“Eu vejo, deduzo, olho, falo e, assim, testemunho.”
Gomorra, de Roberto Saviano.

Acordei renovada.
Dia lindo e azul.
O calendário PL me deu o norte: Procure motivos para se alegrar.

Nem precisei ir longe.

Ontem fiz uma receita nova, pão de azeitonas. Minha primeira experiência com farinhas de linhaça dourada e de arroz, querida Sandra.
Com café puro e requeijão no pão, fui me preparando pro sábado.

Ouvindo jornal no rádio, cuidei dos canteiros e vasos.
O presente da manhã foi o botão de uma das orquídeas.

Animada, comecei a faxina semanal.

Enquanto isso, falei com meu irmão Erik, minha mãe e amigos do pra sempre, Fer e Silvinha.

Motivo maior pra eu me alegar?
Minha casa, meus amigos, minha família…

Antes do meio-dia já estava tudo limpo e toda a roupa lavada.

Hoje vou comer o bacalhau que fiz na sexta-feira santa.
Vocês tem noção da administração que, quem mora sozinha, tem que ter com relação a comida?
Mesmo eu levando pra mamãe, doando pra vizinhos, por menos que faça, sempre sobra.
É um processo bem intenso, acreditem!

Entre pinturas, leituras e música boa, na rede da varanda, o dia foi passando.

Confesso que algumas palavras, lembranças e, com elas, emoções, me fazem chorar.
Aquele chorinho manso, sem soluços.
Um choro de alegrias, de saudades, de sonhos com o porvir.

Porque estou diferente nesse viver diferente.
Minha percepção das coisas, meu fazer as rotinas, minha alimentação, minha observação, tudo está diferente sendo o igual de sempre.

Confuso?
Ok.
Modelo?
Ok.
Ser eu?
Ok.

Viver é essa caixinha de surpresas diárias.
E é tãotão booooommm!

Hoje é 25 de abril.
São 46 anos da Revolução dos Cravos, que acabou com o regime de exceção, iniciado por Salazar em 1933, e trouxe a democracia pra Portugal.
Sobre esse período, indico a leitura de três romances históricos que já comentei no meu canal no YouTube, A Leitura Liberta.
Equador e Rio das flores, de Miguel Souza Tavares, e A vida num sopro de José Rodrigues dos Santos, ambos autores portugueses contemporâneos que me foram indicados pela querida Lica Krug.

Portugal que aprendi a amar desde minha primeira vez, história viva, cultura viva.
Portugal onde já voltei outras vezes e pretendo voltar sempre.
Portugal, onde mora meu filho Diego já há quatro anos, onde ele é cidadão e ganha a vida e é feliz, apesar das saudades das filhas, da família.
Mas Portugal é sua terra agora. E ele já fala um bom português da terrinha.
A ilustração da coluna é um grafite que fotografei em Lagos, no Algarve, onde Diego mora.
A chapeuzinho vermelho já não é uma mulherzinha. A arma, pra mim, não significa a violência da luta armada e, sim, a luta feminista.

Deixo pra vocês a maravilha musical que Chico Buarque compôs, em 1975, em homenagem a revolução. Quem me presenteou com essa lindeza foi o querido Berto Rúbio, sempre atento, engajado e cidadão. Agradeço.

“Tanto mar

Sei que estás em festa, pá
Fico contente
E enquanto estou ausente
Guarda um cravo para mim

Eu queria estar na festa, pá
Com a tua gente
E colher pessoalmente
Uma flor do teu jardim

Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar

Lá faz primavera, pá
Cá estou doente
Manda urgentemente
Algum cheirinho de alecrim.”

Pessoas, como já disse Caetano Veloso, ” o melhor da vida é ser feliz”.

Tenho muita gratidão por tudo que vivi e vivo.
Por ter trabalhado e me aposentado.
Por não ter tido medo de me jogar na vida e me expor sem hipocrisia.

Sou uma pessoa como você, que me lê.

E minha frase definidora é do poeta espanhol Ortega y Gasset.
“Eu sou eu mais as minhas circunstâncias. E se não salvo a elas, não me salvo a mim.”

Também estou em restrição social.
Estou honrando os que estão lá fora, fazendo por nossos próximos, sem rosto e nome, que estão doentes.

Seja bacana.
Seja cidadão.
#fiqueemcasa
E, acredite, vai passar.

Seguimos.