E o final de tarde de ontem foi cheio de surpresas.
Márcia me trouxe um doce bem tchuco, que devorei.
Gratidão, cunhada querida.

Júlia e Leandro sugeriram e  assistimos juntos a live do Lulu Santos.
Foi bom dimaaaaiiiissss, com projeção, luzes, cervejas e pizza.
Cantamos, dançamos, seguimos as regras do não contato, seguimos as regras de respeito aos vizinhos e nos divertimos muito.
Leandro dança bem, Júlia sabe todas as letras.
Valeu queridões!

Fez frio.
De dormir bem aninhada.
Acordei bem.

“Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia…”

Ainda na cama conversei com Lucas e Henrique. Sempre bom. É primavera na Irlanda e a quarentena está quase no fim.

Tudo azul e ainda frio.
Café da manhã, plantinhas, banho e parti pra casa da mamãe.

Ao chegar escorreguei no tapete e doeu.
Tombão.
Daqueles de bater o joelho e o braço. Abriu a frente da minha bota.
Tudo bem.

Não havia quase ninguém na rua.
Caixa Federal, Itaú e banco do Brasil praticamente vazios.
Santo domingo, Batman!
Sem as filas infames e humilhantes.

No mercado do meu bairro já usei máscara.
Hoje foi a vez de usar no Jaú.

Foi triste ver pessoas entrarem de máscara pra, já dentro da loja, baixarem pro queixo.
Questionado por uma cliente, o gerente disse nada poder fazer, só orientar e que o decreto municipal prevê essa atitude.
De que adianta, então, entrar mascarado e, já dentro, distribuir gotículas?
Não entendi e vou questionar.

Um homem quis saber o porque dele estar esperando a esposa lá fora e ter famílias fazendo compras.
Sai da antes de ouvir a resposta e ver alguma atitude.

Pertinente, as duas questões.

O que me fez pensar nas dificuldades de adaptação, de acreditar, de ter medo.
A mim, a de adaptação ao uso da máscara, é o que está pegando.
Mas acredito na malignidade da contaminação e tenho medo, sim, muito medo.

De volta a casa da mamãe e da Pretinha, duas belezinhas!, falamos por vídeo chamada com o Diego, na Lagos tãotão solar.
Ahhhhhh, filho, como estou feliz por você voltar a trabalhar amanhã.

O que me fortalece é a esperança de poder ir ao encontro dos meus filhos em breve.
É meu norte, minha alegria.
É o que me move nesses dias mais difíceis.

Voltando pra casa tive que fazer uma chatice. Que poderia ser desnecessária, inclusive.
Dar limites pra pessoas que amo e que, algumas vezes, extrapolam, invadem, cansam, empardam.
Preguiça.
Chato dimaaaaiiiissss.

Amizade requer sinceridade.
Pro bem ou pro mal.

O tombo foi o sinal que não percebi.
Resguarde-se.

Estou sem coragem de me atualizar sobre o mundo lá fora, as  tristezas da pandemia,o pandemônio do desgoverno.

Quero continuar alheia, mesmo sabendo que estão muito tristes os números no Brasil.

Não bastasse isso, também sei que o líder do desgoverno continua sua aventura anti-democrática.
Um projeto de tirano desrespeitoso e arrogante que envergonha nosso país mundo afora.

Cheguei em casa com a energia baixa, desgastada.
A falta de educação alheia não faz parte do meu show, mas gruda.

Fui pra rede ler um pouco e esperar o emocional acalmar.

Me alimentei e cantei pra subir, literalmente.

Uma das mudanças engraçadas atualmente, aos domingos.
Me alimento das sobras das comidas que preparei durante a semana.
Inversão de rotina.

Ouso pensar em como será depois.
Pode ser que eu sinta saudades desse tempo de ficar apenas comigo por dias.

Quando me conformo em resistir a abraçar e beijar minha mãe, encontrar meu sobrinho Davi, esse moço tãotão amado e especial, me fez chorar.
Emocionável demais, estou.
Porque dói muito a falta de fazer carinho.

“… tudo passa, tudo sempre passará..”

Mas vai passar.
Vai sim.
Agarraro-me a essa certeza, como me agarrei a vida toda a outras.
Umas, muitas, já não são mais nada.
Outras, poucas, se tornaram reais.

O fim da pandemia, da quarentena, sim, acredito nisso, espero por isso, quero isso.

“A vida segue em ondas como o mar, num indo e vindo infinito…”

Depois de tudo, vamos ver o que sobrou, juntar as forças e agir.

Resistência sempre.

Pra finalizar…

Poemas na quarentena (@poemanaquarentena) que sugiro visitar e seguir no Instagram, tem poesias de vanguarda e qualidade, narradas por artistas muuuuiiiitoooo bons.
Hoje, por sugestão de Virgínia e após assistir a performance, me encantei e compartilho com vocês um tanto de Adriana Azenha (@a.azenha).

“Em legítima defesa

Não tem nada de divertido aqui.
O exílio é chato.
Que castigo essa abstinência, esse exílio em mim mesma.
Essa falta de pinga e pimenta na minha mesa.
Essa falta de sangue quente e de pavio curto pra calar a boca de todo mundo.
Quantos bons modos em público.
Só eu ouço meus gritos ríspidos aqui no meu seguro cubículo.
Quero sair!
Já sei que bebi demais da fonte e que nem assim ela secou.
Ela está lá, mais abundante do que nunca.
Estou apertada pra fazer xixi e o toalete é logo ali.
Com licença, vou sair à francesa, quando notarem minha ausência, notarão também a diferença.
O ar mais leve.
O clima menos tenso.
O ambiente mais agradável.
Se eu quisesse ser singela, não faria cerimônia. Eu seria!
Se eu quisesse ser donzela, tarde demais… Já era!
Sou rasgada, cortada e costurada.
Sou do avesso. Por dentro a carne é mal passada.
Só quem tem canino pontudo rasga meu couro duro.
Quem tem?
Quem nasce pra cão de rinha não brinca de correr atrás de bolinha.
Sou boa de briga ,mas estou cansada, porque a briga aqui é comigo mesma.
Briga de cachorro grande. Vai ter morte.
Vai ter vítima.
Vítima?
E depois vem reclamar que está exilada na própria casca?
Saí daí logo, arrastando seu defunto em triunfo.
De novo?
Sim. De novo e sempre que  necessário.
Não há cárcere para quem mata ou morre em legítima defesa.
É prudente, as vezes, defender-se de si mesma.”
Do livro Descarte ( 2019).

E assim segue a tarde de domingo.
Aqui dentro um sentimento misturado.

“Tudo que se vê não é
igual ao que a gente viu a um segundo.
Tudo muda o tempo todo no mundo…”

Seja bacana, seja cidadão.
Proteja a si, ao próximo e ao distante.
Se tiver que sair, use máscara.
Se puder, fique em casa.

Seguimos.