Através do seu trabalho, Eliza Morenno resgata a cultura indígena. “É importante lembrar que a arte tem o poder de transformar tanto o artista quanto o seu público"| Fotos Divulgação

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por Luciana Faria

“O que podemos dizer da nossa gente através dos livros que lemos?”. Chega a ser inevitável não se lembrar das lendas e contos dos primeiros habitantes do Brasil na questão colocada pela poeta e atriz Eliza Morenno. Mas não só. Escritores clássicos da literatura nacional, cujas obras são constantemente relançadas, também não deixam de ter parte na formação da cultura e da própria sociedade em seu conjunto.

E é a união desses dois fatores de peso que abrem a programação do Viagem Literária em Botucatu nesta segunda-feira (22). A ação, parceria da Biblioteca Municipal Emílio Peduti com a Secretaria Estadual da Cultura, será inaugurada por um espetáculo composto por contos indígenas e outras lendas brasileiras.

Vale destacar ainda que as obras reunidas em “Aldeia de histórias” – como é denominado o trabalho da dupla carioca Eliza Morenno e João Pedro Fagerlande, do grupo Poesia Viral – são de livros de ninguém menos que Hernani Donatto e Clarice Lispector.

“Contos dos meninos índios”, do botucatuense Hernani Donato, resgata histórias indígenas e inspira o espetáculo “Aldeia de histórias”

Mais de três décadas depois do lançamento, “Contos dos meninos índios”, do escritor e historiador botucatuense Hernani Donatto, é um dos resgates dos poetas para inaugurar o Viagem Literária. A obra, composta por histórias que revelam a origem dos fenômenos da natureza e do comportamento humano, segue a mesma linha de “Como nasceram as estrelas”, de Clarice Lispector, publicada cinco anos depois e relançada em 2014 pela editora Rocco.

“’Aldeia de histórias’ deseja proporcionar trocas de saberes e difusão da tradição oral associada à literatura. Serão 60 minutos de histórias lúdicas e interativas”, adianta Eliza. As apresentações acontecem às 9h e às 14h na biblioteca, no Espaço Cultural (Av. Dom Lúcio, 497), com entrada franca.

Quem for também terá a oportunidade de ver de perto peças de artesanato e fotografias indígenas, registros históricos que serão exibidos graças à parceria do Poesia Viral com o Museu do Índio do Rio de Janeiro.

PROGRAMA VOLTA A BOTUCATU DEPOIS DE 7 ANOS

Do Rio de Janeiro, a dupla Poesia Viral promove o incentivo à leitura através das artes integradas com performances, teatro e audiovisual |Fotos Divulgação

Fundado há seis anos e com passagem por diversos estados brasileiros, o grupo Poesia Viral vem a Botucatu pela primeira vez, em uma apresentação que marca também a estreia no Viagem Literária. “Estamos encantados com a possibilidade de passar por tantas bibliotecas e de fazer este intercâmbio com o interior de São Paulo. É de fato um projeto incrível e muito organizado”, elogia Eliza Morenno.

Ela ainda destaca a semelhança entre a missão do programa estadual e do trabalho que realiza com o poeta, ator e gestor cultural João Pedro Fagerlande, no sentido de incentivar e promover a leitura, o que ela reforça ser um instrumento de transformação social.

“Acreditamos que uma pessoa quando é capaz de se expressar artisticamente (e todos somos) acaba por se conhecer melhor através de sua expressão. E quem se conhece bem acaba por conhecer seus desejos e tornar-se um ser social mais feliz e engajado. É importante lembrar que a arte tem o poder de transformar tanto o artista quanto o seu público”, argumenta a poeta.

“Imagine quantas pessoas não traçaram novos rumos a partir da leitura de um bom livro? A literatura registra e muitas vezes funda o imaginário cultural de uma nação. O que podemos dizer da nossa gente através dos livros que lemos? Cada leitor certamente terá uma resposta”, completa.

O Viagem Literária esse ano vai atender 85 municípios paulistas, que receberão grupos e escritores para encontros e oficinais gratuitas especialmente nas bibliotecas.

Essa é a décima edição do programa, mas Botucatu há sete anos não era contemplada com a iniciativa, que demanda inscrições dos municípios para funcionar em cada cidade. O mérito do retorno é da bibliotecária Lis Ravanini, que vê na iniciativa importância para aumentar a visibilidade da biblioteca municipal.

“O Viagem Literária contempla algumas cidades do interior, então é muito bacana que Botucatu seja uma delas, que esteja nesse nível e tenha conseguido, e pretendemos mantê-lo e fazer parcerias”, adianta Lis, que completa que eventos como esse promovem o intercâmbio entre pessoas da área. “É um grande evento de incentivo à leitura, à cultura e tem muita acessibilidade porque é gratuito. É fantástico, vem atrações de muita qualidade”.

BRASIL-JAPÃO: LÚCIA HIRATSUKA É ESCRITORA CONFIRMADA

O Viagem Literária promove atividades em Botucatu até o segundo semestre. Mais uma grande atração já confirmada é a vinda da escritora e ilustradora Lúcia Hiratsuka, que participa de um bate-papo na biblioteca no dia 5 de junho, às 14h.

A autora natural de Duartina, cidade a cerca de 145 km de Botucatu, vem ao município para contar sua experiência no resgate de contos japoneses na literatura infantojuvenil, onde ela atua há mais de 25 anos.

Lúcia Hiratsuka entrou no ano passado com o livro “Orie” na Lista de Honra do IBBY, órgão internacional direcionado à literatura de jovens. A obra ainda foi finalista do Prêmio Jabuti – que a escritora arrematou em 2005 -, vencedora do Prêmio Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) de 2015 e selecionada para o catálogo White Ravens da biblioteca de Munique.

Luciana Faria |
É jornalista e atuou em Botucatu na editoria de cultura do jornal Diário da Serra.
Trabalhou na assessoria de imprensa de órgãos culturais, como Mauricio de Sousa Produções, e editoras Escala e Nova Criação.