Moradora de Botucatu (SP), Aparecida Jesuina Panossi, de 68 anos, começou a realizar caminhadas com frequência depois que se aposentou, em 2009. “Naquela época, comecei a caminhar um pouquinho na minha própria cidade, em percursos de até três quilômetros”, lembra Jê, como ela gosta de ser chamada. “Mas aí fui aumentando as distâncias e ganhando resistência. Quando vi, estava completando 13 quilômetros por dia. E querendo fazer cada vez mais”.

Em 2010, Jê foi visitar uma amiga na Europa e resolveu percorrer parte do Caminho de Santiago. “Fiz 106 quilômetros”, conta ela. “Mas foi uma experiência difícil, pois eu ainda não tinha muito preparo. Levei minhas coisas em uma mochila escolar que me machucou a coluna e, em um dia de chuva, usei um saco de lixo para me proteger, pois não tinha capa”.

Mesmo com seu perfil de iniciante, a paulista conseguiu completar o trajeto e, depois da provação no Caminho de Santiago, não parou mais de encarar andanças de dezenas ou centenas de quilômetros em diversos lugares do Brasil e da Europa. Jê calcula já ter percorrido mais de 32.000 quilômetros em suas caminhadas. E, mesmo com quase 70 anos de idade, não cogita largar este tipo de atividade tão cedo.

Nos últimos anos, por exemplo, ela cobriu 280 quilômetros no Caminho dos Diamantes (em Minas Gerais), mais de 100 quilômetros no Caminho das Águas (em São Paulo) e 200 quilômetros no Vale Europeu (em Santa Catarina), além de ter realizado diversos itinerários a pé no interior da Itália e voltado ao Caminho de Santiago para completar um percurso de nada menos do que 800 quilômetros.

E também já fiz algumas montanhas. Já subi até o Pico da Bandeira e até o Pico dos Marins com meu filho”.

Para encarar estas rotas, que chegam a durar vários dias, Jê foi ficando cada vez mais preparada: comprou roupas, calçados e um mochilão desenhados especificamente para longas caminhadas, além de ter conhecido outros viajantes que gostam de realizar este mesmo tipo de atividade — e que a acompanham em vários de seus percursos. “Mas, se for o caso, não me importo de fazer a viagem sozinha”, conta, ressaltando que aprendeu a montar sua mochila só com itens essenciais (e que, hoje, raramente somam mais do que 5 quilos).

E diversas das rotas que ela visita são bem estruturadas, com locais de hospedagem e estabelecimentos de alimentação. Em trilhas no meio da natureza, porém, a paulista também acampa entre cenários naturais belíssimos.

Rotas desafiadoras

Muitas das rotas encaradas por Jê são, logicamente, desafiadoras, colocando a paulista de 68 anos em verdadeiras aventuras. Caminhada pelo interior da Itália Imagem: Arquivo pessoal Trajeto pelo Vale Europeu Imagem: Arquivo pessoal “Os caminhos em Minas Gerais, por exemplo, costumam ser bem difíceis, pois muitos passam pela região da Serra da Mantiqueira. É preciso subir algumas montanhas nos roteiros, em trechos que deixam a perna dolorida”, explica ela.

E, no interior do Brasil, também já tive que atravessar rios barrentos, andar 12 horas embaixo de chuva e fugir de bois bravos, passando por baixo de cercas e rasgando minha calça nestas fugas..

Já em sua segunda vez no Caminho de Santiago, a paulista começou a rota na França e, para entrar na Espanha, se viu obrigada a encarar a montanhosa região dos Pirineus, com subidas e descidas exaustivas. “Mas você vai olhando aquelas paisagens maravilhosas e acaba nem sentindo tanto”, diz. “Na montanha, quanto mais alto você vai, mais bonito é”. Ao subir o Pico dos Marins, Jê precisou da ajuda de seu filho, Giuliano, para atingir o topo.

Foi uma das caminhadas mais desafiadoras da minha vida. E nós acampamos lá em cima. Mas quase não consegui dormir, pois fez frio à noite e fiquei pensando na dificuldade da descida no outro dia. É um percurso com muitas fendas.

Outra rota que marcou a viajante foi realizada no Vale do Jiquiriçá, na Bahia. “É uma área muito bonita, cheia de pés de cacau. Um lugar lindo para andar”. Hoje, entretanto, Jê não está focada apenas em grandes caminhadas, que duram mais de um dia. Ela também curte frequentemente trajetos mais curtos, entre Botucatu e cidades vizinhas. Para a paulista, o importante é manter o corpo em constante movimento. “Se eu parar, acho que fico doente”, diz.

Fonte: Nossa.Uol