Mestre em Teologia pela PUC-SP, o padre Nelson Brechó da Silva, vigário paroquial da igreja de Nossa Senhora de Fátima, de Botucatu, escreveu sobre a contemplação natalina em face do cenário pandêmico. Membro da Academia Botucatuense de Letras, o teólogo orienta os católicos sobre como celebrar o Natal em tempos tão difíceis de se relacionar, como durante a pandemia do novo coronavírus que mudou o comportamento dos fiéis.
Padre Nelson diz que “a experiência do nascimento do menino Jesus permite alargar os nossos horizontes acerca da presença de Deus na nossa história”. Porém, adverte: “Vivemos, atualmente, num cenário pandêmico, no qual somos convidados ao recolhimento em nossas casas, para que possamos vivenciar a chegada do menino, por meio da simplicidade de reunir poucas pessoas em vista da contemplação natalina”.
“O ato de contemplar possibilita saborear a entrada do Pai nesta nossa Casa, que se encontra deteriorada pela autossuficiência e pelo mau uso da tecnologia”, diz o padre numa referência à crise ecológica e à pandemia que afeta a humanidade.
“Nós, como pessoas, recebemos o desafio de ressignificar as nossas relações com a nossa Casa Comum (o mundo), com as pessoas ao nosso redor, com o nosso coração e, inclusive, com a maneira de testemunhar a nossa fé. Quando nós voltamos o olhar à nossa Casa, podemos silenciar no intuito de analisar cada objeto e situação desordenada. Nesse sentido, lançamos desafios, até mesmo, em espaços pequenos, no desejo de expressar os nossos sentimentos e pensamentos por atitudes solidárias que, paulatinamente, quebram as barreiras criadas pelo egoísmo. Com isso, mesmo no isolamento social, ganhamos a força e a coragem para ressignificar as experiências que, realmente, são relevantes ao sentido da nossa existência”, indica.

Linguagem virtual e comemoração diferente

Padre Nelson lembra que a comunicação digital nesta fase delicada pode ajudar na convivência fraterna. “Quanto à tecnologia, torna-se possível desenvolver a habilidade de notar que a pessoa do outro lado da tela é uma presença virtual que merece, de nossa parte, respeito e cuidado pela sua imagem.
Por essa razão, o tom da fala e a boa utilização da linguagem virtual podem cativar a pessoa e ajudar no exercício da autoestima, a fim de criar vários cenários dentro do próprio lar, de modo a estreitar ainda mais os corações mediante o uso da razão e da intuição nas pequenas coisas do dia a dia, que tornam os nossos laços afetivos marcados por gestos virtuosos e humanizadores”, ensina.
Para o teólogo “a forma de ver a humanidade sugere um novo passo a ser dado no desafio de superar o cenário pandêmico. Faz-se mister um humanismo ecológico em que leve em conta o ser humano como pessoa a cooperar com Deus na obra da criação.
Por isso, a corresponsabilidade é fundamental para que possamos cuidar da nossa Casa Comum. A visão humana unida intimamente com a ecologia pode dar um novo posicionamento, a fim de sanar as feridas com o remédio da caridade tão essencial no amadurecimento afetivo e mental, em virtude de se alegrar com o crescimento do próximo”.
A forma de ver a humanidade sugere um novo passo a ser dado no desafio de superar o cenário pandêmico, diz o sacerdote. “Faz-se mister um humanismo ecológico em que leve em conta o ser humano como pessoa a cooperar com Deus na obra da criação. Por isso, a corresponsabilidade é fundamental para que possamos cuidar da nossa Casa Comum. A visão humana unida intimamente com a ecologia pode dar um novo posicionamento, a fim de sanar as feridas”, filosofa.
Por fim o padre Nelson conclui que a comemoração do nascimento do menino Jesus neste ano pandêmico será de uma maneira diferente dos outros anos. “A contemplação da Palavra de Deus será de grande valor, especialmente do Evangelho de João 1,1-18, em que no versículo 14 aponta que a Palavra se fez carne. A expressão grega Logos significa a Palavra que, com tanto amor, vem ao mundo com um belo semblante carinhoso de uma criança. Contemplemos bem esta passagem bíblica, para que a nossa fé seja revestida pela doçura do sorriso do menino Jesus, que nos convida à oração e à prática do amor fraterno”, recomenda.

Gesiel Junior, especial para o Botucatu Online