Dezenas de Botucatuenses ligados aos sindicatos dos Metalúrgicos, Construção Civil, Servidores Municipais, Trabalhadores Rurais e Sintaema, estiveram em Brasília no ultimo dia 24 protestando contra as reformas da Previdência e da CLT e pelo impeachment do presidente interino Michel Temer, além de convocação de eleições diretas para presidente.
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EM 15 DIAS GREVE GERAL
OS BOTUCATUENSES
CARRO DE SOM
Depois de 14 horas de viagem a caravana dos Metalúrgicos, que foi acompanhada pelo Botucatuonline, chegou a Brasília, logo no amanhecer, enfrentando um longo congestionamento na área urbana da cidade, mas que pode ser verificado logo nas cidades satélites. O site Botucatuonline viajou a Brasilia à convite do Sindicato dos Metalúrgicos
Segundo a Policia Militar do Distrito Federal e Territórios, mais de 900 ônibus haviam entrado e estavam na área do Estádio Mane Garrinha. As avenidas perimetrais de Brasília ficaram congestionadas entre 11 e 13 horas. O congestionamento teve mais de 4 quilômetros.
Os sindicalistas se reuniram próximo à Torre de Tevê, durante toda a manhã, com trios elétricos que vieram de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Mato Grosso e Paraná.
Por volta das 9 horas o Senador Paulo Paim (PT-SP) esteve na área de concentração conversando com sindicalistas gaúchos e paulistas.
“Essa mobilização é muito importante e de fato nos ajuda a sensibilizar os deputados que ainda estão indecisos sobre o impeachment do presidente e pelo fim das reformas trabalhistas que vão prejudicar os trabalhadores”.
Também o deputado Paulinho da Força (Solidariedade) esteve no ato. Paulinho é fundador da Força Sindical. Apesar do caráter unificado do ato reunindo mais de 15 centrais sindicais nacionais de trabalhadores, Paulinho foi muito criticado pelos membros da CUT, CTB, MST, MTST e Conlutas, pelo apoio que havia dado ao impeachment de Dilma e seu envolvimento em casos de corrupção.
Os botucatuenses se dividiram de acordo com suas federações. Os metalúrgicos acompanharam o trio elétrico da Força Sindical e os trabalhadores da Construção Civil o caminhão de som da CUT.
Dirigentes da CUT, UGT, CTB e Força Sindical se provocaram durante todo o evento. Professores de Minas Gerais, ligados à CUT que levou mais de 100 caravanas para Brasília, dizia que o deputado Paulinho não tinha direito de estar presente ao ato por ter apoiado o golpista de Michel Temer.
Os carros de som das centrais sindicais levaram lideranças de todo o Brasil e em frente à esplanada dos Ministérios, teve a adesão de diversos deputados e senadores.
A passeata pela Via Eixo Monumental teve contribuição da Policia Militar do Distrito Federal. O acordo entre manifestantes e Secretaria de Segurança Publica do Distrito Federal foi com base no Protocolo Tático Integrado de Manifestações, com 110 cenários e especificações de como a PM deveria agir.
Apesar de toda manhã de atos por Brasília, terem sido pacificas, a não ser o grande congestionamento que chegou a impressionar os brasilienses, a partir das 14 horas ocorreu o primeiro confronto.
Um acordo entre os organizadores dos protestos e a PM de Brasília permitiu um bloqueio militar, onde os manifestantes, até aquele momento estimado em 30 mil pessoas (os números divulgados foram sempre divergentes), passaram por uma revista para identificar se não havia pessoas armadas. Os cabos plásticos de bandeiras das centrais sindicais foram abandonados, pois foram classificados pela PM como instrumento perigoso. Os organizadores falam em cerca de 200 mil pessoas, a policia entre 35 e 40 mil pessoas no ato.
Nesse momento, um grupo de jovens dos black blocs usando escudos feitos de chapas de madeira encararam a barreira policial e tentaram invadiram a área do congresso. Com a perda de controle sob o viaduto em frente ao Shopping de Brasília os militares se reagruparam e reagiram com o uso de armas não letais. Houve disparo de arma de fogo e uma pessoa ficou ferida.
Os policiais estavam com tropas de choque, cavalaria, carros de bombeiros para dispersão com água, helicópteros e inúmeras viaturas de uso em conflitos de rua.
Começou o ato no palanque unificado, com a presença dos lideres sindicais que receberam apoio de um grupo de parlamentares (deputados e senadores).
Os jovens anarquistas se posicionaram atrás do carro de som em determinado momento quebraram uma vidraça de um prédio, provocando a reação dos policiais. Os black blocs passaram a soltar rojões em direção à tropa que revidou com farta distribuição de bombas de efeito moral, gás lacrimogênio e gás pimenta.
Uma black bloc disse ao Botucatuonline que eles não se identificavam como provocadores da policia e sim ‘protetores’ dos manifestantes, “por isso sempre nos posicionamos na frente da policia, para reagirmos quando for necessário”, disse a manifestante que preferiu não declarar o nome.
Muitas pessoas ficaram feridas nos confrontos. Um jovem perdeu metade da mão direita ao tentar manusear um explosivo que detonou no momento em que o jovem pegou o artefato para jogar na cavalaria.
Até mesmo os deputados e senadores (Vanessa Graziotini, Paulo Paim, Gleici Hoffman, Randolfe Rodrigues, Alessandro Moron, entre outros) sentiram o gosto do gás pimenta. Policiais Militares passaram a disparar indiscriminadamente e atingiram no carro de som onde estavam os parlamentares, o olho de um sindicalista. Muitos deputados tiveram de sair do carro de som devido a problemas respiratórios.
“É um absurdo o que estamos vendo nesse dia. Um ato pacifico e necessário para o momento politico do Brasil ser atrapalhado por policiais que atacaram não só o trabalhador brasileiro, como os deputados e senadores que estão apoiando este momento” discursou a deputada Vanessa Graziotini.
A deputada também se dirigiu aos Black blocs pedindo para não usarem mascaras, conforme o acordo do protocolo de manifestações. “Companheiros mascarados, por favor, retirem suas mascaras. Aqui tem mães, trabalhadores honestos, nosso ato é pacifico e não cairemos em provocações”. A proibição do uso de mascaras é um dos ítens do protocolo de manifestações de Brasilia.
A reportagem presenciou diversas pessoas feridas como o rapaz que perdeu parte da mão direita ao tentar manusear um explosivo que não foi detonado.
Um senhor de idade teve um infarto, apos uma bomba de efeito moral e gás lacrimogênio terem explodido ao seu lado. Ele caiu e ficou se apoiando em uma árvore. Inicialmente ele disse que não precisava de ajuda, mas minutos depois, ainda prostrado no chão, não conseguia falar nem o próprio nome. O socorro foi acionado.
Depois do terceiro confronto entre manifestantes e policias helicópteros da Policia Militar passaram a jogar bombas de dispersão (lacrimogênio e de efeito moral), provocando inúmeros atendimentos médicos devido à dificuldade de respiração e até convulsões.
Vários policiais militares também ficaram feridos. A tática dos black bloco foi bem planejada. Eles utilizaram placas de madeira como escudo e pedaços de pau para enfrentamento com os policiais. Pelo menos dois policiais tiveram braços quebrados e outros levaram pancadas na cabeça.
EM 15 DIAS GREVE GERAL
Os discursos dos sindicalistas eram de vitoria! Disseram que após o sucesso da Greve Geral contra as reformas Trabalhistas e da Previdencia e o ato unificado de Fora Temer, passariam a organizar uma greve geral de 48 horas caso não seja votado o impeachment de Michel Temer e convocação de novas eleições.
Segundo os organizadores do ato, a greve geral vai ser organizada nos próximos 15 dias. “Não temos muito tempo, precisamos manter a mobilização e a greve geral, aliado a outras ações é uma proposta da classe trabalhadora contra esse governo usurpador”, defendeu o presidente da CUT, Vagner Freitas.
OS BOTUCATUENSES
O Sindicato dos Metalúrgicos e Construção Civil foram os que mais mobilizaram suas bases. Segundo o tesoureiro do Sindicato dos Metalúrgicos, José Carlos Lourenção a entidade mobilizou mais de 40 pessoas que foram em um ônibus.
“Mobilizamos a categoria em Botucatu, vieram trabalhadores de Avaré e Lençóis Paulista, onde temos nossa base sindical. Também levamos metalúrgicos que estavam de férias para o ato. Foi uma grande mobilização com certeza”, afirmou José Carlos Lourenção, que apesar da historia no sindicalismo, experimentou pela primeira vez o ‘gosto’ do gás lacrimogênio.
“Olha, foi a primeira vez que estive numa manifestação onde jogaram gás lacrimogênio. Não gostei disso, mas gostei muito da unidade dos trabalhadores contra as reformas, a destruição da CLT e a Justiça do Trabalho”, afirmou à Radio Clube FM.
Miguel Silva, presidente do sindicato também afirmou ter sido positiva a mobilização nacional. “Agora vamos reunir a diretoria do Sindicato e colocar aos nossos diretores e filiados a questão da nova greve geral. É mais dificil organizar uma greve de 48 horas, de dois dias, tem de ter uma grande estrutura, mas se for esse o encaminhamento faremos a greve”, advertiu.
Nenhum sindicalista de Botucatu teve ferimentos, a não ser o desconforto das armas não letais da PM de Brasilia. Um diretor do sindicato levou uma ‘cacetada’ de um PM no joelho, enquanto descansava em um banco de jardim, ao lado da esplanada dos ministérios. Não houve ferimento.
CARRO DE SOM
Houve muita dificuldade para os manifestantes em se comunicar com seus estados e cidades, devido a grande quantidade de pessoas usando celulares em Brasilia. Havia momentos em que os telefones funcionavam normalmente e em outros ficavam inabilitados. Isso dificultou a comunicação e muitas pessoas ficaram perdidas por horas.
Os botucatuenses também ajudaram na organização em Brasilia. Serafim Arruda, do Sindicatos dos Servidores Públicos, puxou palavras de ordem contra Temer, em cima de um carro de som do sindicato dos frentistas de Brasilia e o diretor do sindicato dos metalúrgicos Fabiano Roque, discursou defendendo a mobilização dos trabalhadores contra as reformas e pela eleição direta.
(IMAGENS FORTES)
MANIFESTANTE TEM PARTE DA MÃO ARRANCADA COM BOMBA
(Imagens Correio Braziliense)