Ahhhhhh que manhã linda e azul!
Fazer as rotinas, falar com a mamãe, com os irmãos, amigos. Muito bom.
Cuidar das plantas e ouvir o jornal no rádio.

Silvia Regina me trouxe uma deliciosa feira. Ela dividiu comigo, que dividi com vizinhos.
E assim, hoje todos nós tivemos salada orgânica e fresquinha.

Amigos são bençãos, mesmo!

Ontem Júlia e Leandro alegraram meu final de tarde com boa prosa e vários tim tins na varanda, a distância claro.
Dormi tranquila e feliz.

Mas a realidade lá fora não cansa de invadir minha casa.
E não dá mais pra calar.

Um ministro da saúde que diz, na primeira entrevista após uma semana, que o Brasil é  um dos países que melhor “performa” em relação ao Covid 19… ahhhhhh….que porra é essa?
E nada mais informou.
Só enrolou com teses e tals, palavras vazias sem informações ou atitudes reais.
Guardadas todas as restrições que muitos tem com o Luiz Henrique Mandetta, já deu saudades ou não?

As tristezas que vem de Manaus, de partir o coração!
Já se colocaram no lugar das famílias dessas pessoas enterradas em valas comuns ou as que estão usando saco plástico como respiradouro?
É real, não é fake news!!!

O eleito está louco pra desbancar os presidentes da câmara e  do senado federal, que não obedecem cegamente suas sandices.
Loteou o governo vergonhosamente, chamando condenados pra ocupar cargos em escalões inferiores.
O objetivo é voltar a ter alguns apoiadores e tentar se garantir contra um processo de impeachment que pode acontecer siiiiiiimmm!

Um dos membros de sua podre familícia fez uma live dizendo pro gado não usar máscaras, pois vieram da China e estão contaminadas.
Tão ignorante e manipulador, nojento!
E o gado muge e balança a cabeça em concordância e alegria.
Vergonhoso.

Com a abertura do inquérito sobre as manifestações anti-democráticas, agora é a vez do ministro da justiça perder força.
Assim como o da economia, que bateu de frente contra o tal plano pró Brasil.

A safadeza é geral.
O insano tem desejos de ditador, isso já é sabido há muito tempo.
“A caneta é minha. Quem manda sou eu.” E bate o pezinho e tira meleca do nariz.
Lixo.

Enquanto brincam de ” mãe da rua” , o SUS está em colapso em várias capitais do Brasil.
Também no interior dos estados a ocupação de leitos passa de 50% chegando até a 80%.

Aqui em Botucatu o prefeito e seu gabinete de prevenção, juntamente com as associações da classe empresarial, decreta uma abertura controladérrima pro dia 01/05.
Será em sistema drive thru e delivery e deve privilegiar os pequenos e não as redes.
E durará até 10/05.
O dia das mães é o “segundo Natal” dos comerciantes.

No dia do trabalhador muitos voltarão felizes a trabalhar.

Tudo muito correto, seguindo as regras e prevenindo contaminação.

Os números tristes não param de aumentar.
No mundo, no Brasil, em São Paulo e Botucatu.
E o percentual de isolamento social vem caindo, absurdamente.
Uma contradição preocupante.

A fila de espera dos testes acabou. Infelizmente, para mais de 1.300 famílias, nunca se saberá  o que causou a morte de seu familiar, Esses exames estavam sem condições de averiguação.

Brasil está dobrando mortes mais rápido que na Espanha.
Sem falar nas sub-notificações.
Muito medo, eu tenho.

Hoje é dia do livro.
No Instagram comecei a seguir o Poesia na pandemia, através da querida Virgínia Salomão.
E o primeiro vídeo que assisti traz o texto que compartilho abaixo.
O autor, Caio Fernando Abreu, que faleceu em 1996, fez a cabeça da minha geração.
Espero que gostem e sintam a mensagem de esperança.

“Vai Passar

Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está ai, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada “impulso vital”. Pois esse impulso às vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te supreenderás pensando algo como “estou contente outra vez”. Ou simplesmente “continuo”, porque já não temos mais idade para, dramaticamente, usarmos palavras grandiloqüentes como “sempre” ou “nunca”. Ninguém sabe como, mas aos poucos fomos aprendendo sobre a continuidade da vida, das pessoas e das coisas. Já não tentamos o suicidio nem cometemos gestos tresloucados. Alguns, sim – nós, não. Contidamente, continuamos. E substituimos expressões fatais como “não resistirei” por outras mais mansas, como “sei que vai passar”. Esse o nosso jeito de continuar, o mais eficiente e também o mais cômodo, porque não implica em decisões, apenas em paciência.
Claro que no começo não terás sono ou dormirás demais. Fumarás muito, também, e talvez até mesmo te permitas tomar alguns desses comprimidos para disfarçar a dor. Claro que no começo, pouco depois de acordar, olhando à tua volta a paisagem de todo dia, sentirás atravessada não sabes se na garganta ou no peito ou na mente – e não importa – essa coisa que chamarás com cuidado, de “uma ausência”. E haverá momentos em que esse osso duro se transformará numa espécie de coroa de arame farpado sobre tua cabeça, em garras, ratoeira e tenazes no teu coração. Atravessarás o dia fazendo coisas como tirar a poeira de livros antigos e velhos discos, como se não houvesse nada mais importante a fazer. E caminharás devagar pela casa, molhando as plantas e abrindo janelas para que sopre esse vento que deve levar embora memórias e cansaços.
Contarás nos dedos os dias que faltam para que termine o ano, não são muitos, pensarás com alívio. E morbidamente talvez enumeres todas as vezes que a loucura, a morte, a fome, a doença, a violência e o desespero roçaram teus ombros e os de teus amigos. Serão tantas que desistirás de contar. Então fingirás – aplicadamente, fingirás acreditar que no próximo ano tudo será diferente, que as coisas sempre se renovam. Embora saibas que há perdas realmente irreparáveis e que um braço amputado jamais se reconstituirá sozinho. Achando graça, pensarás com inveja na largatixa, regenerando sua própria cauda cortada. Mas no espelho cru, os teus olhos já não acham graça.
Tão longe ficou o tempo, esse, e pensarás, no tempo, naquele, e sentirás uma vontade absurda de tomar atitudes como voltar para a casa de teus avós ou teus pais ou tomar um trem para um lugar desconhecido ou telefonar para um número qualquer (e contar, contar, contar) ou escrever uma carta tão desesperada que alguém se compadeça de ti e corra a te socorrer com chás e bolos, ajeitando as cobertas à tua volta e limpando o suor frio de tua testa.
Já não é tempo de desesperos. Refreias quase seguro as vontades impossíveis. Depois repetes, muitas vezes, como quem masca, ruminas uma frase escrita faz algum tempo. Qualquer coisa assim:
– … mastiga a ameixa frouxa. Mastiga , mastiga, mastiga: inventa o gosto insípido na boca seca …”

Seja cidadão e tenha empatia.
Respeite os que estão trabalhando por nós.
Siga as regras de restrição social.
Vai passar.
O vírus homem e o vírus corona.

Seguimos.