O professor João Pessoa Araújo Junior, do Departamento de Ciências Químicas e Biológicas do Instituto de Biociências da Unesp de Botucatu (IBB), é membro da Rede CoronaÔmica que tem por uma de suas finalidades sequenciargenomas do Coronavírus e alertar sobre a circulação de variantes em todo o território nacional. Professor João está responsável por algumas cidades no interior do Estado de São Paulo. Entre elas São José dos Campos que recebeu um alerta da rede em relação às variantes encontradas.
 A Rede pertence ao Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação (MCTI) e faz parte da RedeVírus, que surgiu no início da pandemia como resultado de reuniões onde o MCTI convidou algumas sociedades científicas importantes da área, incluindo a Sociedade Brasileira de Virologia, para fazer parte da equipe de pesquisa sobre o vírus.
“Na época, eu era o tesoureiro da Sociedade Brasileira de Virologia e, junto com o professor Fernando Spilki, que era o presidente, começamos a organizar com outros membros da Sociedade o quanto os virologistas poderiam contribuir para ajudar a responder questões importantes dessa pandemia”, explica João.
O trabalho da Rede CoronaÔmica teve início quando o Instituto de Biotecnologia da Unesp de Botucatu, juntamente com o Laboratório Nacional de Computação Científica (RJ), a Universidade Feevale, de Novo Hamburgo, onde o Spilki atua, e a Universidade Federal de Minas Gerais, começaram a estudar quais seriam as melhores estratégias para sequenciar o coronavírus.
Para isso, avaliaram fornecedores de kits e estratégias diferentes de sequenciamento para ver o melhor custo benefício com foco em melhores resultados e chegaram a 2 fornecedores. Atualmente, estão finalizando a compra em um processo lento. Espera-se que grande parte dos insumos chegue em março para que os pesquisadores possam começar a fazer um número de amostras muito maior do que têm feito.

REDE PESQUISA NO BRASIL

Tanto João quanto Spilki já tinham familiaridade com o estudo de coronavírus, pois ambos são veterinários e reconheceram que o corona aviário, causador de bronquite infecciosa em aves, tem comportamento semelhante ao que temos hoje no coronavírus que atinge os humanos. São mutações, recombinações e escapes vacinais, comportamento comum de todos os vírus para terem vantagens evolutivas e manter a espécie.
João explica que a Rede CoronaÔmica não vai só estudar as sequências virais, mas também outros aspectos importantes de exoma ou transcriptoma dos pacientes envolvidos. Trata-se de uma rede ampla, com 10 laboratórios, financiados pela FINEP e CNPq e por outras instituições como FAPESP, FAPERJ, FAPEMIG, FAPERGS e Embraer, e que luta para conseguir mais investimentos.
“Em relação a São José dos Campos, sequenciamos amostras de setembro/agosto de 2020 e já obtivemos algumas sequências homogêneas dentre as variantes, mas ainda não tínhamos as sequências de agora. A partir do momento que pegamos amostras de janeiro de 2021 e, utilizando a sobra dos kits que testamos, avaliamos 6 amostras de São José dos Campos, sendo 3 variantes diferentes”, explica.
Entre as 3 variantes, a P1 é a que mais preocupa os pesquisadores. Trata-se da variante de Manaus, também conhecida como variante brasileira. O pesquisadorenfatiza que, se em um pequeno número de amostras já conseguiram identificar um terço dessa variante, é porque ela, efetivamente, está em vantagem evolutiva, ou seja, se transmitindo mais e substituindo os outros vírus.
“Quando se tem 2 vírus diferentes infectando uma população, o que tem uma vantagem em transmissão substitui o outro, é isso que estamos observando e nos preocupa. É um vírus com transmissão mais rápida e que deixa o paciente mais tempo transmitindo-o.  Ainda não está provado o quanto ele é virulento, mas quanto mais tempo fica em multiplicação no paciente, mais complicações temos”, salienta.

MUTAÇÕES

 Não somente essas mutações preocupam os cientistas, mas também as recombinações que ocorrerão, como aconteceu na Califórnia, onde dois vírus diferentes, no mesmo indivíduo, se recombinaram e geraram um vírus diferente.
 A rede CoronaÔmica foi criada justamente para monitorar esses comportamentos do vírus e desenvolver estratégias para minimizar a transmissão ou até mesmo avisar sobre a necessidade de desenvolver novas vacinas para os novos coronavírus.
“Temos uma ciência que, quando financiada, dá respostas. O Brasil teve muitos erros durante a pandemia, o que está nos custando vidas e muito dinheiro. Houve muitas estratégias erradas, mas, felizmente, algumas certas. Uma delas foi vinculada ao MCTI, de financiamento de projetos de pesquisa importantes dentro das áreas envolvendo vacinas, sequenciamento, patogenia e até avaliação de drogas, que, inclusive,  serviu para mostrar que as usadas aqui não eram efetivas. Nosso país tem algumas ilhas de financiamento que funcionam, como a Fapesp, mas precisamos de muito mais. Só com a ciência vamos sair da crise fortalecidos e mais rápido”, finaliza o pesquisador do IBB.

(da assessoria)