.
Marcha à revisão.
Quando eu a recito ou quando eu a escrevo, uma palavra – um mundo poluído explode comigo e logo os estilhaços desse corpo arrebentando, retalho em lascas de corte e fogo e morte como napalm espalham imprevisíveis significados ao redor de mim: informação. Informação: há palavras que estão nos dicionários e outras que não estão e outras que eu posso inventar, inverter. Todas juntas e à minha disposição, aparentemente limpas, estão imundas e transformaram-se, tanto tempo, num amontoado de ciladas.

Poesia. Acredite na poesia e viva. E viva ela. Morra por ela se você se liga, mas, por favor, não traia. O poeta que trai sua poesia é um infeliz completo e morto.
Resista criatura.”

Salve Torquato Neto!
Um talento brasileiro que não deve ser esquecido.

Na tv.
Mais um movimento do ioiô do desgoverno e seus comparsas.
A Anvisa autoriza a volta dos testes da vacina Coronavac.

O Brasil não é pros fracos!

Para reflexão.
“Primeiro passo é tomar conta do espaço…
Antes ocupe depois se vire.”
Torquato Neto

Resistir e insistir em resistir.

Seguimos.